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VÔLEI
Empresário que rege carreira de 8 selecionáveis elogia técnico, mas diz que contratos de seus clientes têm de ser cumpridos
"Dono" da seleção peita até Bernardinho
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
No banco de reservas, ele não
conseguia se conter. Xingava e
gritava como louco a cada lance.
Quando Giovane acertou o saque que fez o Brasil campeão do
mundo, chorou. E correu para
abraçar seus companheiros. Sentia a maior emoção de sua vida.
Jorge Assef Neto não é da comissão técnica da seleção nem assessor da confederação brasileira.
Com o corpanzil de mais de 100
kg, não pode sonhar em jogar.
Mas ganhou a honra de ver, do
banco, o inédito título da equipe.
De certa forma, era responsável
pelo que acontecia na quadra.
Assef cuida da carreira de oito
dos cobiçados atletas da seleção
masculina. É o mais influente empresário do vôlei nacional e um
dos maiores do mundo.
"Eu tenho um poder grande.
Tenho os melhores jogadores do
mundo. Tenho o time", gaba-se.
E, para defender os interesses
deles, não teme nem o todo-poderoso técnico Bernardinho.
"Ele é muito competente, faz
um trabalho impressionante e
montou um dos melhores grupos
que eu já vi", afirma o empresário.
"Só não gosto quando quer mudar contratos dos meus jogadores. Antes de cada temporada, eu
vejo o calendário e coloco todas as
restrições no papel. Se ele quer
mudar as datas de convocação,
que pague a multa", chia.
Sob os cuidados de Assef estão
Ricardinho, Anderson, Nalbert,
Giba, Escadinha, Gustavo, André
Heller e Henrique, da seleção.
A lista ainda inclui nomes como
Joel, sensação do Italiano, o argentino Marcos Milinkovic, destaque da Superliga, e Kid, responsável pelo início de sua aventura.
Entre um papo e outro na piscina de um prédio no Brooklin, Andrea, mulher do jogador, decidiu
"contratar" Assef. Na temporada
94/95, Kid fez "o melhor contrato
do Brasil", conta o empresário.
Exagero ou não, em dois anos,
ele já trabalhava para 30 atletas.
Engenheiro civil com três pós-graduações no exterior, Assef se
viu, ao lado do primo e sócio, livre
da carreira em multinacionais.
Hoje, administra a vida de 42 jogadores. Só duas são mulheres.
"Não tenho mais paciência para
ouvir palpite de pai, irmão, namorado e cunhado que acham que
sabem negociar", reclama.
Assef só trabalha com Andrea e
Kátia, mulher de Joel. Cristina
Pirv, casada com Giba, e Jacqueline, namorada de Murilo, devem
entrar no casting, atraídas pelos
atletas e amigos do empresário.
Assef faz a linha paizão: batiza
filhos, dá conselhos sobre namoradas, liga para médicos.
"Quando eu estava mal, cansado do frio, com saudade do Brasil,
ele me deu força. Mas também liga para dar puxão de orelha", diz
Gustavo, do Latina (ITA).
Mas o empresário também mexe em contas bancárias, monta
sociedades com atletas e dá palpites. Já chegou a proibir Anderson
de comprar um carro importado.
"Eu o mandei guardar grana.
Hoje, ele tem um carro que vale
três vezes mais. Eu queria uma
Mercedes aos 18 anos. Só comprei
aos 40, mas podia ter quatro."
Outras vezes, o homem de gênio
forte palpita tanto que até briga.
"Já ficamos sem nos falar. Um
manda o outro para aquele lugar,
mas nos respeitamos muito", diverte-se Ricardinho, do Minas.
Assef é menos incisivo quando
o assunto envolve contratos. O
empresário, que leva 6% de cada
negociação (seis é seu número de
sorte), diz preferir um atleta feliz a
um milionário desmotivado.
"O Nalbert [do Macerata (ITA)]
poderia estar ganhando 40% a
mais. Ele é capaz de voltar ao Brasil para ganhar ainda menos, mas
estará feliz. E estarei ao seu lado."
Mas dizer não ao dinheiro não é
tão fácil. Em 2001, Assef se aventurou no futebol. Saiu em seis meses. "Me arrependo. É sedutor
pensar que Ronaldo tem em uma
semana o que muito atleta top de
vôlei ganha em um ano. Mas não
sei comprar e vender gente."
A mesma boa relação que tem
com os jogadores Assef mantém
com o presidente da CBV, Ary
Graça. Só não abre mão de defender seus interesses. "Não quero
privilégio, mas, se outro empresário tiver, brigarei pelo meu."
Assef só gostaria de manter um
privilégio. Nos Jogos de Atenas, se
conseguir uma brecha na agenda,
estar na quadra novamente.
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