São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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ATLETISMO

Velocista que garantiu a prata lembra a infância em entrevista "sem perguntas"
Pão, pílula e fotos põem Quirino, o herói do revezamento, a falar

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Claudinei Quirino, 29, poderia ter sido um dos destaques dos Jogos, mas falhou na sua especialidade, os 200 m rasos. Restou-lhe, então, o revezamento 4 x 100 m. E, aí, foi o herói da equipe brasileira.
Escalado para o último trecho, ele se atrapalhou com André Domingos, na passagem do bastão, e iniciou a corrida em terceiro. Mas, com um ritmo forte, garantiu a medalha de prata, melhor resultado do país na história da prova.
A Folha propôs a Quirino uma entrevista diferente, sem perguntas. À sua frente, uma caixa cheia de objetos. A idéia era que ele desse as suas impressões sobre dez itens com a mínima interferência da reportagem. Ele topou.

Foto de Michael Johnson
Claudinei Quirino -
Michael Johnson, pô... Ele é completo. O recorde dele dos 200 m acho que vai durar 20 anos. Mas não é meu ídolo. Não vou com a cara dele.

Foto de Marion Jones
Quirino -
Marion Jones? Pra mim, essa mulher dá pra correr com os homens. A técnica de saída dela é uma das melhores que eu já vi. É a Mulher Maravilha.

Cadeado
Quirino -
Um cadeado?

Folha - É. Em que tipo de situação você se sente preso?
Quirino -
A situação que me deixa preso é quando a gente não está em sintonia no treino. Como no revezamento, quando não estão todos bem. Às vezes sou eu que não estou legal. Aí, me sinto preso. Impotente é a palavra.

Pão
Quirino -
Pão... É, passei fome, raiva. Passei de tudo na vida um pouco. Pão lembra a minha infância. Quando eu estava no orfanato, e a gente ia pra escola, eu tomava a minha sopa, a sopa do outro...

Pílula
Quirino -
É pra falar de doping, né? O doping é uma coisa muito difícil de comentar... Sempre que você termina uma prova, as pessoas vêm te oferecer um isotônico. Nesse sentido, a gente é orientado a não beber esse líquido. Mas nunca me deram doping.

Babador
Quirino -
O que é isso? É sobre minha infância? Não gosto de lembrar... Fui criado num orfanato e, como toda criança de orfanato, você tem dificuldades. Não gosto de falar sobre essa época.

Ratoeira
Quirino -
É uma ratoeira?

Folha - É. Você já caiu em alguma armadilha na sua vida?
Quirino -
Só nas armadilhas do amor (risos). Estou preso até hoje. De resto, há as armadilhas que a vida traz pra todo mundo. Mas estamos aí para superar, né?

Convite de casamento
Quirino -
Não faz isso. Quando lerem isso, eu tô na roça (risos). Eu penso em casar. São meus planos pro futuro, né? Aí, vou consumar minha família.

Nota de dinheiro
Quirino -
É... Ganhei dinheiro pra poder comprar uma casa. Mudei há dois meses, mas até hoje não passei mais de três dias lá. Dinheiro é bom. Ajudou-me a realizar alguns sonhos. E me dá condições de treinar na Europa.

Espelho
Quirino -
Opa. Deixa eu ver minha boca, que tá machucada.

Folha - Você é vaidoso?
Quirino -
Não. Até certo ponto não. Só não gosto de ficar usando roupa amassada. Normal, pô. E eu raspo o cabelo porque o cabelo é ruim, pô (risos). Se deixar crescer, fica parecendo uma bola de capotão (risos). Acabou? Não tem mais nada? Então, tchau.


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