São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998

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Contusão que provocou o corte do atacante ocorreu em um jogo de futevôlei
Comissão dispensa Romário

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MARCELO DAMATO
ALEXANDRE GIMENEZ
enviados a Ozoir-la-Ferrière

Numa entrevista coletiva, marcada pelo constrangimento de seus membros, a comissão técnica da seleção brasileira anunciou ontem o corte do atacante Romário, 32, da equipe que vai disputar a Copa do Mundo da França.
Para o lugar do jogador, foi convocado o meia Emerson, 24, do Bayer Leverkusen (Alemanha).
Américo Faria, Zico, Zagallo e Lídio Toledo -nessa sequência- entraram na sala de conferências, montada no Château Grande Romaine (concentração da equipe) mostrando abatimento.
Eles pouco se olharam durante a duração da entrevista coletiva.
O primeiro a falar foi Zagallo. O técnico afirmou que a comissão tinha um comunicado importante a fazer e transferiu a palavra para Toledo. O médico, contrariando os prognósticos que ele próprio tinha dado nos últimos dias, anunciou o desligamento do atacante.
Segundo o fisioterapeuta Claudionor Delgado, "o atacante tem uma desinserção da aponeurose do músculo gêmeo interno".
Trocando em miúdos, a membrana que envolve o músculo do jogador se soltou. Isso gerou um acúmulo de líquidos linfáticos no local. Quando Romário faz exercícios, aumenta a pressão do líquido no músculo, causando dor.
O corte do jogador foi decidido na segunda-feira à noite, quando Toledo recebeu os resultados de um exame vascular e de uma ressonância magnética feitos no domingo à tarde em Paris.
O exame foi pedido depois que o jogador acordou, no último sábado, com dores no local. Depois de ver os resultados, às 23h, os membros da comissão se reuniram. Antes do encontro, Romário foi avisado de que não deveria dormir naquele momento.
Por volta das 23h30, Romário foi convocado pela comissão e recebeu o comunicado de seu corte.
"A contusão não evoluiu como planejamos", disse Lídio.
A ressonância mostrou que o edema do jogador diminuiu de nove centímetros para seis num período de seis dias, data da primeira ressonância magnética feita pelo jogador na França.
"Não podia garantir que ele fosse jogar o primeiro, segundo, nem mesmo o terceiro jogo. É uma lesão que requer tempo e pode provocar dor a qualquer momento", afirmou o médico.
A contusão de Romário foi provocada por uma partida de futevôlei disputada após um período de treinos em Teresópolis. O atacante se apresentou com uma contusão na coxa e fez apenas tratamentos médicos na Granja Comary.
Quando se apresentou para o embarque para a Copa, Romário reclamou da nova contusão.
Inicialmente, a comissão técnica afirmou que as dores do atacante foram provocadas pelo excesso de treinos na bicicleta ergométrica, que foram indicados para a recuperação da contusão.
Com a demora para a volta aos treinos, Toledo passou a dizer que Romário estava com um pequeno edema na perna. Ontem, durante a entrevista, o médico referiu-se ao inchaço como "grande".
Toledo afirmou que não errou a não diagnosticar precocemente a gravidade da contusão do jogador. "Existem mil causas de uma dor muscular", disse.
O técnico Zagallo afirmou que a decisão foi tomada por toda a comissão técnica. "Esse foi um caso especial, pela categoria do jogador. Fomos até o limite que podíamos e fizemos o máximo para ele continuar na seleção", afirmou.
Zagallo disse que a convocação de um meia não vai desfalcar o ataque do time. "Outros jogadores, como Rivaldo, Giovanni e Denílson, podem fazer essa função."
Alguns minutos depois da entrevista da comissão técnica, o atacante entrou no salão. Romário deu um depoimento de cinco minutos, interrompido duas vezes pelas lágrimas. Quando começou a chorar pela terceira vez, foi retirado do salão por Nelson Borges, assessor de imprensa da seleção.
"O futebol nos proporciona coisas boas e ruins, positivas e negativas. E esse é um momento muito difícil na minha vida", disse Romário, que embarcaria ontem mesmo para o Brasil num vôo da Varig, que chegaria hoje ao Rio de Janeiro às 7h30.


Colaborou
Noelly Russo
, enviada a Paris



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