São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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FUTEBOL

Muitos e bons

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

"Que maravilhoso país o nosso onde se pode contratar 40 músicos para tocar um uníssono", disse certa vez o genial jazzista norte-americano Miles Davis -e a frase foi citada por Caetano Veloso na contracapa de seu primeiro disco solo.
Que maravilhoso país o nosso, poderíamos repetir no contexto do futebol, onde é possível reunir quantidade tão impressionante de craques de bola.
O show apresentado por Giovanni na Vila Belmiro foi mais uma demonstração de que há tantos e tão bons jogadores nascidos do Brasil que chegamos a esquecer de muitos deles, quando vão encantar platéias de países menos tradicionais e menos focados pela mídia -caso da Grécia, onde o craque santista atuava.
O mesmo encantamento tem causado Amoroso, repatriado pelo São Paulo para sanar a perda de Grafite na Libertadores -o que fez maravilhosamente bem. A volta desses veteranos é o que está ao alcance da maioria dos clubes brasileiros, que têm revelado novos talentos, mas não conseguem resistir às propostas do exterior para levá-los.
Giovanni, comentava comigo o jornalista Rodrigo Bueno, parece ter nascido na década errada. Ele pertence a uma categoria de jogador que víamos com mais freqüência no passado, lá pelos anos 60/70, antes de o futebol tornar-se um esporte em que a transpiração passou a ser exigência básica.
Seu ritmo pode parecer, de fato, lento para os padrões atuais, mas, de maneira semelhante ao que ocorre com o excepcional Zidane, é compensado pela destreza com que trata a pelota e por uma grande capacidade de ver o jogo.
É realmente uma pena que não possamos ver por mais tempo um Santos com Robinho e Giovanni.

 

O tal do drible da foca, do esperto Kerlon, moleque que trata a bola à la Maradona, faz pensar o que ainda está por se inventar no futebol. O ardil de levantar a bola e conduzi-la em embaixadinhas de cabeça na direção do gol é, sem dúvida, um achado. Enriquece o repertório do mais popular esporte do planeta.
Eu sou totalmente a favor, mas não deixo de achar que tem um lado estranho na parada, porque parece coisa de pelada ou de bate-bola, não de futebol "para valer". Outros poderão desenvolver a mesma técnica, e passaríamos a ter essa jogada incorporada ao esporte bretão. Assim caminha a humanidade. No início do futebol, não havia bicicleta.
O próximo passo é saber como os defensores poderiam cortar a jogada. Creio que daria para entrar de ombro, por exemplo, e forçar a "foca" a perder o controle, sem fazer falta.
É, no entanto, no campo tático que outras ousadias ainda estão por surgir. Os técnicos de futebol, ao contrário dos de basquete e futebol americano, usam pouco jogadas realmente estudadas, como acontece algumas vezes em cobranças de faltas. A última vez que vimos realmente coisas novas acontecendo em campo foi com a Holanda do genial Rinus Michels.

E a reação?
O São Paulo tenta, mas não consegue engrenar a recuperação no Brasileiro. É claro que, após a conquista tão espetacular na Libertadores, é natural a demora para retomar o ritmo. Mas está demorando demais.

Bom para o Timão
O Corinthians se deu mal no domingo, mas tem nas duas próximas rodadas, em que joga em casa, uma ótima chance de assumir a liderança do campeonato -algo que o Internacional só faz desperdiçar.

Até que enfim!
O Flamengo fez uma partida capaz de agradar à sua torcida e à crítica. Nada de espetacular, mas a vitória sobre o Botafogo foi incontestável e pode dar novo ânimo ao Rubro-Negro.

E-mail: mag-machado@uol.com.br

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