São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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BASQUETE

O justiceiro

MELCHIADES FILHO
COLUNISTA DA FOLHA

Seria uma injustiça entregar o troféu de craque do ano a Chauncey Billups. Não porque ele ostente números de certa forma modestos (19 pontos e 8,7 assistências). Mas porque o Detroit, dono da melhor campanha, tem como trunfo justamente a qualidade dos cinco titulares. Como, então, pinçar um deles? Ademais, todos no clube sabem que o jogador mais distinto, aquele que de fato desconstrói os rivais no ataque e na defesa, é o versátil ala-pivô Rasheed Wallace, e não o armador bamba nos corta-luzes.
Condecorar Elton Brand também seria uma injustiça. Até o fim-de-semana ele era um dos cinco únicos na NBA com mais de 20 pontos e 10 rebotes por partida. Se no passado brilhava apenas sob a tabela, agora o ala-pivô do LA Clippers também se vira na média distância. Mas, no fundo, continua uma versão miniatura (corpo, talento e coração) de Tim Duncan. Neste ano, ele tem a sorte de gozar da companhia de Sam Cassell. O armador, famoso por resolver jogos parelhos, há dois anos fez de Kevin Garnett (Minnesota) o "most valuable player". Ninguém vai cair de novo nessa.
Tampouco seria justo premiar os novos superstars do basquete.
LeBron James é o maior talento (técnico e atlético) da NBA. Dá até vergonha vê-lo destruir defesas como uma bola de boliche. Não é verdade que ele não saiba marcar, e as últimas semanas desautorizaram os tolos que o acusavam de pipocar nos segundos finais. Ainda assim, o ala não merece a taça. O Cleveland oscilou demais ao longo da temporada e vai terminar na faixa intermediária de classificação, o mínimo que se esperava. E um MVP não pode conviver com o mínimo...
O Miami do armador Dwyane Wade também não foi além das previsões. Sentiu a ausência de Shaquille O'Neal (sem o pivô, o aproveitamento cai muito), titubeou diante de adversários mais poderosos e, nessa reta final, vê-se acossado pelo New Jersey, um time capenga e barato. Wade muitas vezes lembra o Michael Jordan do início de carreira, pela explosão e repertório nas infiltrações. Mas chuta mal pra burro (17,6% de três pontos) e nem de longe exerce a liderança do ídolo.
O time de um legítimo MVP tem de exceder expectativas. Por isso, para ser justa, a corrida deveria ficar restrita a três outros nomes: o armador canadense Steve Nash, que alçou o desacreditado Phoenix a uma posição de destaque na tabela; o cestinha Kobe Bryant, que sozinho devolve o LA Lakers aos playoffs; e o ala-pivô alemão Dirk Nowitzki, responsável pelo campeonato de transformação e superação do Dallas.
Já escrevi que Nash não registra apenas os melhores números de sua carreira. Líder em assistências da NBA, ele também ajuda seis colegas meia-boca a bater recordes pessoais. Mas há um senão contra ele. Para quê definir uma justa tão acirrada em favor de um jogador que recebeu injustamente esse prêmio em 2005? (Shaq devia ter sido o MVP então.) Aqui, a meu ver, um erro justifica o outro.
Kobe ou Nowitzki, então, deveriam ganhar. Qual deles? Dê-me mais uma semana. Fazer justiça com as próprias mãos não é fácil.

Melhores 1
Minha seleção do campeonato formaria com Nash, Kobe, LeBron, Brand e Nowitzki. Os reservas teriam Billups, Wade, Carmelo Anthony (Denver), Shawn Marion (Phoenix) e Tim Duncan (San Antonio). Meu terceiro time jogaria com Tony Parker (San Antonio), Allen Iverson (Philadelphia), Vince Carter (New Jersey), Paul Pierce (Boston) e Yao Ming (Houston). E aí? Pisei na bola?

Melhores 2
O treinador do ano? O estreante Avery Johnson, que convenceu o Dallas a se defender. O calouro? Chris Paul (New Orleans). O melhor jogador defensivo? Pensei em votar em Bruce Bowen (San Antonio), mas vou de Shane Battier (Memphis). O jogador que mais evoluiu? Tony Parker, por razões intra (FG%) e extraquadra (Eva Longoria!).

E-mail melk@uol.com.br


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