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ALBERTO HELENA JR.
Fogueira de incertezas
A imolação de Romário foi um ritual sombrio, executado numa
gigantesca tenda armada nos jardins do Château de Grande Romaine como se fosse um daqueles
templos evangélicos onde se
anunciavam o fim dos tempos à
época da depressão americana.
Não faltou nem sequer o grand
finale, com Romário, solitário no
centro do palco, em prantos,
diante de uma platéia de jornalistas constrangidos.
Digo que foi imolação porque
duvido das razões anunciadas
pela comissão técnica, quando
não reprimo o riso diante da justificativa de Zagallo: "Ninguém
cortou o Romário. Foi a ressonância que cortou o jogador".
Dona Ressonância, essa senhora
cruel, pois, é a mais nova integrante da nossa comissão técnica.
E ela foi convocada no momento
exato em que Zagallo necessitava
desesperadamente de uma solução não para o caso Romário,
mas, sobretudo, para o problema
César Sampaio, muito mais cruciante, a um passo da estréia.
Assim, queima-se Romário na
fogueira das incertezas ateadas
pela própria comissão técnica
desde a convocação do time, para
se tentar, em cima da bucha, extrair das cinzas a solução para
um problema que ali estava plantado no nosso meio-campo há
quatro anos e que só agora foi
constatado pelo treinador: não
há um médio volante, destro, capaz de se compor com Dunga no
combate e com Giovanni e Cafu
na armação e no ataque.
Eis por que, como último lance,
chama-se Emerson, que já havia
sido convocado tempos atrás, e
que exerce melhor essas funções
do que os três volantes que temos
por aqui -Dunga, Doriva ou César Sampaio- , para o lugar de
Romário.
E mais que isso: a vinda de
Emerson (que, sou capaz de apostar, vai ser o titular na Copa)
abriu uma vaga perspectiva de
Zagallo avançar Denílson ao lado de Ronaldinho, caso Bebeto e
Edmundo sigam praticando o futebol burocrático que vêm realizando.
De qualquer forma, o confrangedor episódio de ontem é a constatação de que só agora, com o
juiz de apito na boca, é que vamos montando um time mais
equilibrado.
Pelo menos no papel. Em campo, só Deus sabe.
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