São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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FUTEBOL

O moral e as batatas

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Antes do jogo de domingo, um torcedor escreveu no meu blog: "Como santista, torço para que hoje vença o pior". É o que eu diria, se fosse santista...
A torcida do Santos tem bronca histórica com a mídia -semelhante, imagino, ao ressentimento da torcida do Botafogo, com quem o time da Baixada tem muitas semelhanças. Foram as duas glórias do futebol brasileiro quando conquistamos nossas primeiras Copas. Recentemente, amargaram filas juntos (e um rebaixamento solitário). Freqüentemente, deixam de ser incluídos no bloco dos "grandes" -na divisão das cotas de TV, por exemplo.
Suas partidas são menos exibidas do que as dos rivais. E há queixas insistentes -nem sempre corretas, mas muitas vezes justificadas- em relação a tabelas e arbitragens.
Por isso, embora outros torcedores também sejam ressabiados (palmeirenses e tricolores cariocas reclamam da "mídia corintiana/rubro-negra"), críticas a essas duas equipes são recebidas com desconfiança ainda maior do que a "normal". Botafoguenses foram os primeiros a me mandar lavar roupa quando, em 99, disse na TV que ia muito mal um time que comemorava 0 a 0 em jogo horrível porque "pelo menos não perdemos". (Mas não são todos assim tão irascíveis). E cada vez que digo que esse Santos, pertíssimo de ser campeão, não me encanta, recebo de volta a reclamação: "Lá vêm vocês perseguir o Santos!".
Leitores, telespectadores e ouvintes são testemunhas do quanto fui fã do futebol do Santos nos últimos anos. Mas fazer o que, se esse time não joga bonito? É uma equipe que, sabiamente, fortalece a defesa -porque não pode confiar no ataque... Mas nem sequer se defende "bonito"; com exceções, seus marcadores apelam mais para faltas seguidas do que para belos desarmes e antecipações. Não é a cara do Santos campeão dos últimos anos; não é a cara dos times de Luxemburgo.
Alguns colegas se arriscaram a dizer que o São Paulo seria o "campeão moral" se vencesse anteontem. Pelo desempenho nos clássicos em geral, e por derrotar o time de melhor campanha no confronto direto. Santistas ficaram furiosos, e entendo. Também acho bobagem essa história de "campeão moral" (parece título de consolação, medalha de honra ao mérito). Mas sustento que, campeão ou não, considero o time do São Paulo melhor do que o do Santos. Não só porque tem mais bons jogadores, mas porque o conjunto é mais agradável...
Desde o começo dos pontos corridos, digo que considero o melhor formato (não esse do Paulistão, claro) para premiar a melhor campanha. E digo também que a "melhor campanha" não é necessariamente a do que convencionamos reconhecer como "melhor futebol". Um time pode ser muito pragmático e feio; eficaz e sem graça. E uma vitória desenxabida por 1 a 0 vale os mesmos três pontos de uma goleada... E o triplo de um espetacular 3 a 3. Fazer o que? Ao vencedor, as batatas. E as enciclopédias que registrem as "grandes injustiças do futebol".

O prazer de jogar
São 26 equipes, 420 atletas inscritos. Nenhum deles, aposto, tem a pretensão de ser descoberto por uma grande equipe -não só pela idade (já não são meninos), mas também porque são acostumados a ter cada vez menos sonhos e pretensões... Aliás, devolver-lhes a capacidade de se empenhar por uma meta, fazer planos e ter perspectivas é um desafio tão grande quanto vencer um torneio: tratam-se de albergados e outros integrantes dessa gente chamada de "população de rua", que disputam desde anteontem o 2º Campeonato de Futsal Solidário, promovido pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento de São Paulo, com apoio da Secretaria de Esportes, de ONGs e voluntários. Boa sorte.

E-mail soninha.folha@uol.com.br


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