|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Rei morto, rei morto
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A primeira coluna do ano
deveria falar do próximo
campeonato, cheio de novidades
e expectativas. Mas existe um outro assunto em 2004 que estará ou
voltará ao noticiário: Senna.
Em 1º de maio completam-se
dez anos da perda do maior ídolo
que o país já alimentou na F-1.
Um ídolo que teve uma morte
épica transmitida ao vivo pela TV
e que demorou anos para ser colocado em alguma prateleira da
história e esquecido. Esquecido?
Em novembro, pouco depois de
Michael Schumacher ter conquistado o inédito sexto título, o Datafolha fez uma pesquisa com a
população adulta da cidade de
São Paulo e perguntou quem era
o melhor piloto de F-1 da história.
Senna ganhou disparado, com
63% das indicações. O alemão
apareceu em segundo, distante,
com 13%. Rubens Barrichello,
ainda mais longe, foi lembrado
por apenas 5%, e o resto não passou de 1% -um resto de respeito,
composto por Nelson Piquet,
Emerson Fittipaldi, Juan Manuel
Fangio, Alain Prost, Juan Pablo
Montoya, Nigel Mansell e "outras
respostas". A pesquisa, aliás, não
estimulou as respostas, mostrando como é pequeno o imaginário
paulistano sobre a categoria.
Dado interessante, a vantagem
de Senna sobre Schumacher é
ainda maior (71% contra 13%)
entre os mais jovens (16 a 25
anos). Nessa faixa, parte não deve
ter visto o tricampeão correr e
muitos, provavelmente, não se
lembram dos anos em que conquistou títulos -o último e menos emocionante veio em 1991.
Não sou especialista, mas arrisco duas explicações: a marca Senna, que banca o instituto, sobrevive em boa parte no grande público por meio do personagem Senninha, martelado por produtos
que esses jovens consumiram na
última década; adolescentes não
gostam de F-1 e estão alheios aos
recordes de Schumacher.
Essa segunda informação não é
chute, consta de números do Ibope publicados há alguns anos pela
Folha. O público brasileiro da categoria se concentra na faixa seguinte (26 a 40 anos), seguido pelos mais velhos e as crianças.
(A dinâmica seria mais ou menos a seguinte: o filho começa assistindo com o pai, troca por coisa
melhor quando a manhã de domingo reflete a noite de sábado e
só volta quando o esporte vira
uma alternativa ao cotidiano.)
É esse público, por exemplo, que
dá maior crédito a Schumacher
na pesquisa (16%, contra 66% de
Senna), uma evidência de que
acompanha mais a F-1 atual. A
faixa seguinte, 41 anos ou mais,
derruba os dois (10% a 54%) e garante as citações mínimas aos demais. É também a que mais encontra dificuldades para dar o veredicto -20% de "não sabe". Viu
mais corridas e mais pilotos.
De qualquer forma, tudo isso
são recortes, filigranas diante da
verdadeira lavada imposta por
Senna, prova inconteste da força
do mito e, com certeza, da falta de
um substituto. Quem viu Fittipaldi correr, um dia se surpreendeu
com Piquet. Quem torceu por Piquet, um dia se pegou vibrando
com Senna. E quem começou com
Senna, chocou-se com sua morte e
esperou pelo próximo. Até hoje,
em vão.
Barrichello
O melhor desempenho de Barrichello na pesquisa, 9%, é obtido entre
os entrevistados das classes D e E. Nesse caso, Senna e Schumacher
caem (55% e 11%). O brasileiro se aproxima do alemão entre as mulheres (7% contra 8%), mas perde feio entre os homens (4% a 19%).
Fangio
Para muitos o melhor, o pentacampeão quebra a ditadura do 1% em
três faixas: a dos entrevistados com curso superior (2%), a das classes
A e B (2%) e a dos com renda familiar superior a dez salários (4%).
Schumacher
A resposta "o alemão" ganha no total de Fangio, Prost, Montoya e
Mansell. E empata com Piquet e Fittipaldi (todos os três com 1%).
E-mail: mariante@uol.com.br
Texto Anterior: Depois de ausência de 4 anos, NBA volta à TV aberta com jogo de Nenê Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Um cronópio chamado Edu Índice
|