|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Marcar posição
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Segundo a Folha de ontem,
Ronaldo defendeu a idéia de
que os jogadores têm de ser "mais
firmes" para serem liberados por
seus clubes e poderem defender a
seleção. Já Adriano foi mais compreensivo com os que não estiveram no Haiti: "É complicado para nós. A CBF e os clubes têm de
discutir esse assunto, mas os jogadores não podem se meter".
A diferença no tom das declarações reflete o momento de cada
um: Ronaldo, ciente de seu poder
e do quanto é insubstituível no
coração de torcedores no mundo
todo, manda prender e manda
soltar... Adriano está começando
agora a garantir seu lugar.
Em 99, o Fenômeno estava em
situação bem diferente. Havia sido desconvocado de duas partidas da seleção por problemas físicos e não estava jogando bem. Por
ocasião de dois amistosos na Austrália, foi pivô de uma queda-de-braço entre a Inter de Milão e a
CBF. O clube entendia que só era
obrigado a liberar o atleta para
um jogo. Ronaldo foi para Sydney
sem saber o que ia acontecer. O
atacante era o principal chamariz para o público e o material de
divulgação era todo focado nele.
Diante da "calça justa", Ronaldo sofreu para não melindrar patrocinadores, torcida, cartolas,
patrões. Ao chegar à Austrália,
disse que queria atuar nos dois jogos. Depois, em entrevista coletiva, preferiu, "como profissional",
não opinar: "Não quero entrar
em briga de cachorro grande".
A Fifa deu razão à Inter e obrigou a CBF a liberar Ronaldo após
o primeiro jogo. Vanderlei Luxemburgo, então técnico da seleção, entrou solando -"Ou joga
as duas partidas ou não joga nenhuma"- e o dispensou. Disse
que só havia convocado o jogador
porque seria bom para o próprio,
que precisava recuperar a forma,
e o criticou por não ter insistido
com a Inter: "Faltou atitude".
Ronaldo até telefonou para
Massimo Moratti, que se mostrou
irredutível. "É um problema complicado, que envolve interesses
maiores do que vocês imaginam."
Luxemburgo não quis saber, e
ameaçou excluir Ronaldo da seleção que se preparava para a
Sydney-00: "Se ele diz que a Olimpíada é tão importante, deveria
ter feito algo". Palavra do camisa
9: "Entendo o Vanderlei, mas eu
não podia fazer nada. Sou empregado da Inter. Se a Fifa diz que
ela tem razão e que eu devo voltar, o que é que eu podia fazer?".
Agora, Ronaldo está feliz e à
vontade como poucas vezes esteve. Talvez a situação dos brasileiros no Milan seja melhor que a
sua no Real, mas eles não desafiaram o clube. Timidez? Recato
profissional? A noção de que a
saída dos três teria um impacto
grande, ou o receio de se machucar e comprometer a temporada?
Não sei, mas sei que não foi por
"desprezo à amarelinha".
É ótimo que os atletas procurem
se afirmar diante dos dirigentes e
se manifestar em relação a horários de jogos, calendário, condições de trabalho, tratamento ao
torcedor, contratos com empresários... Nem sempre vão conseguir
lidar com choques de interesses
entre "cachorros grandes", mas,
unidos, têm mais chances.
Truculência
Em Atenas, muitos que torceram contra os EUA por causa
de suas incursões "libertadoras" no Oriente Médio e outras
atitudes discutíveis ou condenáveis, torceram pela China como se torcessem pelo "mais fraco", ou por um poder "alternativo" e mais simpático. Aplaudo atletas chineses e americanos, mas os governos de seus
países se equivalem em truculências. A China investe em um
progresso predador, com ataques ao meio ambiente; mantém uma política interna repressiva, com censura e prisões sem julgamento, e promoveu
um genocídio, destruição e dominação do Tibete que não ficam devendo às piores explorações coloniais de nossa história.
Vale o protesto dos manifestantes anteontem em Pequim.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Brasil abaixo de zero Próximo Texto: Atletismo: Pop star, Vanderlei quer folga para pescar Índice
|