São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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FUTEBOL

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SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Segundo a Folha de ontem, Ronaldo defendeu a idéia de que os jogadores têm de ser "mais firmes" para serem liberados por seus clubes e poderem defender a seleção. Já Adriano foi mais compreensivo com os que não estiveram no Haiti: "É complicado para nós. A CBF e os clubes têm de discutir esse assunto, mas os jogadores não podem se meter".
A diferença no tom das declarações reflete o momento de cada um: Ronaldo, ciente de seu poder e do quanto é insubstituível no coração de torcedores no mundo todo, manda prender e manda soltar... Adriano está começando agora a garantir seu lugar.
Em 99, o Fenômeno estava em situação bem diferente. Havia sido desconvocado de duas partidas da seleção por problemas físicos e não estava jogando bem. Por ocasião de dois amistosos na Austrália, foi pivô de uma queda-de-braço entre a Inter de Milão e a CBF. O clube entendia que só era obrigado a liberar o atleta para um jogo. Ronaldo foi para Sydney sem saber o que ia acontecer. O atacante era o principal chamariz para o público e o material de divulgação era todo focado nele.
Diante da "calça justa", Ronaldo sofreu para não melindrar patrocinadores, torcida, cartolas, patrões. Ao chegar à Austrália, disse que queria atuar nos dois jogos. Depois, em entrevista coletiva, preferiu, "como profissional", não opinar: "Não quero entrar em briga de cachorro grande".
A Fifa deu razão à Inter e obrigou a CBF a liberar Ronaldo após o primeiro jogo. Vanderlei Luxemburgo, então técnico da seleção, entrou solando -"Ou joga as duas partidas ou não joga nenhuma"- e o dispensou. Disse que só havia convocado o jogador porque seria bom para o próprio, que precisava recuperar a forma, e o criticou por não ter insistido com a Inter: "Faltou atitude".
Ronaldo até telefonou para Massimo Moratti, que se mostrou irredutível. "É um problema complicado, que envolve interesses maiores do que vocês imaginam."
Luxemburgo não quis saber, e ameaçou excluir Ronaldo da seleção que se preparava para a Sydney-00: "Se ele diz que a Olimpíada é tão importante, deveria ter feito algo". Palavra do camisa 9: "Entendo o Vanderlei, mas eu não podia fazer nada. Sou empregado da Inter. Se a Fifa diz que ela tem razão e que eu devo voltar, o que é que eu podia fazer?".
Agora, Ronaldo está feliz e à vontade como poucas vezes esteve. Talvez a situação dos brasileiros no Milan seja melhor que a sua no Real, mas eles não desafiaram o clube. Timidez? Recato profissional? A noção de que a saída dos três teria um impacto grande, ou o receio de se machucar e comprometer a temporada? Não sei, mas sei que não foi por "desprezo à amarelinha".
É ótimo que os atletas procurem se afirmar diante dos dirigentes e se manifestar em relação a horários de jogos, calendário, condições de trabalho, tratamento ao torcedor, contratos com empresários... Nem sempre vão conseguir lidar com choques de interesses entre "cachorros grandes", mas, unidos, têm mais chances.

Truculência
Em Atenas, muitos que torceram contra os EUA por causa de suas incursões "libertadoras" no Oriente Médio e outras atitudes discutíveis ou condenáveis, torceram pela China como se torcessem pelo "mais fraco", ou por um poder "alternativo" e mais simpático. Aplaudo atletas chineses e americanos, mas os governos de seus países se equivalem em truculências. A China investe em um progresso predador, com ataques ao meio ambiente; mantém uma política interna repressiva, com censura e prisões sem julgamento, e promoveu um genocídio, destruição e dominação do Tibete que não ficam devendo às piores explorações coloniais de nossa história. Vale o protesto dos manifestantes anteontem em Pequim.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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