São Paulo, Domingo, 03 de Outubro de 1999
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Ligou a câmera e recriou o esporte



Primeira rede de TV dedicada ao esporte completa 20 anos e busca alternativas para se destacar das emissoras que hoje seguem seu caminho
ROBERTO DIAS
da Reportagem Local

Nos anos 70, na pequena Bristol, no Estado norte-americano de Connecticut, um ex-locutor de um time de hóquei no gelo pensou que os habitantes da cidade gostariam de assistir, em videoteipe, à noite, aos jogos das escolas e universidades da região.
Na sequência, o visionário, chamado Bill Rasmussen, descobriu que custaria o mesmo fazer uma hora de transmissão para a região ou para o país inteiro.
Fez então a primeira inscrição do negócio de TV paga nos EUA. E criou a ESPN, dando início a uma saga pioneira que ajudou a mudar o papel e a importância do esporte no mundo.
Cavou, com isso, espaço para um assunto cujo noticiário na TV norte-americana se restringia até então a três minutos e meio em duas edições diárias, logo depois da previsão do tempo.
E atraiu a atenção da Getty Oil, para quem vendeu 85% do negócio, fazendo US$ 3 milhões -para um investimento de US$ 18 mil.
A epopéia da rede, a primeira totalmente dedicada a transmitir e noticiar esporte, está completando agora 20 anos.
"Não havia mais espaço na TV aberta para esporte. A ESPN percebeu o potencial da área e aproveitou a expansão do cabo", diz Richard Stone, vice-presidente de vendas internacionais da rede.
"Eles foram os primeiros a ver esse nicho da popularização do esporte", diz Luiz Fernando Pozzi, da Rede Globo e professor de marketing esportivo da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Dado o grande passo para consolidar o esporte como um negócio dos grandes, os números desse mercado passaram a conhecer um crescimento próximo do exponencial. E os da ESPN também.
Autoproclamada líder mundial em esportes, a rede transmite hoje em 21 idiomas, para cerca de 180 países. Seu canal principal tem 76 milhões de assinantes nos EUA e o dobro no resto do mundo.
Leva ao ar desde os tradicionais esportes americanos (NBA, beisebol, futebol americano, Indy) até competições de golfe e eventos esdrúxulos, como a disputa do ""Homem mais Forte do Mundo".
E o esporte levou a ESPN a bater alguns recordes em seus 20 anos de história. Em 95, tornou-se a primeira rede "fechada" (paga) a atingir 70% do mercado dos EUA.
Sucesso semelhante tem sido experimentado pela ESPN2, lançada em 1993 para permitir o aumento do número de esportes transmitidos e que experimentou o crescimento mais rápido da história da TV a cabo nos EUA.
Uma história que, claro, tem suas gafes -algumas empresariais, ocorridas nos bastidores, outras transmitidas ao vivo.
Como chamar Michael Jordan de "Mike" em seu primeiro jogo no basquete colegial.
Menos mal que a mancada da rede em 1983, quando deixou escapar os direitos de transmissão da NBA nos EUA para a Turner Sports (TNT) -hoje, a rede pode transmitir a liga norte-americana de basquete apenas para o resto do mundo, mas não para os EUA.
Mas, se foi pioneira, a ESPN não é mais única. Enfrenta concorrentes como Rupert Murdoch, o magnata australiano que arrombou o mercado norte-americano para sua Fox -trazendo a tiracolo a Fox Sports. Ou da CNN/SI, do conglomerado Time Warner.
Diante disso, a ESPN expandiu os negócios -surgiram outros cinco canais nos EUA, seus braços internacionais, uma revista com tiragem de 850 mil exemplares e restaurantes temáticos.
A rede garantiu também sua sustentação, aliando-se a grupos mais poderosos -hoje é controlada pela ABC, pertencente à Disney. A Hearst Corporation tem 20% das ações, parcela que vale entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões.

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