São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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MOTOR

Já que a moda é secar...

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A cada tentativa de Hoover Orsi, o público vibrava. Quando o sul-mato-grossense enfim passou Cacá Bueno, Interlagos comemorou com entusiasmo de gol de fim de campeonato. Aplausos brotaram até na teoricamente neutra sala de imprensa.
Tenho certeza de que nem Orsi nem Giuliano Losacco contam com aquela torcida tão inflamada. Mais: a maioria nem sequer devia saber quem conduzia aquele carro preto. Mas não importava. Um estava deixando o filho do Galvão Bueno para trás, outro tirando dele um título "garantido".
Cacá é ótimo piloto. Fácil, fácil dos melhores da categoria. É dos raros que cresceram focado em turismo, e não em monopostos. Do kart, passou para a Fórmula Uno, foi correr de Palio, chegou à Stock B, fez sucesso na Argentina e voltou para atuar na Stock Car.
Aí estancou. Foi terceiro colocado em 2002 e agora acumula um trivice. Por razões diferentes, o título não veio. Até por ter acontecido no mesmo final de semana, a derrota deste ano guarda paralelos com a catástrofe do Náutico.
E qual foi o motivo desta vez? Acho que daria para preencher umas dez colunas com explicações as mais variadas. Para encurtar o assunto, fiquemos na principal: a uma certa altura do campeonato, o relacionamento do piloto e de seu estafe com a direção da equipe foi pro vinagre.
Reluto em acreditar que algum mecânico tenha "esquecido" de apertar alguma porca, e os três que vi chorando no fundo dos boxes, após a corrida de domingo, reforçam a minha impressão. Mas falta de tesão enfraquece. E é fatal quando seu adversário vem embalado e com os ombros leves.
Voltemos, porém, à explosão de rejeição de Interlagos e aos comentários que ouvi durante a semana. Sim, a Stock virou assunto de botequim, por ter acontecido do jeito que aconteceu, por ter sido com quem foi. Ou melhor: por ter sido com o filho de quem foi.
Criticar Galvão é esporte nacional. Das 172 comunidades do Orkut com seu nome, 144 vêm precedidas de um "eu odeio" ou variações mais mal-educadas. E os praticantes, que há anos não poupam os deslizes do narrador, acharam em Cacá um novo alvo.
Também não ajudam as reportagens bajuladoras que vira-e-mexe a Globo e seus canais põem no ar, nem o discurso de Galvão em seu programa na última segunda-feira, tampouco as acusações de mau-caratismo, conspiração ou trapaça -essa última durou poucas horas, até a vistoria da CBA, acompanhada pelo time de Cacá, constatar que o carro de Losacco estava nos conformes.
Não sei até que ponto a torcida contra afetou o piloto nesse sprint final. Mas sei que ela não estava restrita às arquibancadas. E, na pista, pode interferir, independentemente das suas vontades.
Cacá tenta ir para a Nascar, mas, se ficar, deve correr com o irmão, Popó, numa equipe que será montada com Augusto Cesário, hoje na F-3 e na F-Renault.
Qualquer que seja a rota escolhida, só conseguirá dobrar os "secadores" com títulos. Aqui é menos difícil. Mas lá não é filho de ninguém e isso tem seus prós e contras. Escolha complicada.

Cartão vermelho
No domingo, da região de Congonhas até o autódromo, uma hora e meia de congestionamento. A CET precisa entender que não é apenas a F-1 que merece esquema especial de trânsito.

Gol de placa
Depois de lançar um instituto com Barrichello, Kanaan agora se une a Felipe Giaffone em um projeto que visa dar chances a pilotos de kart promissores, mas sem lá muito dinheiro. Num ambiente tão mesquinho, frio e hostil, o baiano é campeão também no coração.

Bola rolando
Aguri fora (por ora). Sai BAR, entra Honda. Villeneuve e Monteiro confirmados, fechando o grid. As apostas estão feitas.


E-mail: fseixas@folhasp.com.br

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