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AÇÃO
Brasil abaixo de zero
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Há pouco mais de dez anos
a simples menção da frase
"Campeonato Brasileiro de snowboard" serviria para levantar sobrancelhas -mais ou menos como falar da marinha boliviana
(que, aliás, existe e se exercita em
Miami). Afinal, pouca coisa pode
ser mais distante de nossa realidade do que temperaturas polares e montanhas nevadas.
Mas, graças à iniciativa de um
grupo de praticantes cariocas e
paulistas -que há uma década
decidiu que a idéia de criar uma
disputa entre brazucas talvez não
fosse assim tão bizarra-, teve
início ontem, em Valle Nevado,
Chile, a décima edição da campanha verde-amarela. Até sábado,
dia 4, a estação chilena será praticamente território brasileiro e
palco de duelos de alto nível técnico entre atletas nacionais.
Se no início a bagunça tinha
mais conotação de festa do que de
disputa, hoje já não é mais assim:
profissionais do mundo inteiro
aportam em Valle Nevado para a
semana brasileira de snowboard
na tentativa de somar pontos para o ranking mundial. O evento se
organizou de tal forma que seria
impossível que a FIS (Federação
Internacional de Esqui) não o encampasse. Neste ano, o Canadá
mandará força máxima. Ao lado
de Japão, EUA, Chile, Alemanha,
Suíça e de outros países craques
na neve, os canadenses competirão com nossos atletas em provas
de boardercross, slalom e big air.
Ao todo, serão 60 brasileiros em
busca de pontos para o ranking
mundial e do título nacional de
2004. Em 2003, éramos 30; em 94,
no campeonato inaugural, 25.
A carioca Isabel Clark talvez seja nossa grande esperança no esporte: em Valle Nevado, ela está
atrás de seu décimo título (desde
a primeira edição ela não deixa
de vencer pelo menos uma modalidade). Recentemente Isabel ficou entre as 22 melhores praticantes de snowboard do mundo
-colocação que pode não dar a
ela fama internacional, mas que
indica como evoluímos.
Em 2003, nessas mesmas pistas
chilenas, a carioca faturou a Copa Continental de Boardercross,
uma das provas mais arrojadas
do snowboard, na qual quatro
atletas descem simultaneamente
uma pista com obstáculos.
Na ocasião, Isabel deixou na
poeira uma espanhola, uma belga e uma canadense. Para sacramentar a evolução brasileira em
esportes de neve, Ricardo Moruzzi, também em Valle Nevado no
ano passado, faturou o slalom paralelo gigante -prova na qual
dois rivais descem ao mesmo tempo em pistas paralelas-, superando um canadense, um chileno
e um austríaco -conquistas inéditas e improváveis para o país da
praia e das altas temperaturas.
Nesta semana, Ricardo e Isabel
estão no Chile em busca do bi.
Nem seria preciso dizer que o
evento é uma excelente chance
para que a Confederação Brasileira de Desportos na Neve avance em sua empreitada de colocar
definitivamente o Brasil no cenário mundial. E o celeiro ideal para
que se encontrem novos talentos
do snowboard. Cá entre nós, não
existe muito segredo: com campeonatos sérios e bem organizados, talentos, cedo ou tarde, aparecem. Mesmo que seja na neve.
Sem descanso
Durante os Jogos, esta coluna faturou prêmio da Assembléia Legislativa de SP a skatistas e empresários do esporte por ocasião do Dia do
Skate. A coluna Ação e a Folha levaram o caneco na categoria Jornal.
O maior do mundo
O Brasileiro de kitesurf começa no sábado em Vitória (ES). Com
quatro etapas e premiações de R$ 80 mil (o dobro do valor de 2003), o
circuito brasileiro é hoje o maior circuito nacional do mundo.
Pranchões
O Internacional de Longboard, nos dias 4 e 5, em Porto de Galinhas
(PE), dará R$ 30 mil em prêmios, e o vencedor terá direito a 2.500
pontos para o ranking que definirá o campeão nacional.
E-mail sarli@trip.com.br
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