São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2004

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MOTOR

Rei morto, rei morto

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A primeira coluna do ano deveria falar do próximo campeonato, cheio de novidades e expectativas. Mas existe um outro assunto em 2004 que estará ou voltará ao noticiário: Senna.
Em 1º de maio completam-se dez anos da perda do maior ídolo que o país já alimentou na F-1. Um ídolo que teve uma morte épica transmitida ao vivo pela TV e que demorou anos para ser colocado em alguma prateleira da história e esquecido. Esquecido?
Em novembro, pouco depois de Michael Schumacher ter conquistado o inédito sexto título, o Datafolha fez uma pesquisa com a população adulta da cidade de São Paulo e perguntou quem era o melhor piloto de F-1 da história.
Senna ganhou disparado, com 63% das indicações. O alemão apareceu em segundo, distante, com 13%. Rubens Barrichello, ainda mais longe, foi lembrado por apenas 5%, e o resto não passou de 1% -um resto de respeito, composto por Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, Juan Manuel Fangio, Alain Prost, Juan Pablo Montoya, Nigel Mansell e "outras respostas". A pesquisa, aliás, não estimulou as respostas, mostrando como é pequeno o imaginário paulistano sobre a categoria.
Dado interessante, a vantagem de Senna sobre Schumacher é ainda maior (71% contra 13%) entre os mais jovens (16 a 25 anos). Nessa faixa, parte não deve ter visto o tricampeão correr e muitos, provavelmente, não se lembram dos anos em que conquistou títulos -o último e menos emocionante veio em 1991.
Não sou especialista, mas arrisco duas explicações: a marca Senna, que banca o instituto, sobrevive em boa parte no grande público por meio do personagem Senninha, martelado por produtos que esses jovens consumiram na última década; adolescentes não gostam de F-1 e estão alheios aos recordes de Schumacher.
Essa segunda informação não é chute, consta de números do Ibope publicados há alguns anos pela Folha. O público brasileiro da categoria se concentra na faixa seguinte (26 a 40 anos), seguido pelos mais velhos e as crianças.
(A dinâmica seria mais ou menos a seguinte: o filho começa assistindo com o pai, troca por coisa melhor quando a manhã de domingo reflete a noite de sábado e só volta quando o esporte vira uma alternativa ao cotidiano.)
É esse público, por exemplo, que dá maior crédito a Schumacher na pesquisa (16%, contra 66% de Senna), uma evidência de que acompanha mais a F-1 atual. A faixa seguinte, 41 anos ou mais, derruba os dois (10% a 54%) e garante as citações mínimas aos demais. É também a que mais encontra dificuldades para dar o veredicto -20% de "não sabe". Viu mais corridas e mais pilotos.
De qualquer forma, tudo isso são recortes, filigranas diante da verdadeira lavada imposta por Senna, prova inconteste da força do mito e, com certeza, da falta de um substituto. Quem viu Fittipaldi correr, um dia se surpreendeu com Piquet. Quem torceu por Piquet, um dia se pegou vibrando com Senna. E quem começou com Senna, chocou-se com sua morte e esperou pelo próximo. Até hoje, em vão.

Barrichello
O melhor desempenho de Barrichello na pesquisa, 9%, é obtido entre os entrevistados das classes D e E. Nesse caso, Senna e Schumacher caem (55% e 11%). O brasileiro se aproxima do alemão entre as mulheres (7% contra 8%), mas perde feio entre os homens (4% a 19%).

Fangio
Para muitos o melhor, o pentacampeão quebra a ditadura do 1% em três faixas: a dos entrevistados com curso superior (2%), a das classes A e B (2%) e a dos com renda familiar superior a dez salários (4%).

Schumacher
A resposta "o alemão" ganha no total de Fangio, Prost, Montoya e Mansell. E empata com Piquet e Fittipaldi (todos os três com 1%).

E-mail: mariante@uol.com.br


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