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SONINHA
Novo e velho campeão
Mudam regra, nome e forma dos torneios, mas o título vale igual... Palmeiras campeão mundial, por que não?
ACHEI BACANA o reconhecimento do Palmeiras como
campeão do mundo em 1951.
Mas, temendo não ser observadora
isenta, me perguntei: se fosse Botafogo, Cruzeiro ou Grêmio, o que diria? (Ou uma equipe de basquete?)
A mesma coisa.
Sempre achei justa a reivindicação palmeirense e fiquei ainda mais
convencida diante da argumentação
do homem encarregado de reunir e
levar até a Fifa as informações sobre
o evento (eu ia dizer "dossiê", mas ô
palavrinha desmoralizada...). Roberto Frizzo fez um levantamento
exaustivo, consultando jornais estrangeiros (porque reconheceu, honestamente, que um jornal brasileiro pode ter sido apenas ufanista ao
proclamar o novo "campeão mundial") e outros registros da época.
Ele comparou, por exemplo, os
elencos dos clubes que vieram com
as respectivas seleções de cada país e
concluiu que passaram por aqui
muitos dos melhores atletas de então -"as maiores forças do futebol
mundial", como diz o site do clube.
"A imprensa estrangeira se referia
à Copa Rio como "torneio internacional" ou "campeonato mundial?'".
Será que faz muita diferença?
Até poucos anos atrás, muitos desdenhavam do Mundial interclubes
modelo anos 80 e 90. "Que Mundial
é esse? Um jogo entre dois times e
pronto, é campeão mundial? Campeão mesmo foi o Santos, que jogou
lá e cá." Uns desvalorizam a Libertadores d'antanho, pelo formato mais
enxuto ("em 63, o Santos entrou direto na semifinal!"), enquanto outros lembram a dureza daqueles
tempos sem transmissão ao vivo, a
qualidade dos adversários...
Até as Copas do Mundo são esnobadas aqui e ali: "Também, do jeito
que os marcadores davam espaço
em 70, não era difícil jogar...".
Quando a Fifa organizou um
Mundial pela primeira vez, ele foi
esculhambado também. A escolha
dos times da casa foi política, os europeus vieram de má vontade. E
qual o peso do campeão da Ásia?
Mas cada conquista tem seu valor
-pelo nome segundo o qual ela responde e/ou pela chancela oficial. A
Libertadores era daquele jeito, e o
Santos foi lá e venceu. Como comparar aquele título a outro, em outros
tempos, com outras condições? Se
Pelé não era marcado tão "em cima"
quanto os atacantes de hoje e o jogo
era menos corrido, ele não jogava
com bolas que "voam" e camisas e
chuteiras tão leves. Se o campeão
europeu e o campeão sul-americano
duelavam no Japão pelo título de
melhor do planeta, é porque clubes
de outros continentes realmente
não pertenciam ao mesmo mundo,
em termos de futebol...
Copas do Mundo, Mundiais interclubes e Libertadores já tiveram vários formatos, melhores ou piores
do que hoje. O Campeonato Brasileiro também. Tinha cabimento dizer, antes de 2002, que o Santos
nunca tinha sido campeão brasileiro? O nome da competição era outro, o formato também, mas quem
disputou e venceu o Robertão levantou a taça de melhor do país.
Portanto, se o problema com o título do Palmeiras é o "nome" do torneio, isso, para mim, não tem maior
importância. E o carimbo da Fifa ele
também conseguiu. Não dá para ignorar o quanto as decisões da Fifa
são políticas -se as relações do clube com a CBF fossem conflituosas, o
trânsito seria fácil na Suíça, e o resultado seria o mesmo? Mas ela é a
instituição que trata disso, com o poder para considerar um título "oficial". O que não quer dizer que, por
ser oficial, não pode ser discutido.
Esse, o Mundial de 2000, os intercontinentais, todos podem ser questionados em jornais, TVs, internet
ou em torno de uma porção de fritas.
A graça de ser campeão inevitavelmente acompanha provocações,
brincadeiras, questões sérias e teorias sem pé nem cabeça. Um título
de 56 anos não estaria livre disso...
soninha.folha@uol.com.br
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