São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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"Despreparado", Parreira sofre sua pior derrota e deixa cargo

Técnico diz que não esperava perder nas quartas-de-final e assume responsabilidade por resultado

Direção da CBF considera que faltava comando ao treinador, visto com desconfiança também por parte dos jogadores


DOS ENVIADOS A FRANKFURT

O ar abatido de Carlos Alberto Parreira, 63, entregava. "Não estava preparado para este momento", disse após a eliminação para os franceses. Em sua quinta Copa, o homem que levou o Brasil a seu quarto título Mundial em 1994 sofreu sua pior derrota ontem e não continuará no comando da seleção.
A decisão já havia sido tomada por ele antes mesmo de ir à Alemanha. Em entrevista à Folha neste ano, ele colocara o triunfo como condição fundamental para seguir no cargo. "Nunca vi alguém não ganhar uma Copa e continuar".
Mas, antes mesmo da derrota para a França, cartolas próximos à CBF diziam que Ricardo Teixeira não daria brecha para Parreira seguir na seleção. Por respeito, o presidente da CBF vai esperar o técnico divulgar que tem outros planos.
Será a terceira vez que ele deixará a seleção. Na primeira, em 1983, saiu pela porta de trás após um trabalho decepcionante. A segunda, foi pela frente, ao ganhar o tetra em 94.
Ontem ele não quis anunciar seu futuro. "Não tenho essa preocupação, se vou continuar, se não vou. Falei que definiria depois da Copa. Estou sem cabeça para pensar nisso", falou o técnico, que regressará ao país hoje ou amanhã. E assumiu a responsabilidade pelo fracasso.
"No Brasil, isso é comum. Quando se ganha a Copa, foi o talento dos jogadores. Quando se perde, a culpa é do treinador. O roteiro já estava preparado, e está sendo confirmado."
"É um momento muito difícil, duro, quando a seleção é eliminada nas quartas-de-final, para o qual eu não me preparei e ninguém da delegação estava preparado", comentou.
A cúpula da entidade não estava satisfeita com o modo como ele vinha conduzindo a equipe. A principal crítica é que faltava comando. Os cartolas acreditam que ele se preocupa apenas com a parte técnica e tática do time, não se envolvendo com outros problemas, como os de relacionamento.
Parreira, na visão de cartolas, demorou para mexer na estrutura da equipe e apostou em atletas que não vinham rendendo em campo, como os laterais Cafu e Roberto Carlos.
O fato de não divulgar a escalação do time irritou os jogadores, que ficaram sabendo a formação pouco antes do jogo. Depois, o treinador mudou de estratégia. Passou a contar para seus comandados a equipe titular na véspera das partidas.
Alguns jogadores, mesmo sem reclamar diretamente com Parreira, irritaram-se com o fato de ele demorar a fazer mudanças. O treinador também é visto por parte dos atletas como um técnico de pouco diálogo. Queriam ouvi-lo mais.
Antes do duelo com a França, por exemplo, ele não explicou os motivos das entradas de Juninho e Gilberto Silva.
O treinador admitiu que faltou "alguma coisa", chegou a citar o preparo físico, mas agradeceu o "empenho" do elenco.
Parreira tem várias propostas de trabalho no Brasil e no exterior. Disse que lhe ofereceram cargos de técnico, manager e de consultor técnico. Mas ele ainda não decidiu o que fará e afirmou que terá tempo para analisar um novo projeto.
Parreira disse na entrevista coletiva em Frankfurt que é hora de "pensar no futuro." No da seleção, sem ele.0 (EDUARDO ARRUDA, FÁBIO VICTOR, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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