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MOTOR
Revisão
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Esta é contada por Emerson
Fittipaldi na biografia "Uma
vida em alta velocidade". Dá conta daquela que poderia ter sido a
primeira revisão de pódio da história, não fosse o berro de um cidadão que interrompeu a premiação logo em seu começo.
Em 1973, temporada "sinistra e
cheia de perigos, nas pistas e fora
delas", Emerson relata que na penúltima corrida do ano, em Mosport, estava praticamente fora da
Lotus. Havia tomado um chapéu
de Colin Chapman em Monza,
duas semanas antes, e já tinha até
mesmo ligado para Tedd Mayer,
então o chefão da McLaren, para
falar que iria deixar o time.
Emerson precisava vencer na
Itália para manter suas chances
no campeonato. Procurou Chapman e pediu para ele não deixar o
companheiro Ronnie Peterson
chegar à sua frente -o sueco não
tinha mais chances, estava na pole, mas concordou. Dito e feito,
nas últimas voltas Emerson era o
segundo, Peterson, o primeiro. O
grande ídolo nacional da época
esperou a ordem, mas ela não
veio. E ele chegou a imaginar que
Chapman não queria que ele fosse bicampeão, pois custaria ainda
mais renovar seu contrato.
Emerson ainda tentou uma ultrapassagem, o que Peterson não
permitiu por instinto. Desceu do
carro furioso, agradeceu Chapman por ter lhe tirado o campeonato e não falou mais com ele até
a prova do Canadá. Para piorar a
situação, o inglês ainda tentou
convencer Maria Helena a influir
na decisão do marido prometendo-lhe um cartão de crédito "para
comprar tudo o que quisesse".
Finalmente em Mosport, Emerson desejava muito ganhar a corrida para provar a todos que poderia ser campeão novamente.
Seu carro estava bom, e a coisa ia
bem até um acidente entre Jody
Scheckter e François Cevert. Pela
primeira vez na história da F-1,
um carro-madrinha foi lançado à
pista para neutralizar a disputa.
E, claro, a confusão começou.
Pelo regulamento da época, explica o livro, a cronometragem
era congelada durante a intervenção do safety-car. O resultado
final seria dado pela soma dos
tempos registrados antes e depois
-e registrada, sublinhe-se, por
cronômetros manuais operados à
beira da pista contabilizando cada passagem de cada piloto.
Fim de prova, Emerson e a Lotus tinham certeza de que haviam
vencido. Chapman, como de praxe, jogou o boné para cima, e
Emerson subiu ao pódio. Logo depois que a bandeira brasileira foi
içada, alguém mandou abaixá-la. "E outra pessoa me disse: "Você
não ganhou. Foi Peter Revson'".
Jornalistas da época que ainda
frequentam as salas de imprensa
garantem que Emerson venceu a
corrida e que o pessoal da cronometragem errou nas contas. E
não deve ser só impressão. Naquele tempo, para saber o que estava acontecendo, era necessário
anotar em um mapa a posição de
todos os competidores em todas
as voltas. Não havia monitor de
cronometragem, a transmissão
da TV, se existia, era precária.
No GP seguinte, Cevert morreu.
Emerson, ao ver o amigo esmagado junto com o carro, chorou e
pensou em parar. Não parou. Na
McLaren, foi bicampeão em 74.
Meio manual, meio eletrônico
A FIA anunciou ontem que chegou a um acordo definitivo com os times. Câmbios automáticos e controle de largada serão banidos em
2004, mas o controle de tração continua. Continua também a telemetria do carro para os boxes. Os motores terão que durar um fim de semana inteiro, mas cai a história de unidades para várias corridas a
partir de 2005. Michelin e Bridgestone farão um lote de pneus para
temporal tipo Interlagos, mas que só será usado com permissão do
diretor de prova. E o piloto poderá pular para o carro reserva na classificação, mas este terá que ter a mesma quantidade de gasolina do titular. Em resumo, Max Mosley abriu mão de um evidente exagero
em algumas normas, garantiu o principal das novas regras e ainda
arrancou das montadoras a garantia de um eventual fornecimento
de motores para os times pequenos. Pizza? Mosley escolheu o sabor.
E-mail mariante@uol.com.br
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