|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Schumacher da Silva
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A ciência ou uma pseudo-ciência mostrou nestes últimos dias a solução final para a F-1: a clonagem. Laboratório das
pistas, vanguarda da tecnologia,
a maior categoria do automobilismo só tem uma saída: produzir
bons pilotos em série, uma família só de Schumachers e entupir o
grid com duas dezenas de alemães excepcionais e queixudos.
Claro, poderiam ser duas dezenas de Clarks ou Sennas, como
preferirem. Mas como o parâmetro atual é o pentacampeão, e ele
já tem mesmo cara de piloto de
laboratório, vai assim mesmo.
Duas dezenas talvez não sejam
suficientes, a vida é cheia de percalços. Alguns não devem vingar,
outros vão se interessar por música, outros vão se apaixonar e alguns outros simplesmente vão
considerar essa história de carro
muito chata. Estimo, por estatística, que, em um universo de 50
Schumachers, pelo menos 20 se
interessem seriamente pela coisa.
Bem, seria necessário esperar
uns 20 anos para todos crescerem
fortes e saudáveis. Para amenizar
a espera pelo maior Mundial de
todos os tempos, talvez fosse o caso de as emissoras de TV acompanharem a trajetória de cada um,
das fraldas às pistas, um reality
show planetário. A cada 15 dias,
que tal nas manhãs de domingo,
acompanharíamos os pequenos
Michaels e suas pequenas travessuras, as primeiras voltas de velocípede, os xixis na cama, as notas
no colégio, os primeiros beijos, os
torneios de kart, as primeiras vitórias, as primeiras derrotas.
Alguém provavelmente teria a
genial idéia de colocar cada um
deles em países diferentes, com
pais diferentes e educações diferentes. E com um forte argumento: garantido geneticamente o talento, descobriríamos finalmente
se é a água do Brasil que forma
bons pilotos. Ou se é o cheiro de
gasolina das oficinas inglesas. Ou
se é a paixão italiana, a tradição
francesa, a Mercedes-Benz, Indianápolis ou a simples alegria australiana de assistir corridas.
Sensacional, não? Não haveria
desculpa, passaríamos duas décadas engordando nosso pequeno
Michael, que chamaríamos de Zé,
João, Silva, sei lá, apenas para imprimir uma tonalidade local. Infância em Santa Catarina, para
que ele não perder o sotaque alemão e o gosto pela cerveja, estudos em São Paulo e férias no Nordeste, nadando no mar e brincando de capoeira, uma genuína preparação física do bananal -e para mesclar, um judô em São Caetano e pode ser útil em momentos
difíceis um jiu-jitsu no Rio.
Alguém me lembra também
que seria fundamental trancá-lo
por alguns meses, talvez um ano,
com Piquet em determinado ponto inóspito do Mediterrâneo. E, finalmente, correr, correr muito, de
Guaporé a Tarumã, de Curitiba a
São Paulo, de Goiânia à Brasília,
de Jacarepaguá à qualquer avenida que tenha racha.
Óbvio, vai faltar dinheiro para
a formação, mas isso faz parte do
automobilismo nacional. E, afinal, não era o Schumacher genuíno que escolhia pneus usados dos
garotos ricos para correr de kart?
Se vai dar certo? Claro que vai, é
batata. Vai dar tão certo que vamos esquecer que ele é um Schumacher. Ele será apenas mais um
Silva, terá a pele encardida pelo
sol, falará palavrão, será um honesto quarto-zagueiro e vai dizer,
quando ganhar de seus irmãos de
laboratório, beijando uma camisa da seleção e com uma lata de
cerveja quente na mão, que essa
história de genética é cascata.
Mais mudança
A "Autosport" publicou que a FIA e os times decidem no dia 15, em
Heathrow, o banimento do controle de tração e da telemetria bidirecional -a que permite aos técnicos nos boxes regularem o carro
na pista. A alegação é diminuir custos. E a despeito da aprovação
ou não, a entidade adianta que vai aumentar o rigor nas inspeções
técnicas durante os GPs, principalmente em áreas ainda nebulosas
para os fiscais, como sistemas de freio, suspensão e diferencial.
Vôo solo
A Williams confirmou nesta semana que contou apenas com suas
forças na construção do estreante FW25. Há alguns meses, após fazer críticas educadas mas duras ao modelo anterior, a BMW ofereceu engenheiros e tecnologia de chassi que desenvolve por conta
própria desde sua primeira participação na F-1, nos anos 80. Patrick Head declinou. Se o carro não render o esperado, os parceiros
mais afinados da F-1 no momento viverão sua primeira crise.
E-mail - mariante@uol.com.br
Texto Anterior: Marcos volta ao Palmeiras, mas em silêncio Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Misturados venceremos Índice
|