São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SONINHA

"Gol é detalhe"


Às vezes dá tudo certo, mas falta sair o gol. Às vezes ele surge, apesar da ruindade. Gol não é apenas pontaria


NAS ÚLTIMAS rodadas, o Palmeiras, como já comentei, fez vários jogos em que merecia a vitória por pontos, mas perdeu por nocaute. Apesar de envolver o adversário e criar várias chances de gol, viu as traves e os goleiros impedirem a maioria deles -sem falar nos erros por pouco, com a bola passando a centímetros da meta.
No clássico de sábado, como li na Folha, "um gol no fim do primeiro tempo, num escanteio, marcado por um zagueiro, de carrinho, foi o suficiente para que o alívio palmeirense fosse imediato. Para o time e sobretudo para o técnico Caio Júnior. Ao anotar 1 a 0 no clássico, o defensor Dininho deu a seu comandante sobrevida no clube".
O gol saiu em uma jogada ensaiada; o técnico fez a parte dele. Mas, se por algum detalhe a bola não entra, Caio Jr. talvez estivesse agora de aviso prévio. Seria justo?
No empate sem gols com o Grêmio, Luxemburgo disse: "Gostei da molecada, que conseguiu envolver o time deles. Porém faltou o lance final, perto da área, que definiria o jogo". Quer dizer, "só" faltou o gol.
Na quinta-feira passada, segundo Rogério Ceni, "tirando a finalização, o São Paulo foi perfeito". Os jogadores do tricolor saíram com a sensação de que seu gol não sairia mesmo que jogassem mais meia hora. Segundo o Datafolha, o time de 2006 tem média de finalizações muito parecida com o que marcou 66 gols no ano passado -""eram 15,9 em 2006, hoje são 15,4". Foi a pontaria que piorou.
Mas gol não é só pontaria -mirar, chutar, acertar. Se fosse, bastaria treinar finalizações com mais afinco que a produtividade dos ataques aumentaria muito. O treinamento é indispensável -e talvez não seja sempre executado com a intensidade recomendável-, mas, tirando as "bolas paradas", chutar a gol envolve fatores difíceis de reproduzir em um treino, por melhor que seja. Interferem na conclusão a direção em que o jogador se desloca, a sua velocidade e a dos adversários (e a dos companheiros de time); a força, a altura e o efeito com que a bola chega até ele; o seu fôlego, resistência e equilíbrio.
Parece óbvio, mas freqüentemente nos referimos a um gol perdido como se ele não dependesse de tudo isso... Como se o jogador estivesse parado, centrado com a bola certinha diante do pé e ninguém ao lado, na frente ou atrás. Alguns gols perdidos estavam mesmo "feitos"; outros eram bem mais difíceis do que pareciam.
Não foi por outro motivo que Parreira disse que "gol é detalhe". Ele não quis dizer que é apenas um detalhe do jogo, mas sim que, às vezes, por um detalhe -ou capricho, como dizemos- não acontece.
Um elemento que tem muita interferência sobre os outros é o estado emocional. O craque é aquele cujas qualidades resistem mesmo sob imensa pressão -mesmo assim, nenhum deles é infalível.
O Brasil não fez gol contra o México, embora tenha começado bem o jogo e feito um segundo tempo cheio de oportunidades. A partida de domingo foi horrível -com a colaboração inestimável do adversário e do árbitro, que também capricharam na ruindade. Mas fizemos três gols. O "detalhe" foi Robinho. É melhor não contar só com isso.

soninha.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Olimpíada-2008: Ginásio para jogos de Pequim pega fogo
Próximo Texto: Jorginho vê gafe tática de Dunga como "relativa"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.