São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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AÇÃO

Brasil abaixo de zero

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Há pouco mais de dez anos a simples menção da frase "Campeonato Brasileiro de snowboard" serviria para levantar sobrancelhas -mais ou menos como falar da marinha boliviana (que, aliás, existe e se exercita em Miami). Afinal, pouca coisa pode ser mais distante de nossa realidade do que temperaturas polares e montanhas nevadas.
Mas, graças à iniciativa de um grupo de praticantes cariocas e paulistas -que há uma década decidiu que a idéia de criar uma disputa entre brazucas talvez não fosse assim tão bizarra-, teve início ontem, em Valle Nevado, Chile, a décima edição da campanha verde-amarela. Até sábado, dia 4, a estação chilena será praticamente território brasileiro e palco de duelos de alto nível técnico entre atletas nacionais.
Se no início a bagunça tinha mais conotação de festa do que de disputa, hoje já não é mais assim: profissionais do mundo inteiro aportam em Valle Nevado para a semana brasileira de snowboard na tentativa de somar pontos para o ranking mundial. O evento se organizou de tal forma que seria impossível que a FIS (Federação Internacional de Esqui) não o encampasse. Neste ano, o Canadá mandará força máxima. Ao lado de Japão, EUA, Chile, Alemanha, Suíça e de outros países craques na neve, os canadenses competirão com nossos atletas em provas de boardercross, slalom e big air. Ao todo, serão 60 brasileiros em busca de pontos para o ranking mundial e do título nacional de 2004. Em 2003, éramos 30; em 94, no campeonato inaugural, 25.
A carioca Isabel Clark talvez seja nossa grande esperança no esporte: em Valle Nevado, ela está atrás de seu décimo título (desde a primeira edição ela não deixa de vencer pelo menos uma modalidade). Recentemente Isabel ficou entre as 22 melhores praticantes de snowboard do mundo -colocação que pode não dar a ela fama internacional, mas que indica como evoluímos.
Em 2003, nessas mesmas pistas chilenas, a carioca faturou a Copa Continental de Boardercross, uma das provas mais arrojadas do snowboard, na qual quatro atletas descem simultaneamente uma pista com obstáculos.
Na ocasião, Isabel deixou na poeira uma espanhola, uma belga e uma canadense. Para sacramentar a evolução brasileira em esportes de neve, Ricardo Moruzzi, também em Valle Nevado no ano passado, faturou o slalom paralelo gigante -prova na qual dois rivais descem ao mesmo tempo em pistas paralelas-, superando um canadense, um chileno e um austríaco -conquistas inéditas e improváveis para o país da praia e das altas temperaturas. Nesta semana, Ricardo e Isabel estão no Chile em busca do bi.
Nem seria preciso dizer que o evento é uma excelente chance para que a Confederação Brasileira de Desportos na Neve avance em sua empreitada de colocar definitivamente o Brasil no cenário mundial. E o celeiro ideal para que se encontrem novos talentos do snowboard. Cá entre nós, não existe muito segredo: com campeonatos sérios e bem organizados, talentos, cedo ou tarde, aparecem. Mesmo que seja na neve.

Sem descanso
Durante os Jogos, esta coluna faturou prêmio da Assembléia Legislativa de SP a skatistas e empresários do esporte por ocasião do Dia do Skate. A coluna Ação e a Folha levaram o caneco na categoria Jornal.

O maior do mundo
O Brasileiro de kitesurf começa no sábado em Vitória (ES). Com quatro etapas e premiações de R$ 80 mil (o dobro do valor de 2003), o circuito brasileiro é hoje o maior circuito nacional do mundo.

Pranchões
O Internacional de Longboard, nos dias 4 e 5, em Porto de Galinhas (PE), dará R$ 30 mil em prêmios, e o vencedor terá direito a 2.500 pontos para o ranking que definirá o campeão nacional.

E-mail sarli@trip.com.br


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