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FUTEBOL
O moral e as batatas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Antes do jogo de domingo,
um torcedor escreveu no
meu blog: "Como santista, torço
para que hoje vença o pior". É o
que eu diria, se fosse santista...
A torcida do Santos tem bronca
histórica com a mídia -semelhante, imagino, ao ressentimento da torcida do Botafogo, com
quem o time da Baixada tem
muitas semelhanças. Foram as
duas glórias do futebol brasileiro
quando conquistamos nossas primeiras Copas. Recentemente,
amargaram filas juntos (e um rebaixamento solitário). Freqüentemente, deixam de ser incluídos
no bloco dos "grandes" -na divisão das cotas de TV, por exemplo.
Suas partidas são menos exibidas do que as dos rivais. E há
queixas insistentes -nem sempre
corretas, mas muitas vezes justificadas- em relação a tabelas e
arbitragens.
Por isso, embora outros torcedores também sejam ressabiados
(palmeirenses e tricolores cariocas reclamam da "mídia corintiana/rubro-negra"), críticas a essas
duas equipes são recebidas com
desconfiança ainda maior do que
a "normal". Botafoguenses foram
os primeiros a me mandar lavar
roupa quando, em 99, disse na TV
que ia muito mal um time que comemorava 0 a 0 em jogo horrível
porque "pelo menos não perdemos". (Mas não são todos assim
tão irascíveis). E cada vez que digo que esse Santos, pertíssimo de
ser campeão, não me encanta, recebo de volta a reclamação: "Lá
vêm vocês perseguir o Santos!".
Leitores, telespectadores e ouvintes são testemunhas do quanto
fui fã do futebol do Santos nos últimos anos. Mas fazer o que, se esse time não joga bonito? É uma
equipe que, sabiamente, fortalece
a defesa -porque não pode confiar no ataque... Mas nem sequer
se defende "bonito"; com exceções, seus marcadores apelam
mais para faltas seguidas do que
para belos desarmes e antecipações. Não é a cara do Santos campeão dos últimos anos; não é a cara dos times de Luxemburgo.
Alguns colegas se arriscaram a
dizer que o São Paulo seria o
"campeão moral" se vencesse anteontem. Pelo desempenho nos
clássicos em geral, e por derrotar
o time de melhor campanha no
confronto direto. Santistas ficaram furiosos, e entendo. Também
acho bobagem essa história de
"campeão moral" (parece título
de consolação, medalha de honra
ao mérito). Mas sustento que,
campeão ou não, considero o time do São Paulo melhor do que o
do Santos. Não só porque tem
mais bons jogadores, mas porque
o conjunto é mais agradável...
Desde o começo dos pontos corridos, digo que considero o melhor formato (não esse do Paulistão, claro) para premiar a melhor
campanha. E digo também que a
"melhor campanha" não é necessariamente a do que convencionamos reconhecer como "melhor
futebol". Um time pode ser muito
pragmático e feio; eficaz e sem
graça. E uma vitória desenxabida
por 1 a 0 vale os mesmos três pontos de uma goleada... E o triplo de
um espetacular 3 a 3. Fazer o que?
Ao vencedor, as batatas. E as enciclopédias que registrem as
"grandes injustiças do futebol".
O prazer de jogar
São 26 equipes, 420 atletas inscritos. Nenhum deles, aposto,
tem a pretensão de ser descoberto por uma grande equipe
-não só pela idade (já não são
meninos), mas também porque
são acostumados a ter cada vez
menos sonhos e pretensões...
Aliás, devolver-lhes a capacidade de se empenhar por uma
meta, fazer planos e ter perspectivas é um desafio tão grande quanto vencer um torneio:
tratam-se de albergados e outros integrantes dessa gente
chamada de "população de
rua", que disputam desde anteontem o 2º Campeonato de
Futsal Solidário, promovido
pela Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento
de São Paulo, com apoio da Secretaria de Esportes, de ONGs e
voluntários. Boa sorte.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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