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FUTEBOL
Os técnicos: Hume
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Davi Hume nasceu em Bananal. Poucos abalaram tão
profundamente a história do esporte bretão.
Pelo menos em Bananal.
Hume era um pensador natural. Segundo ele, nosso conhecimento do futebol está maculado
por uma série de preconceitos que
não têm correspondência com a
realidade.
Ao assumir o comando do time
local, ele resumiu seu sistema numa frase. Ou melhor, em duas:
- Vamos voltar a ser crianças!
Vamos reaprender a jogar bola!
Abandonando velhos esquemas, o Grêmio Recreativo Bananal entrava em campo sem ordenações táticas: os defensores atacavam, os atacantes defendiam, e
os meio-campistas zanzavam pelo gramado, mais preocupados
em descobrir novas possibilidades
e em fazer jogadas bonitas do que
em lutar pela vitória.
Muito antes de Chilavert ou Rogério Ceni, o goleiro Fonsequinha
se lançava ao ataque. E seus gols
(foram vários) não nasceram de
lances de bola parada, mas de tabelas e triangulações feitas com os
companheiros de ataque.
Havia momentos em que todos
os jogadores se concentravam de
um lado do campo e outros em
que tentavam ir da defesa ao ataque dando apenas passes de cabeça. Tudo valia a pena, desde que
fosse feito com a atitude de descobrimento e a abertura para a inovação que Hume exigia.
Essa tática trouxe dois resultados imediatos: um, o Bananal
passou a perder todos os jogos;
dois, o Bananal passou a encantar as multidões.
A diretoria, a princípio, pensou
em demitir o treinador, mas depois, vendo as filas na bilheteria,
deu carta branca para que fizesse
o que bem entendesse.
As coisas continuaram bem até
o dia em que o Bananal venceu
seu primeiro jogo: 9 a 8 contra o
Operário de Barra Mansa.
Outras partidas vieram, e o Bananal seguiu em seu caminho
triunfante.
Mas as vitórias tinham uma
causa. É que os jogadores foram
achando naturalmente posições
fixas em campo e assumindo uma
determinada ordem tática que os
levava às vitórias.
De nada adiantavam os gritos
desesperados de Hume, exigindo
que eles criassem e mantivessem a
mente aberta. Os atletas tinham
contas para pagar e precisavam
dos bichos pelas vitórias.
Hume deixou o time no dia em
que este se classificou para a fase
final da Copa do Café.
Semanas depois, quando lhe informaram que seus ex-pupilos
haviam sido campeões, foi como
se lhe tivessem dado uma notícia
de morte. Cabisbaixo, Hume afirmou tristemente:
- Eles preferiram um troféu de
lata ao ouro do conhecimento.
O Bananal perdeu o título na
temporada seguinte e, aos poucos,
foi se tornando o time comum dos
nossos dias.
O estádio, que vivia lotado, hoje
mal reúne uma dúzia de torcedores a cada partida.
Hume mudou-se para Mangaratiba. A última notícia que recebi dele foi que estava feliz como
técnico de um time de crianças.
Edmundo
E o ex-presidente do Flamengo
Edmundo Santos Silva foi preso por aplicar golpes no INSS.
Não terá feito nada de errado
no Flamengo? Caso tenha feito,
os conselheiros rubro-negros
terão feito vistas grossas ou foram incompetentes? Ao que
parece, no Brasil é mais fácil
derrubar o presidente da nação
do que um presidente de clube.
Nobel
Celso Furtado possui vários admiradores que desejam indicá-lo para o prêmio Nobel de economia. Mas ele terá adversários
muito fortes. E daqui mesmo,
do Brasil. Um grupo de torcedores santistas escreveu-me dizendo que pretende lançar a
candidatura dos empresários
de Fabiano, Marcelo Peabiru,
Reginaldo Araújo e Val Baiano.
Será um páreo duro.
E-mail torero@uol.com.br
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