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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Os técnicos: Hume

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Davi Hume nasceu em Bananal. Poucos abalaram tão profundamente a história do esporte bretão.
Pelo menos em Bananal.
Hume era um pensador natural. Segundo ele, nosso conhecimento do futebol está maculado por uma série de preconceitos que não têm correspondência com a realidade.
Ao assumir o comando do time local, ele resumiu seu sistema numa frase. Ou melhor, em duas:
- Vamos voltar a ser crianças! Vamos reaprender a jogar bola!
Abandonando velhos esquemas, o Grêmio Recreativo Bananal entrava em campo sem ordenações táticas: os defensores atacavam, os atacantes defendiam, e os meio-campistas zanzavam pelo gramado, mais preocupados em descobrir novas possibilidades e em fazer jogadas bonitas do que em lutar pela vitória.
Muito antes de Chilavert ou Rogério Ceni, o goleiro Fonsequinha se lançava ao ataque. E seus gols (foram vários) não nasceram de lances de bola parada, mas de tabelas e triangulações feitas com os companheiros de ataque.
Havia momentos em que todos os jogadores se concentravam de um lado do campo e outros em que tentavam ir da defesa ao ataque dando apenas passes de cabeça. Tudo valia a pena, desde que fosse feito com a atitude de descobrimento e a abertura para a inovação que Hume exigia.
Essa tática trouxe dois resultados imediatos: um, o Bananal passou a perder todos os jogos; dois, o Bananal passou a encantar as multidões.
A diretoria, a princípio, pensou em demitir o treinador, mas depois, vendo as filas na bilheteria, deu carta branca para que fizesse o que bem entendesse.
As coisas continuaram bem até o dia em que o Bananal venceu seu primeiro jogo: 9 a 8 contra o Operário de Barra Mansa.
Outras partidas vieram, e o Bananal seguiu em seu caminho triunfante.
Mas as vitórias tinham uma causa. É que os jogadores foram achando naturalmente posições fixas em campo e assumindo uma determinada ordem tática que os levava às vitórias.
De nada adiantavam os gritos desesperados de Hume, exigindo que eles criassem e mantivessem a mente aberta. Os atletas tinham contas para pagar e precisavam dos bichos pelas vitórias.
Hume deixou o time no dia em que este se classificou para a fase final da Copa do Café.
Semanas depois, quando lhe informaram que seus ex-pupilos haviam sido campeões, foi como se lhe tivessem dado uma notícia de morte. Cabisbaixo, Hume afirmou tristemente:
- Eles preferiram um troféu de lata ao ouro do conhecimento.
O Bananal perdeu o título na temporada seguinte e, aos poucos, foi se tornando o time comum dos nossos dias.
O estádio, que vivia lotado, hoje mal reúne uma dúzia de torcedores a cada partida.
Hume mudou-se para Mangaratiba. A última notícia que recebi dele foi que estava feliz como técnico de um time de crianças.

Edmundo
E o ex-presidente do Flamengo Edmundo Santos Silva foi preso por aplicar golpes no INSS. Não terá feito nada de errado no Flamengo? Caso tenha feito, os conselheiros rubro-negros terão feito vistas grossas ou foram incompetentes? Ao que parece, no Brasil é mais fácil derrubar o presidente da nação do que um presidente de clube.

Nobel
Celso Furtado possui vários admiradores que desejam indicá-lo para o prêmio Nobel de economia. Mas ele terá adversários muito fortes. E daqui mesmo, do Brasil. Um grupo de torcedores santistas escreveu-me dizendo que pretende lançar a candidatura dos empresários de Fabiano, Marcelo Peabiru, Reginaldo Araújo e Val Baiano. Será um páreo duro.

E-mail torero@uol.com.br


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