São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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Pequim-08 seguirá manual ecológico

Comitê Olímpico Internacional faz guia com dicas sobre como organizar competições sem agredir o ambiente

SE VOCÊ pratica hipismo, recolha as fezes dos cavalos e transforme-as em adubo. Em provas de natação, evite usar protetores solares, que costumam conter substâncias poluentes absorvidas pelos peixes. Orientações como essas, simples, complexas ou curiosas, compõem o ""Guia do Esporte, Ambiente e Crescimento Sustentável", produzido pelo Comitê Olímpico Internacional e pelas federações esportivas. O documento será seguido em Pequim, envolta em polêmicas ligadas à poluição.

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O guia busca transpor para o esporte as recomendações da Agenda 21, programa de ação estabelecido pela Eco-92, segunda Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, organizada no Rio.
Existem orientações técnicas, comprovadas com dados científicos. Outros conselhos, porém, que periodicamente passam por revisões e são atualizados, invocam simplesmente o bom senso dos competidores.
Um exemplo está nas piscinas: ""Nadador, não cuspa, limpe o nariz ou faça necessidades na água", ensina o documento.
Outras, mais sofisticadas, levam em consideração características de cada local e também hábitos de suas faunas.
É o caso do biatlo, prova dos Jogos de Inverno. O guia pede que as cápsulas das balas das provas de tiro sejam recuperadas. E justifica: ""O chumbo é um metal tóxico que se acumula em organismos vivos e causa danos irreversíveis. Balas deixadas na neve levam à contaminação de plantas e do solo".
A justificativa para a orientação é que, na primavera, animais que saíram da hibernação, como ursos, ou os em período reprodutivo, comem mais.
""Essa comida contaminada leva à concentração de chumbo, tóxico, nos organismos dos animais e nos de suas crias."
Não só o chumbo mas os metais pesados, em geral, são mencionados diversas vezes. Podem contaminar o sistema nervoso, a medula óssea e os rins de quem os ingerir. Também interferem nos processos genético e cromossômico.
Outro caso que depreendeu estudo mais aprofundado foi o uso de protetores solares por nadadores. Segundo o COI, muitos compostos que barram os raios ultravioleta têm nas fórmulas substâncias químicas suspeitas de serem esterilizantes (benzophenone 3, homosalate, 4-Methylbenzylidene...).
E todo tipo de aproveitamento de energia é incentivado no documento. Para se livrar de embarcações feitas de poliéster ou de equipamentos de tênis que levam materiais sintéticos, é recomendado utilizar o calor produzido em sua incineração para a produção de cimento, por exemplo, processo que exige temperaturas bem altas.
Até esportes que aparentemente não interferem no ambiente foram contemplados, como a ginástica, orientada a reciclar os materiais de treino após o fim de sua vida útil.
Os locais de provas também devem se adaptar. Por isso, o manual adverte que o amianto, que contém substância cancerígena, deve ser evitado em construções erguidas para competições. E, se houver possibilidade, que sejam eliminados de equipamentos antigos.
As recomendações não têm como alvo só os organizadores das provas e os atletas. O público, segundo o guia, também tem de fazer a sua parte.
""Sempre que possível, vá ao local de competição por meio de transporte público, bicicleta, ou mesmo a pé; não profira frases racistas ao torcer por sua equipe; não deixe para trás, ao ar livre, embalagens, especialmente as plásticas, lixo, fósforos ou vidro, e não faça fogueiras", orienta o manual.
Além das dicas específicas para cada modalidade, o COI trabalha os assuntos ligados à infra-estrutura e a projetos de renovação urbana em conjunto com o comitê organizador dos Jogos e com a cidade anfitriã.
Mas a entidade reconhece que sua ingerência depende da proximidade do trabalho dos comitês olímpicos nacionais e dos grupos responsáveis pelas edificações usadas nos Jogos.
O comitê organizador da Olimpíada de Inverno de Vancouver-10 tem esse controle, o que não ocorre com Londres-12, onde o trabalho de construção está a cargo da Autoridade de Desenvolvimento Olímpico.
Outro meio adotado pelo COI para defender e preservar o ambiente é exigir que as cidades candidatas apresentem um raio-x de suas regiões. São exigidas medidas que garantam reciclagem do lixo, gerenciamento do consumo de energia e preservação da qualidade do ar.
Bastante criticada por esse último quesito, que ameaça atrasar provas, Pequim-08 tem como uma das prioridades garantir a qualidade da água. Em Sydney-2000, a ênfase foi dada a formas renováveis de energia.
O esforço do COI no sentido de salvaguardar o ambiente resultou na criação de uma comissão para esporte e ambiente, que tem como presidente o húngaro Pal Schmitt.


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