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Pequim-08 seguirá manual ecológico
Comitê Olímpico Internacional faz guia com dicas sobre como organizar competições sem agredir o ambiente
SE VOCÊ pratica hipismo, recolha as fezes dos
cavalos e transforme-as em adubo. Em provas de natação, evite usar protetores solares,
que costumam conter substâncias poluentes
absorvidas pelos peixes. Orientações como essas, simples, complexas ou curiosas, compõem o ""Guia do Esporte, Ambiente e Crescimento Sustentável", produzido pelo Comitê Olímpico Internacional e pelas federações esportivas. O documento será seguido em Pequim, envolta em polêmicas ligadas à poluição.
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
O guia busca transpor para o
esporte as recomendações da
Agenda 21, programa de ação
estabelecido pela Eco-92, segunda Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável,
organizada no Rio.
Existem orientações técnicas, comprovadas com dados
científicos. Outros conselhos,
porém, que periodicamente
passam por revisões e são atualizados, invocam simplesmente
o bom senso dos competidores.
Um exemplo está nas piscinas: ""Nadador, não cuspa, limpe o nariz ou faça necessidades
na água", ensina o documento.
Outras, mais sofisticadas, levam em consideração características de cada local e também
hábitos de suas faunas.
É o caso do biatlo, prova dos
Jogos de Inverno. O guia pede
que as cápsulas das balas das
provas de tiro sejam recuperadas. E justifica: ""O chumbo é
um metal tóxico que se acumula em organismos vivos e causa
danos irreversíveis. Balas deixadas na neve levam à contaminação de plantas e do solo".
A justificativa para a orientação é que, na primavera, animais que saíram da hibernação,
como ursos, ou os em período
reprodutivo, comem mais.
""Essa comida contaminada
leva à concentração de chumbo, tóxico, nos organismos dos
animais e nos de suas crias."
Não só o chumbo mas os metais pesados, em geral, são
mencionados diversas vezes.
Podem contaminar o sistema
nervoso, a medula óssea e os
rins de quem os ingerir. Também interferem nos processos
genético e cromossômico.
Outro caso que depreendeu
estudo mais aprofundado foi o
uso de protetores solares por
nadadores. Segundo o COI,
muitos compostos que barram
os raios ultravioleta têm nas
fórmulas substâncias químicas
suspeitas de serem esterilizantes (benzophenone 3, homosalate, 4-Methylbenzylidene...).
E todo tipo de aproveitamento de energia é incentivado no
documento. Para se livrar de
embarcações feitas de poliéster
ou de equipamentos de tênis
que levam materiais sintéticos,
é recomendado utilizar o calor
produzido em sua incineração
para a produção de cimento,
por exemplo, processo que exige temperaturas bem altas.
Até esportes que aparentemente não interferem no ambiente foram contemplados,
como a ginástica, orientada a
reciclar os materiais de treino
após o fim de sua vida útil.
Os locais de provas também
devem se adaptar. Por isso, o
manual adverte que o amianto,
que contém substância cancerígena, deve ser evitado em
construções erguidas para
competições. E, se houver possibilidade, que sejam eliminados de equipamentos antigos.
As recomendações não têm
como alvo só os organizadores
das provas e os atletas. O público, segundo o guia, também
tem de fazer a sua parte.
""Sempre que possível, vá ao
local de competição por meio
de transporte público, bicicleta, ou mesmo a pé; não profira
frases racistas ao torcer por sua
equipe; não deixe para trás, ao
ar livre, embalagens, especialmente as plásticas, lixo, fósforos ou vidro, e não faça fogueiras", orienta o manual.
Além das dicas específicas
para cada modalidade, o COI
trabalha os assuntos ligados à
infra-estrutura e a projetos de
renovação urbana em conjunto
com o comitê organizador dos
Jogos e com a cidade anfitriã.
Mas a entidade reconhece
que sua ingerência depende da
proximidade do trabalho dos
comitês olímpicos nacionais e
dos grupos responsáveis pelas
edificações usadas nos Jogos.
O comitê organizador da
Olimpíada de Inverno de Vancouver-10 tem esse controle, o
que não ocorre com Londres-12, onde o trabalho de construção está a cargo da Autoridade
de Desenvolvimento Olímpico.
Outro meio adotado pelo
COI para defender e preservar
o ambiente é exigir que as cidades candidatas apresentem um
raio-x de suas regiões. São exigidas medidas que garantam
reciclagem do lixo, gerenciamento do consumo de energia e
preservação da qualidade do ar.
Bastante criticada por esse
último quesito, que ameaça
atrasar provas, Pequim-08 tem
como uma das prioridades garantir a qualidade da água. Em
Sydney-2000, a ênfase foi dada
a formas renováveis de energia.
O esforço do COI no sentido
de salvaguardar o ambiente resultou na criação de uma comissão para esporte e ambiente, que tem como presidente o húngaro Pal Schmitt.
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