São Paulo, quinta, 3 de junho de 1999

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O tira-teima das últimas décadas

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

É uma pena que Brasil e Holanda não estejam completos para realizar o que seria um tira-teima em três partidas.
Brasileiros e holandeses desenharam alguns dos melhores momentos do futebol nos últimos 30 anos. Tostão fez ontem um resumo tático das duas seleções. Vamos, pois, conversar sobre a dimensão histórica.
Os brasileiros encantaram o mundo em 70, com um sistema tático que tirava partido de um dos melhores elencos de todos os tempos. Os holandeses retrucaram em 74 com o carrossel -uma geração de jogadores talentosos em um sistema tático que revolucionava o futebol. Os destaques eram o extraordinário jogador Johan Cruyff e o técnico Rinus Michels.
Brasileiros passam por um período de crise tática em 74, procurando inovar taticamente com Cláudio Coutinho em 78, mas não tinham um elenco regular. Sem a mesma agilidade, o carrossel holandês ainda girou em 78, ficando, novamente, em segundo lugar.
Em 82, brasileiros encantam novamente com um técnico inovador, Telê Santana, e um excelente elenco, sobretudo com meio-campistas (Falcão, Cerezo, Batista) e meias-de-ligação (Zico, Sócrates, Paulo Isidoro). O ano de 86 vê o ocaso dessa geração.
Os holandeses entram em decadência no início dos 80, mas uma nova safra de talentosíssimos jogadores começava a ser gestada, entre eles, os companheiros de peladas desde garotos Ruud Gullit e Frank Rijkaard (o atual técnico holandês) juntos com o excepcional atacante Marco van Basten e o líbero Ronald Koeman.
Comandados novamente por Michels, os novos holandeses explodem em 88, conquistando a Copa de seleções européias.
Em 90, as duas vivem grande crise. Os brasileiros, com um time em transição, um técnico (Lazaroni) sem legitimidade para impor seu 3-5-2 e muita bagunça, foram um fracasso.
Apesar do excelente nível do elenco, os holandeses estavam desmotivados e divididos: parte deles havia tentado impor Cruyff como técnico e não conseguiu. Outro fracasso.
Os brasileiros iniciam os 90 adotando um esquema mais defensivo, consagraram o 4-4-2, vencendo a Copa de 94.
Os holandeses iniciam os 90 adotando um esquema bem ofensivo, com três zagueiros, quatro meias e três atacantes, com ponta-direita e esquerda. Gullit recusou-se a ir à Copa -queria a Holanda jogando no 4-4-2, como os brasileiros.
Esses esquemas se enfrentam nas Copas de 94 e 98, com duas vitórias brasileiras, em dois jogos que muitos consideram como os melhores dessas Copas.
As duas agora vivem processos de transição, com excelentes jogadores à disposição dos novos técnicos.
Luxemburgo tenta mexer na maneira como jogam os volantes brasileiros, procurando iniciar neles as jogadas ofensivas.
Rijkaard manteve a mudança holandesa para quatro zagueiros, mas, como ele encerrou a carreira no Ajax atuando como o defensor do meio no esquema de três zagueiros -posição que os holandeses consideram como fundamental-, pode ser que altere o sistema defensivo.
Holanda e Brasil têm espalhado jogadores de alta qualidade técnica pelo mundo. Suas torcidas têm em comum o gosto pela habilidade e criatividade.
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Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S.A.




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