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Guerrilheiros da alegria
DANUZA LEÃO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Brasília viveu ontem seu mais
glorioso dia: sol, céu azul e uma
alegria daquelas. Quem menos ria
comia os brincos, tal o riso solto e
a euforia cívica.
O mundo político, por um dia,
esqueceu-se das eleições, e vamos
fazer justiça: nenhum candidato
tentou tirar uma simples casquinha dos jogadores.
O Palácio do Planalto parecia
um colégio no último dia de aula;
os jornalistas, os assessores, os
ministros, todos levaram seus filhos, os filhos de seus amigos e os
filhos do vizinho. Havia até crianças de colo dormindo profundamente.
Os modelitos eram de vários estilos; desde o tailleur clássico, até
um inesquecível demi-longo de
musselina de oncinha, e por cima
-por cima- uma minissaia
jeans, dá para acreditar?
Os que chegaram mais cedo, tipo às 9h: Pedro Parente com várias crianças, Catarina Malan de
camisa da seleção com outras várias e Maria Pia Venâncio de terninho azul claro e cabelos esvoaçantes. O tempo foi passando e
nada dos jogadores; para saber
onde eles estavam, as pessoas ligavam para casa e perguntavam
aos que estavam vendo televisão
onde eles estavam.
"Saíram do aeroporto."
"Passaram pelo eixo."
"Estão na rodoviária." E assim
fomos acompanhando o roteiro
da nossa gloriosa seleção.
Sem se importar com a etiqueta
do poder, a filha de Fernando
Henrique -não a Bia, a Luciana-, mais os netos do presidente
e algumas amigas se instalaram
no parlatório como se estivessem
no jardim de sua própria casa.
Com tantos anos no poder já deveriam saber que parlatório é território exclusivo de presidentes e
jogadores de futebol.
A cada 15 minutos passava alguém carregado numa maca, sendo que alguns enrolados na bandeira do Brasil. Nada de grave:
apenas muito sol na cabeça e
emoção demais.
O tempo passava e nada dos jogadores. O ministro Weffort passeava pelo salão com uma bola de
futebol na mão, o que não combinou nada com seu estilo, e Lars
Grael exibia uma belíssima gravata azul cheia de bandeirinhas do
Brasil.
Às 14h, ainda nada, mas nada
mesmo: nem os jogadores nem
pão nem água. Os mais enturmados subiram para a sala de Fernando Henrique, que assistia a tudo diante da televisão, rodeado de
ministros. Ruth Cardoso não segurou o tranco e levou as crianças
para almoçar em casa.
Às 14h30 parecia fim de festa: alguns se espicharam no chão,
crianças corriam, um verdadeiro
pandemônio. Mas no ar cinco
aviões faziam vôos rasantes, comemorando o penta. Tudo lindo.
Eram 15h quando surgiu no horizonte, enfim, o carro trazendo
os jogadores. Abrindo o caminho,
uns cem policiais a cavalo, todos
segurando uma bandeirinha do
Brasil -uma belíssima produção.
Quando a seleção subiu a rampa
do Planalto, parecia um bando de
guerrilheiros tomando o poder;
era a guerrilha da alegria sambando e brincando, rindo e feliz da vida. O dia era deles, de mais ninguém.
Tocou o hino nacional, claro, e
quem cantava com mais ardor era
Pedrinho Malan, 9, que é a cara do
pai -até olheiras ele já tem. Depois de condecorar os jogadores,
Fernando Henrique teve o bom
senso de desaparecer e deixar a
seleção brilhar sozinha. E foi aí
que a festa começou de verdade.
O "Ouviram do Ipiranga" virou
refrão e era repetido sem parar
-só a primeira parte, claro, que é
fácil. A ministra Anadyr foi vista
sambando ao som do "Ouviram",
cheia de amor pra dar.
Foram sete horas sem comer,
sem beber e sem poder ao menos
retocar a maquiagem, mas valeu.
Quando alguém hasteou uma camisa amarela na fachada do Palácio do Planalto, não foi preciso explicar mais nada.
Valeu, Pátria Amada, valeu,
Terra Adorada. Valeu mesmo.
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