São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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SONINHA

Copo meio cheio


É possível fazer uma coleção de boas notícias no futebol. Mas é difícil esquecer os problemas...

ALGUNS ANOS atrás, era ridículo imaginar que um clube grande fosse rebaixado. Isto é, que realmente disputasse a Série B depois de ser um dos piores da Série A.
Hoje, é "normal". O que demonstra, ano após ano, que nossos grandes, mesmo tendo onde se apoiar melhor -têm patrocinadores mais fortes, recebem mais dinheiro da televisão, vendem mais ingressos e produtos com sua marca, em geral têm estádio, faturam com a venda de jogadores para a Europa-, fracassam em itens como administração, planejamento e equilíbrio financeiro, o que se reflete na inferioridade em campo.
Mas hoje não é dia de falar de problemas; é Carnaval e só quero saber de alegria. Da metade cheia do copo. Que os clubes caiam quando têm de cair é uma boa notícia -e a demonstração de que o respeito a princípios básicos do esporte, como dar a vencedores e perdedores o que lhes é de direito, não é o fim do mundo, muito pelo contrário!
Com a presença de clubes com maior torcida, a Série B vem ganhando mais visibilidade e recursos, o que é bom para todos que a disputam. Sua fórmula também deixou de ser sujeita a sustos de última hora; garante turno e returno e premia os que tiverem os melhores resultados ao longo de toda a competição -exatamente como na Série A, cujo formato não sofre alterações há um bom tempo (e pensar que mudava todo ano, até durante o torneio!).
A média de público também aumentou no ano passado apesar de muitos estádios continuarem inseguros, desconfortáveis etc. (Olha a metade vazia do copo se metendo de novo na conversa... Parei!). Um número cada vez maior de clubes se preocupa com o tratamento dado aos seus "clientes", pensando em maneiras de incentivar e facilitar a compra antecipada de ingressos e em oferecer produtos criativos.
O tratamento da mão-de-obra -ou pé-de-obra, como gosta o Ju- ca- também tem melhorado. Hoje não se concebe uma equipe de ponta sem comissão técnica multidisciplinar. Clubes chegam a disputar preparados físicos, fisioterapeutas, fisiologistas e nutricionistas como disputam jogadores. A noção antiquada de que o jogador perde habilidade quando ganha musculatura se esvai... E a medicina esportiva brasileira é candidata a título. As instalações de treino têm melhorado, e vários clubes se orgulham de sua estrutura "de Primeiro Mundo". Que às vezes atende também as categorias de base, com a preocupação de oferecer ou assegurar aos adolescentes e jovens formação integral.
Também já não são raros casos de técnicos que conseguem ficar a temporada toda em um time, ou até mais do que isso.
Enquanto isso, na Europa, uma justa e antiga reivindicação foi atendida: Uefa e Fifa anunciaram o pagamento de indenização para clubes que cederem atletas para seleções. O tema entrou em pauta aqui também, no momento oportuno em que jogadores que atuam no Brasil voltam a freqüentar a seleção. A primeira reação do Clube dos 13, porém, foi na base do "cada um por si"...
É, não tem jeito. Por mais que eu vista a fantasia, que haja motivos para a alegria, depois do Carnaval vem a Quarta-Feira de Cinzas.

soninha.folha@uol.com.br


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