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BASQUETE
Dura realidade
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
"Até por conta da miscigenação do povo, o basquete brasileiro tem um potencial
atlético fascinante, superior ao
argentino. Mas não há um bom
trabalho de formação, do jogador
e da pessoa. Tamanho e força você não tem como ensinar. Mas jogo e caráter você pode ensinar.
"Os técnicos têm que se atualizar mais, colher informações. Você não pode passar para um jogador que atua na Europa um treino menos intenso do que aquele a
que ele se habituou no exterior.
Você perde a autoridade.
"A amizade, a cumplicidade, a
união explicam o sucesso da Argentina. Mas no Brasil as vaidades, a inveja, os ciúmes deixaram
a comunidade desunida e os atletas com medo de críticas. A estrutura desconsidera os líderes consagrados, os profissionais que poderiam servir de espelho."
Carlos Duro pisou pela primeira vez no Brasil há exatas duas
décadas. Surpreendeu-se. A "cidade das formigas" não assustou,
o torcedor do Ibirapuera não incomodou. O garoto argentino disputou o torneio infanto-juvenil,
gostou e prometeu voltar.
Em alguns anos, porém, constatou que não tinha nem habilidade nem capacidade atlética para
se firmar como jogador. Dedicou-se à educação física. Fez bico como bedel em escolas. Resolveu ensinar basquete às crianças.
O Obras Sanitarias, clube de
Buenos Aires, interessou-se. O jovem técnico correspondeu. Ascendeu junto com mirim, infantil,
adulto até chamar a atenção de
outros clubes e, finalmente, da comissão da seleção nacional.
Mas esse convite acabou atropelado por outro. Flor Melendez, legendário treinador porto-riquenho, tinha acabado de fechar com
o Vasco. Precisava de um braço
direito, que quebrasse as pedras.
Se até na agitada e impessoal
São Paulo haviam-no tratado
com respeito e simpatia, por que
não no Rio? Carlos Duro pensou
nas belezas cariocas, lembrou-se
dos verões adolescentes em Florianópolis, sonhou com os novos
horizontes profissionais e anuiu.
Nenhum assistente técnico foi
tão laureado no país quanto esse
argentino que migrou em 1999.
Na semana passada, na escolta
de Hélio Rubens, ele ajudou a levar o Uberlândia ao título sul-americano. Os mineiros passaram, na campanha, pelos argentinos do Boca Juniors e do Atenas.
O torneio, geralmente dominado
pelos vizinhos, teve um inédito
desfecho canarinho (o Ajax, de
Goiânia, foi o vice). Deu a impressão de que o Brasil recuperou terreno, de que a hegemonia "hermana" corre riscos. O ponderado
depoimento de Duro, 34, colhido
ainda no calor da conquista, põe
essas coisas em perspectiva.
Faltam-nos a visão tática e o
desapego de um Manu Ginóbili,
que, em plena temporada que o
consagrou como all-star na NBA,
ofereceu-se para liderar a unidade reserva do San Antonio e, do
banco, construiu a virada sobre o
Denver de Nenê. Ou a aplicação
de um Andreas Nocioni (Chicago), que pegou 18 rebotes contra o
Washington, recorde de um calouro em um jogo de playoff. Ou o
destemor de cartolas que pensam
em um projeto moderno de basquete, e não em praia e boate.
Cabresto
Tanto a situação como a oposição bancaram a estadia no Rio de partidários na eleição à presidência da CBB. Virou guerra de "vouchers".
Palavra
Hélio Barbosa lamentou o desembarque de Acre, Amazonas e Rio
Grande do Norte e a "traição" de Toni Chakmati, que havia prometido dar o voto de São Paulo e angariar outros cinco para o oposicionista. "Mas era brincadeira", disse ontem o presidente da Federação
Paulista, depois de ratificar o terceiro mandato de Gerasime Bozikis.
Gratidão
Curiosamente, os dois campeões brasileiros, COC e Ourinhos, são os
desfalques da Liga independente de clubes, organizada por Oscar.
E-mail: melk@uol.com.br
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