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Antes passiva, torcida agora xinga
No último jogo da Copa, torcedores falam palavrões contra Zidane, no início, e contra Parreira e os jogadores, depois
Depois da derrota, grupo de torcedores, alguns deles com notas, acusa atletas da seleção de "mercenários" na saída do ônibus do estádio
DOS ENVIADOS A FRANKFURT
Um palavrão poderia contar
a história do novo naufrágio
brasileiro contra a França.
O jogo mal começara no Estádio de Frankfurt, quando a
torcida brasileira nas arquibancadas passou a gritar: "Ei, Zidane, vai tomar no c...".
Provocou errado. Zidane,
que começou a Copa jogando
mal e prometeu pendurar as
chuteiras ao final da competição, foi mais uma vez o maestro
francês. Além do passe para o
gol de Henry, deu um lindo
chapéu em Ronaldo, outro em
Gilberto Silva, toques de efeito,
passes açucarados.
O mesmo palavrão dirigido a
Zidane foi gritado pela torcida
contra o técnico Carlos Alberto
Parreira, pela demora para
atender aos pedidos para colocar Robinho, recuperado de lesão, no time. Os pedidos começaram logo no início do segundo tempo, mas o atacante entrou faltando somente 11 minutos para a partida acabar.
"Ei, Parreira, vai tomar no
c...", ecoou o grito das arquibancadas. O treinador o ignorou por mais de 20 minutos.
Os insultos ao técnico e ao
dono do jogo revelaram um
comportamento até então inédito dos torcedores brasileiros
nos estádios alemães. Nos três
jogos da primeira fase e nas oitavas-de-final, contra Gana,
apesar do fraco futebol apresentado pelo Brasil, a porção
verde-e-amarela das arquibancadas se furtou de críticas contra a seleção. Ao contrário, esteve sempre ao lado do time,
embora normalmente com volume e energia abaixo dos torcedores do país adversário.
Ontem, a apatia do time, aliada à melhor atuação da França,
mudou esse estado de coisas, e
não somente pelos xingamentos a Parreira. Sobrou também
para o capitão Cafu. Por seu desempenho fraco, teve sua saída
pedida -foi gritado o nome de
Cicinho. Em resposta, outro
grupo gritou o nome do titular.
Sobrou ainda para Kaká, vaiado
ao ser substituído por Robinho.
Pela primeira vez, a torcida
brasileira, em ligeira maioria
no estádio, torceu como uma
torcida de clube, como costumam ser as platéias dos oponentes nesta Copa do Mundo.
Ao perceber o time sem sangue
em campo, já no primeiro tempo, passou a pedir "raça, raça".
Quando o ônibus do Brasil
deixava o estádio, os torcedores
mantiveram a verve: "Mercenários, mercenários", gritaram,
alguns deles com notas na mão.
A porção azul, que começara
mais quieta, terminou aos pulos, cantando: "Tire os pés do
chão quem é francês".
(EDUARDO ARRUDA, FÁBIO VICTOR, PAULO COBOS,
RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)
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