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Seleção do Zaire convoca brasileiro
MARCILIO KIMURA
da Reportagem Local
O treinador cearense Célio Barros, 61, deixou o rico Oriente Médio, onde era assistente-técnico de
Parreira na seleção do Kuwait, e
decidiu arriscar a carreira no atípico futebol africano.
Ano passado, em sua primeira
temporada, levou o Vita Club ao
título zairense e à terceira colocação na Copa da África.
``As pessoas não gostavam de
andar comigo de tanto que eu era
abordado nas ruas'', diz, contando
a popularidade que conquistou.
O sucesso lhe valeu convite para
dirigir a seleção do país, chamada
de ``Le Leopard'' (o leão).
O Zaire está na última posição do
Grupo 3 das eliminatórias africanas, liderado pelo Congo e pela
África do Sul.
``Ainda não decidi se aceito a
proposta. Além do acordo financeiro, exijo um grupo totalmente à
minha disposição'', afirma.
Amadores
No Zaire, o futebol não é profissionalizado. Praticamente todos
os jogadores possuem outras atividades para complementar um salário médio de US$ 50,00.
A preparação de uma equipe
campeã, no entanto, não se limita
ao gramado e aos treinos físicos.
``Tive que introduzir hábitos higiênicos e ensinar métodos para
manter a forma física'', conta.
Uma das queixas do treinador é
quanto à desorganização africana.
``As obrigações ficam sempre
para amanhã. Os dirigentes não
são sérios como aqui no Brasil.''
Barros recebia US$ 7.000 mensais, mais moradia, um carro e um
guarda-costas.
O Vita Club deve ao técnico os
seis últimos salários e as diárias do
hotel onde morava.
``Gosto muito de lá, mas preciso
sobreviver. Só volto com o dinheiro na minha conta.''
Na Copa da África, o técnico
lembra que a delegação saía quatro
dias antes da partida, marcada em
outro país, e só chegava no dia do
jogo, viajando de avião.
``Os diretores compravam pacotes tão baratos que pegávamos
quatro aviões. Chegávamos de
manhã e jogávamos de tarde.''
Fuga
Além da inadimplência dos diretores do clube, Barros voltou ao
Rio de Janeiro, onde têm residência, fugindo da guerra civil.
Os guerrilheiros da Aliança de
Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire tomaram
em abril Zubumbashi, segunda cidade e centro econômico do país.
Eles exigem a renúncia do ditador Mobutu Sese Seko, que está no
poder desde 1965. Caso contrário,
prometeram ampliar os ataques.
``Estou esperando os tiros pararem para tomar uma decisão.''
No Zaire, os dois principais clubes, o Vita Club e o DCMP, são
presididos por filhos de Mobutu.
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