São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Clã dos Chávez afaga os "yankees" em seu reduto

Em Barinas, terra do presidente venezuelano, seleção americana ganha mimos

Pai e irmãos não repetem comportamento de Hugo e oferecem presentes para o técnico da seleção dos EUA, que agradece a acolhida

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARINAS

No acanhado aeroporto de Barinas, o torcedor venezuelano José Rafael Lara, de 17 anos, grita à fila de soldados armados com rifles AK-103 recém-adquiridos da Rússia: "O Bush não vem!".
Mas o argumento de nada adianta. Depois de embarcar num ônibus estacionado na pista, a seleção americana deixa o aeroporto, frustrando o punhado de torcedores que apareceram anteontem de manhã para saudar os jogadores.
"Queríamos receber até o imperialismo, mas o governo não nos deixa", lamenta Lara.
O motivo de tanta precaução está no campo da política. O Estado de Barinas, cuja capital de 260 mil habitantes leva o mesmo nome, é a terra natal do presidente Hugo Chávez, que chama Bush de "diabo" e costuma repetir o refrão "yankees go home" (e não "come home"). Há duas semanas, acusou os EUA até de um plano para sabotar a Copa América.
O presidente está longe de Barinas, mas não a sua família. O pai, Hugo de los Reyes Chávez, é o governador. O clã tem ainda os irmãos Adelis, coordenador local da Copa América, Argenis, secretário estadual de Governo, Narciso, coordenador regional do convênio médico com Cuba, e Aníbal, prefeito de Sabaneta, cidade ao lado de Barinas onde o presidente nasceu.
No domingo à tarde, dois Chávez, Hugo pai e Adelis, sentaram-se ao lado do técnico da equipe americana, Bob Bradley, durante uma entrevista realizada dentro de um imenso quartel do Exército.
Pouco antes de a entrevista começar, Adelis mostrou uma camisa do time americano com o nome Chávez nas costas, arrancando apenas um sorriso amarelo de Bradley. Talvez tenha lembrado que o presidente venezuelano havia palpitado uma vitória paraguaia por 3 a 0 no jogo de ontem à noite.
Enquanto os venezuelanos brincam com a tensão entre os dois países, a estratégia americana é ignorá-la. Questionado sobre a segurança, Bradley se limitou a dizer: "Temos sido muito bem tratados. As pessoas são amigáveis, e as acomodações são maravilhosas".
Culpa do suposto boicote americano ou da família Chávez, o fato é que Barinas não conseguiu se preparar a tempo para a Copa América.
A ampla reforma deixou o estádio La Carolina com um ar moderno, mas não conseguiu o objetivo principal, de ampliar a capacidade de 22 mil para 27 mil pessoas. O fracasso tirou da cidade dos Chávez um dos jogos das quartas-de-final.
O problema não foi falta de dinheiro: orçada em US$ 60 milhões, a reforma custou apenas US$ 7 milhões a menos que o recém-construído estádio de Maturín -com 52 mil lugares, é o maior do país.
O cancelamento aumentou ainda mais o interesse pelo jogo entre Paraguai e Estados Unidos, o único da Copa América em Barinas. Todos os ingressos foram vendidos em apenas quatro dias.
E Chávez quase acertou o resultado da partida de ontem: a equipe sul-americana venceu com o placar de 3 a 1. Curiosamente, o único gol norte-americano foi mais comemorado do que os tentos paraguaios.
Mas no final o estádio lotado pedia "um gol", não importava de quem. E a única vaia foi quando o alto-falante lembrou que era proibido consumir bebidas alcoólicas.
A 515 km a sudoeste de Caracas, em região de pecuária, Barinas tratou o jogo como o evento esportivo mais importante realizado na cidade, a ponto de o governador decretar feriado estadual.
"Aqui você não vai escutar "yankees go home'", disse o professor Jesus Mendoza, 45, pouco antes do jogo. "Isso aqui é uma festa esportiva."


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