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ATLETISMO
Velocista que garantiu a prata lembra a infância em entrevista "sem perguntas"
Pão, pílula e fotos põem Quirino, o herói do revezamento, a falar
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY
Claudinei Quirino, 29, poderia
ter sido um dos destaques dos Jogos, mas falhou na sua especialidade, os 200 m rasos. Restou-lhe,
então, o revezamento 4 x 100 m. E,
aí, foi o herói da equipe brasileira.
Escalado para o último trecho,
ele se atrapalhou com André Domingos, na passagem do bastão, e
iniciou a corrida em terceiro. Mas,
com um ritmo forte, garantiu a
medalha de prata, melhor resultado do país na história da prova.
A Folha propôs a Quirino uma
entrevista diferente, sem perguntas. À sua frente, uma caixa cheia
de objetos. A idéia era que ele desse as suas impressões sobre dez
itens com a mínima interferência
da reportagem. Ele topou.
Foto de Michael Johnson
Claudinei Quirino - Michael
Johnson, pô... Ele é completo. O
recorde dele dos 200 m acho que
vai durar 20 anos. Mas não é meu
ídolo. Não vou com a cara dele.
Foto de Marion Jones
Quirino - Marion Jones? Pra
mim, essa mulher dá pra correr
com os homens. A técnica de saída dela é uma das melhores que
eu já vi. É a Mulher Maravilha.
Cadeado
Quirino - Um cadeado?
Folha - É. Em que tipo de situação
você se sente preso?
Quirino - A situação que me deixa preso é quando a gente não está em sintonia no treino. Como
no revezamento, quando não estão todos bem. Às vezes sou eu
que não estou legal. Aí, me sinto
preso. Impotente é a palavra.
Pão
Quirino - Pão... É, passei fome,
raiva. Passei de tudo na vida um
pouco. Pão lembra a minha infância. Quando eu estava no orfanato, e a gente ia pra escola, eu tomava a minha sopa, a sopa do outro...
Pílula
Quirino - É pra falar de doping,
né? O doping é uma coisa muito
difícil de comentar... Sempre que
você termina uma prova, as pessoas vêm te oferecer um isotônico. Nesse sentido, a gente é orientado a não beber esse líquido. Mas
nunca me deram doping.
Babador
Quirino - O que é isso? É sobre
minha infância? Não gosto de
lembrar... Fui criado num orfanato e, como toda criança de orfanato, você tem dificuldades. Não
gosto de falar sobre essa época.
Ratoeira
Quirino - É uma ratoeira?
Folha - É. Você já caiu em alguma
armadilha na sua vida?
Quirino - Só nas armadilhas do
amor (risos). Estou preso até hoje.
De resto, há as armadilhas que a
vida traz pra todo mundo. Mas estamos aí para superar, né?
Convite de casamento
Quirino - Não faz isso. Quando
lerem isso, eu tô na roça (risos).
Eu penso em casar. São meus planos pro futuro, né? Aí, vou consumar minha família.
Nota de dinheiro
Quirino - É... Ganhei dinheiro
pra poder comprar uma casa.
Mudei há dois meses, mas até hoje não passei mais de três dias lá.
Dinheiro é bom. Ajudou-me a
realizar alguns sonhos. E me dá
condições de treinar na Europa.
Espelho
Quirino - Opa. Deixa eu ver minha boca, que tá machucada.
Folha - Você é vaidoso?
Quirino - Não. Até certo ponto
não. Só não gosto de ficar usando
roupa amassada. Normal, pô. E
eu raspo o cabelo porque o cabelo
é ruim, pô (risos). Se deixar crescer, fica parecendo uma bola de
capotão (risos). Acabou? Não tem
mais nada? Então, tchau.
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