São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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SONINHA

Novo e velho campeão

Mudam regra, nome e forma dos torneios, mas o título vale igual... Palmeiras campeão mundial, por que não?

ACHEI BACANA o reconhecimento do Palmeiras como campeão do mundo em 1951. Mas, temendo não ser observadora isenta, me perguntei: se fosse Botafogo, Cruzeiro ou Grêmio, o que diria? (Ou uma equipe de basquete?) A mesma coisa. Sempre achei justa a reivindicação palmeirense e fiquei ainda mais convencida diante da argumentação do homem encarregado de reunir e levar até a Fifa as informações sobre o evento (eu ia dizer "dossiê", mas ô palavrinha desmoralizada...). Roberto Frizzo fez um levantamento exaustivo, consultando jornais estrangeiros (porque reconheceu, honestamente, que um jornal brasileiro pode ter sido apenas ufanista ao proclamar o novo "campeão mundial") e outros registros da época.
Ele comparou, por exemplo, os elencos dos clubes que vieram com as respectivas seleções de cada país e concluiu que passaram por aqui muitos dos melhores atletas de então -"as maiores forças do futebol mundial", como diz o site do clube. "A imprensa estrangeira se referia à Copa Rio como "torneio internacional" ou "campeonato mundial?'".
Será que faz muita diferença? Até poucos anos atrás, muitos desdenhavam do Mundial interclubes modelo anos 80 e 90. "Que Mundial é esse? Um jogo entre dois times e pronto, é campeão mundial? Campeão mesmo foi o Santos, que jogou lá e cá." Uns desvalorizam a Libertadores d'antanho, pelo formato mais enxuto ("em 63, o Santos entrou direto na semifinal!"), enquanto outros lembram a dureza daqueles tempos sem transmissão ao vivo, a qualidade dos adversários... Até as Copas do Mundo são esnobadas aqui e ali: "Também, do jeito que os marcadores davam espaço em 70, não era difícil jogar...".
Quando a Fifa organizou um Mundial pela primeira vez, ele foi esculhambado também. A escolha dos times da casa foi política, os europeus vieram de má vontade. E qual o peso do campeão da Ásia? Mas cada conquista tem seu valor -pelo nome segundo o qual ela responde e/ou pela chancela oficial. A Libertadores era daquele jeito, e o Santos foi lá e venceu. Como comparar aquele título a outro, em outros tempos, com outras condições? Se Pelé não era marcado tão "em cima" quanto os atacantes de hoje e o jogo era menos corrido, ele não jogava com bolas que "voam" e camisas e chuteiras tão leves. Se o campeão europeu e o campeão sul-americano duelavam no Japão pelo título de melhor do planeta, é porque clubes de outros continentes realmente não pertenciam ao mesmo mundo, em termos de futebol...
Copas do Mundo, Mundiais interclubes e Libertadores já tiveram vários formatos, melhores ou piores do que hoje. O Campeonato Brasileiro também. Tinha cabimento dizer, antes de 2002, que o Santos nunca tinha sido campeão brasileiro? O nome da competição era outro, o formato também, mas quem disputou e venceu o Robertão levantou a taça de melhor do país. Portanto, se o problema com o título do Palmeiras é o "nome" do torneio, isso, para mim, não tem maior importância. E o carimbo da Fifa ele também conseguiu. Não dá para ignorar o quanto as decisões da Fifa são políticas -se as relações do clube com a CBF fossem conflituosas, o trânsito seria fácil na Suíça, e o resultado seria o mesmo? Mas ela é a instituição que trata disso, com o poder para considerar um título "oficial". O que não quer dizer que, por ser oficial, não pode ser discutido.
Esse, o Mundial de 2000, os intercontinentais, todos podem ser questionados em jornais, TVs, internet ou em torno de uma porção de fritas. A graça de ser campeão inevitavelmente acompanha provocações, brincadeiras, questões sérias e teorias sem pé nem cabeça. Um título de 56 anos não estaria livre disso...

soninha.folha@uol.com.br


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