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FUTEBOL
Misturados venceremos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
No discurso de posse lido
por Lula no Congresso, o trecho que mais me tocou foi aquele
em que o novo presidente destacou nossa miscigenação étnica e
nosso sincretismo cultural como
contribuições preciosas do Brasil
ao mundo.
A idéia não é nova, claro. Desde
Gilberto Freyre, passando por
Darcy Ribeiro e pelos tropicalistas, vários intelectuais e artistas
brasileiros têm procurado mostrar que a mistura e a variedade
que nos caracterizam são fatores
de riqueza, e não defeitos, como
durante muito tempo nossa "elite" quis nos fazer crer.
O que nos deformou como nação foram outras coisas: a escravidão, a exploração predatória do
solo e das águas, o autoritarismo,
a ignorância endêmica. É essa herança que precisamos superar.
Mas a assimilação de inúmeras
culturas e etnias, as incontáveis
possibilidades de combinação entre elas, isso é nosso maior patrimônio.
Um exemplo evidente é a música. É provável que não exista no
mundo uma música popular
mais fecunda e diversificada que
a brasileira, graças ao entrelaçamento (e às vezes ao entrechoque)
de ritmos e gêneros vindos da
África, da Península Ibérica, da
América do Norte e do Caribe.
O que essa conversa toda está
fazendo numa coluna dedicada
ao futebol? A resposta é óbvia. O
futebol brasileiro é outro exemplo
fulgurante da nossa singular contribuição cultural à humanidade.
Não se trata de repetir o chavão
de que jogamos "o melhor futebol
do mundo", nem tampouco de dizer que só demos certo "no samba
e na bola". A música e o futebol
são como senhas para pensarmos
nossa inserção no mundo.
O importante, no caso, não é ter
o melhor futebol, mas sim o "nosso" futebol, jogado de um jeito
que nenhum outro povo joga. Essa é nossa dádiva original ao planeta de chuteiras.
Hoje, depois de cinco Copas do
Mundo conquistadas, a excelência dos nossos futebolistas e do
nosso modo de jogar parece incontestável. Mas nem sempre foi
assim.
Depois da vitória da Inglaterra
na Copa de 66, por exemplo, muitos analistas e treinadores concluíram que o futebol brasileiro
estava superado e que deveria se
render à suposta superioridade
britânica.
Zombando dessa tendência colonizada, Nelson Rodrigues comentou que, durante um amistoso entre Brasil e Inglaterra, no
Maracanã, em 1968, os cronistas
brasileiros elogiavam até as bolas
recuadas pelos ingleses a seu goleiro. "Como eles recuam bem",
diziam os deslumbrados, antes de
o Brasil vencer de virada com gols
de Tostão e Jairzinho.
Nelson Rodrigues, escritor inigualável, via o futebol através das
lentes do nacionalismo. Não é o
meu caso. Mas confesso que me
comovo não apenas com as vitórias brasileiras, mas principalmente com a admiração que nosso jogo inspira nos estrangeiros.
Já citei aqui a frase do historiador britânico Eric Hobsbawn, um
dos maiores intelectuais vivos:
"Quem viu Pelé e seus companheiros jogarem não poderá negar ao futebol o estatuto de arte".
Nestes tempos de mudanças
-ou pelo menos de esperança-,
seria bom que nos convencêssemos de vez de que não somos um
povo manco, olhando de baixo
para cima a elite do mundo.
Quem transforma uma correria
bruta em arte é capaz de muitas
outras maravilhas.
Basta acreditar.
Verde azulado
Com a contratação de Adãozinho e a volta de Claudecir e
Magrão, o Palmeiras, sob a
batuta de Jair Picerni, ganha
uma feição muito parecida
com a do São Caetano que
surpreendeu o país nos últimos três anos. O forte do
Azulão, apesar das várias
mudanças que sofreu no período, sempre foi, a meu ver,
a solidez de seu meio-campo.
O que mais faltou ao Palmeiras no ano passado foi, justamente, um meio-campo consistente.
Dúvidas corintianas
O Palmeiras tenta se reestruturar, o Santos busca evitar o
desmanche, o São Paulo corrige seus pontos fracos. E o
corintiano se aflige: Beto vem
ou não vem? Vampeta fica ou
sai? Nesse contexto de dúvidas, aproveito para meter minha colher: por que não tentar trazer Adriano (ex-São
Paulo) para reforçar o meio-campo alvinegro?
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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