São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2001

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Jogadores evitam cometer faltas e deixam Uruguai criar jogadas

Seleção ignora cartilha do novo técnico e fica "dócil"

DA REPORTAGEM LOCAL

E DO ENVIADO A MONTEVIDÉU

A seleção brasileira não realizou o que prega a cartilha de seu novo treinador e colheu ontem mais uma derrota nas eliminatórias sul-americanas para a Copa-2002.
Contra um adversário com quem travou alguns dos duelos mais violentos da sua história, o time nacional, principalmente no primeiro tempo, quando teve atuação pífia, não adotou a estratégia de Luiz Felipe Scolari de parar o jogo com faltas no meio-campo e saiu derrotado por 1 a 0.
Segundo o Datafolha, o Brasil cometeu 19 faltas. Além de baixo para os padrões dos clubes que Scolari já dirigiu, esse número é inferior à média da seleção nas eliminatórias com Wanderley Luxemburgo -21,6 por jogo.
Quando se verifica a violência brasileira em cada jogo do qualificatório sul-americano, fica mais claro o quanto o Brasil precisa hoje parar os adversários com faltas para ter sucesso.
Nas seis vezes em que venceu na competição, a média de infrações brasileiras alcançou a marca de 23,2 por jogo. Nas sete oportunidades em que terminou sem a vitória, a média de faltas não passou de 16,8 por encontro disputado.
Para Scolari, o receio dos jogadores brasileiros em cometer faltas foi a chave da derrota.
"Temos que parar as jogadas do adversário. Quando dizemos isso, falam que mandamos bater, mas não é assim. Isso é uma técnica de jogo. Temos que aprender para o futuro algumas coisas que nossos adversários já sabem fazer melhor", declarou Scolari.
Em toda a primeira etapa da partida de ontem, o Brasil cometeu apenas oito faltas e deixou os uruguaios com a bola no pé na maior parte do tempo.
O primeiro gol dos donos da casa mostrou bem que a seleção não seguiu a cartilha de Scolari.
Por quase todo o campo de ataque da sua equipe, o meia-atacante Recoba conduziu a bola sem ser parado pelos volantes e pelos zagueiros brasileiros.
Só quando se preparava para chutar, dentro da área, o uruguaio foi derrubado por Cafu.
Sem hesitar, o juiz escocês Hugh Dallas marcou a penalidade, que foi cobrada com categoria pelo atacante Magallanes, aos 34min.
Na comemoração, o jogador mostrou uma camiseta em homenagem ao companheiro Nicolás Oliveira, que, depois de sofrer duas convulsões e um desmaio nos treinamentos, não teve como participar da partida de ontem.
"Temos receio, e o receio faz com que você se exponha ao erro. Cercamos demais o adversário, até dentro da nossa área", lamentou o treinador sobre o lance do pênalti que decidiu o jogo.
Além de deixar o adversário jogar, o Brasil não tinha competência para finalizar. Até o momento do gol uruguaio, a equipe do capitão Romário, que teve atuação apagada, tinha finalizado apenas duas vezes -ambas sem perigo para o gol de Carini.
Na etapa final da partida, o Brasil fez mais faltas -11- e teve uma atuação melhor.
Com a entrada de Euller no lugar de Élber, o time se movimentou mais, criou mais, mas pecou nas finalizações. Segundo o Datafolha, das 18 conclusões da equipe, apenas cinco tiveram a direção certa, o que significa um aproveitamento de 28%. Com Wanderley Luxemburgo, o time acertava 38,4% de suas conclusões.
Com 15 minutos para o final do jogo, Scolari partiu para uma mudança radical.
No desespero, o treinador, que gritava muito na beira do campo, vestido com agasalho, colocou o atacante Jardel, seu jogador no Grêmio, e sacou Antônio Carlos. Sem entrosamento algum com Romário, Jardel praticamente não tocou na bola.
Para tentar evitar o jogo aéreo brasileiro, Victor Púa, técnico do Uruguai, sacou seus jogadores mais ofensivos.
No final, a partida se tornou emocionante. Em uma cobrança de falta, o lateral Guigou acertou a bola na trave. Em um chute de fora da área de Rivaldo, Carini defendeu com dificuldades. Os brasileiros reclamaram que o goleiro caiu com a bola dentro do gol após a defesa. Nos acréscimos, na entrada da pequena área, Euller perdeu a última chance.


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