São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2005

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FUTEBOL

Fora das quatro linhas

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

A vereadora Soninha, colunista desta Folha, o ex-jogador Sócrates e o jornalista Juca Kfouri encontraram-se com o presidente Lula e parecem tê-lo convencido de que a medida provisória que cria a loteria Timemania, com vistas a levantar recursos para refinanciar dívidas dos clubes com o governo, contém uma série de problemas.
O principal deles seria permitir que os clubes obtivessem um atestado de adimplência sem a contrapartida da responsabilização dos dirigentes por irregularidades administrativas. Os argumentos podem levar o governo a desistir da MP e apresentar a proposta como projeto de lei -o que permitiria um debate mais transparente. Melhor assim.

 

A Timemania foi um dos temas discutidos na semana passada em debate promovido pela Folha. A idéia inicial, proposta pelo presidente da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero, era tratar dos alegados problemas que o fim da Lei do Passe teria causado para os clubes -mas, como previsível, a conversa foi além.
A idéia de que "os clubes de futebol estão cada vez mais pobres e os empresários cada vez mais ricos", manifestada por Del Nero, foi uma boa frase de efeito, mas talvez ela diga mais sobre o despreparo e a ineficiência dos dirigentes do que sobre os efeitos do fim do passe -um tipo de vínculo trabalhista indefensável.
Empresários sempre houve, com ou sem passe, mais ou menos corretos -e sabe-se que em muitos casos há uma íntima articulação entre alguns deles e os dirigentes. É cômoda e fantasiosa a idéia de que os empresários são os responsáveis pela crise dos clubes.
Ainda que todos os presentes tenham reconhecido a necessidade de melhor recompensar os clubes pelos atletas que formam, não restou dúvida de que os dirigentes deixaram de se preparar para os novos tempos e não têm conseguido criar um ambiente de credibilidade e profissionalismo capaz de atrair investimentos e levar o futebol brasileiro a um patamar compatível com suas potencialidades. "Mais que leis, falta competência", disse o meia Ricardinho, que participou da mesa.
De fato, com as honrosas exceções de praxe, e apesar de alguns avanços, ainda falta competência em quase tudo, a começar pela organização do próprio espetáculo, que parece ser intencionalmente concebido para afastar o público dos estádios. Os esforços para assegurar mais segurança e garantir o direito básico do sujeito sentar no assento que comprou têm se revelado frustrantes.
Tampouco se vê, como lembrou José Luiz Portella, ex-secretário-executivo do Ministério dos Esportes, departamentos de futebol que, estruturados empresarialmente, implementem políticas de recursos humanos e acompanhem com cuidado e inteligência a carreira de seus jogadores.
Por mais que haja diferenças econômicas entre Europa e Brasil, está claro que no futebol nosso atraso é bem maior do que poderia e precisaria ser.

Começando
Nada de conclusivo pode ser retirado de duas rodadas de um campeonato que ainda terá mais 40 pela frente. Mas, além do bom início carioca, foi decepcionante o que São Paulo e Corinthians, dois supostos candidatos ao título, mostraram em suas partidas. O "Timón" de Tevez, talvez abalado pela demonstração de talento pugilístico do argentino no episódio em que esmurrou seu colega Marquinhos, ficou devendo muito diante dos investimentos realizados e do talento de algumas de seus jogadores. Já o São Paulo, com a saída de Leão, caiu vertiginosamente. Perdeu de vez o futebol "cascudo" e a inteligência tática que demonstrou no Paulistão. Vejamos se Paulo Autuori conseguirá mudar a atitude do time.

E-mail: mag-machado@uol.com.br

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