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FUTEBOL
Mestres, inventores e craques
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O que é um craque? Quem é
craque? Ou melhor: o que é
que define se um jogador de futebol é ou não um craque?
Armando Nogueira conclamou
os cronistas e comentaristas esportivos a dar suas respostas a essas perguntas.
Tostão, ele mesmo um craque
sob qualquer critério, já deu mais
de uma vez sua opinião, estabelecendo uma rigorosa lista de exigências técnicas, psicológicas e
morais para que alguém possa ser
considerado um craque da bola.
Não há como discordar de sua
argumentação. Mas, se ela fosse
levada às últimas conseqüências,
restariam hoje apenas uns dois ou
três craques no mundo do futebol.
Os outros não preencheriam um
ou outro requisito.
Penso que nessa discussão entra
também uma boa dose de subjetividade. Não são apenas as qualidades técnicas objetivas de um futebolista que o fazem conquistar
o torcedor (e o comentarista não
deixa de ser um torcedor), mas
também sua capacidade de inspirar a fantasia e a imaginação.
Em outras palavras: sua faculdade de nos fazer lembrar que o
futebol não é unicamente um esporte de alto rendimento; é também uma forma de arte, seja como narrativa épica, seja como
poesia.
Minha tentação, então, é aplicar ao futebol a classificação que
o poeta americano Ezra Pound
criou para avaliar os escritores e
artistas. Segundo ele, havia diluidores, mestres e inventores.
Transposta ao futebol, a divisão
significaria mais ou menos o seguinte: o diluidor seria o atleta
que se limita a repetir, geralmente
de modo pior, o que seus antecessores e contemporâneos fizeram.
O mestre, como o próprio nome
sugere, seria aquele que domina
"com maestria" os fundamentos
do jogo. Ou seja, aquele que faz
tudo (passa, chuta, dribla, lança,
cabeceia) com extrema competência. De certo modo, o mestre
sintetiza o repertório de jogadas a
que o futebol chegou em determinado estágio.
O inventor seria aquele que amplia esse repertório, acrescentando a ele novas jogadas, novas possibilidades, novos horizontes.
Sob esse prisma, pode até haver
um mestre que seja mais competente e mais completo que um inventor. O que lhe faltaria seria a
chama da fantasia, da surpresa,
da ousadia.
Para que a conversa não fique
tão árida, vamos tomar de exemplo alguém que foi, ao mesmo
tempo, mestre e inventor: Pelé.
Dois lances da Copa de 70 ilustram o que quero dizer. No gol
que fez contra a Tchecoslováquia,
Pelé mostrou-se mestre: recolheu
um lançamento de 40 metros
amortecendo a bola no peito, esperou-a quicar diante do gol, trocou de perna, escolheu o canto e
fuzilou. Uma jogada perfeita.
O Pelé inventor apareceu no célebre drible de corpo sobre o goleiro do Uruguai. O lance não resultou em gol, mas foi de uma beleza
fulgurante, inesperada e genial,
que estimula até os dias de hoje
nossa fantasia.
Mestre e inventor se complementam, e é na confluência dos
dois que se encontra o craque.
Mestres
Uma relação sumária de possíveis mestres do futebol incluiria
Zito, Clodoaldo, Zé Carlos (ex-Cruzeiro, ex-Guarani), Dicá
(Ponte Preta), Dario Pereyra,
Raí, Evair, Luís Figo, Redondo,
Frank de Boer. São os caras que
"sabem tudo".
Inventores
Entre os inventores que são "incompletos" estariam Alex, Denílson, Felipe, Rivaldo, Ortega.
São aqueles de quem podemos
esperar o melhor e o pior.
Mestres e inventores
Ou seja, craques: Pelé, Garrincha, Tostão, Ademir da Guia,
Dirceu Lopes, Rivellino, Paulo
César Caju, Cruyff, Maradona,
Platini, Zico, Falcão, Sócrates,
Romário, Zidane, Ronaldo. Fila
de espera: Ronaldinho, Kaká,
Diego, Robinho, Riquelme.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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