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FUTEBOL
Futebol e política
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Jogador de futebol tem que
jogar e ficar quieto. A política é para os políticos."
Quem pensa assim já morreu e
não sabe. A política, por mais que
pareça (e muitas vezes seja) uma
coisa suja, diz respeito a cada um
de nós. Ela será, aliás, tanto mais
suja quanto mais os homens de
bem se afastarem dela. Em outras
palavras: a política é algo sério
demais para ser deixado nas
mãos dos políticos.
O jogador de futebol profissional, como personalidade pública
que atrai a atenção da mídia e
exerce influência sobre milhões de
pessoas, tem ainda mais responsabilidade política do que o cidadão comum.
Digo tudo isso motivado pelas
corajosas declarações de alguns
dos principais jogadores da seleção francesa a respeito da política
de seu país.
Diante da ameaça representada pelo ultradireitista Le Pen, que
chegou ao segundo turno das eleições presidenciais francesas com
um discurso racista e xenófobo,
craques como Marcel Desailly e
Zinedine Zidane não se fizeram
de rogados. Em alto e bom som,
disseram: a França de Le Pen não
é a França que queremos.
Diante da tendência obscurantista em voga hoje na Europa, a
seleção francesa é em si mesma
um fato político da maior importância.
Para desespero de fascistóides e
racistas, o time francês conquistou o respeito e a admiração do
mundo com atletas oriundos de
uma constelação de nacionalidades e etnias. Do ganês Desailly ao
descendente de argelinos Zidane,
passando pelo basco Lizarazu e o
armênio Djorkaeff, a seleção
francesa é um colorido resumo do
mundo -como a própria França
tem sido, apesar do crescimento
da direita.
No Brasil, quando se fala de futebol e política, pensa-se logo nos
aproveitadores que usam a popularidade conferida pelo esporte
como trampolim para cargos políticos. Os Euricos, Nabis e companhia.
Dos jogadores, espera-se "humildade" e "disciplina".
Leia-se: abaixem a cabeça, façam tudo o que o "professor"
mandar e fujam da política como
o diabo da cruz. Já houve técnico
no Brasil que proibiu seus atletas
até de ler jornal.
A norma, entre nós, é o jogador
profissional falar só sobre o que
acontece dentro de campo -e,
ainda assim, com tantos cuidados
para não causar polêmica que ele
acaba reproduzindo sempre os
mesmos clichês inócuos.
É preciso mudar isso. Não estou
dizendo que os jogadores devem
aderir a partidos e se lançar na
política. Podem até fazer isso, seguindo o exemplo de atletas como
Reinaldo (Atlético-MG), Zé Maria (Corinthians), Roberto Dinamite (Vasco) e uns tantos outros.
Mas não é necessário. Sobretudo não é aconselhável durante a
carreira profissional.
Há outras maneiras de participar da vida do país.
Recentemente, Sócrates desistiu
de candidatar-se a deputado pelo
PT. Acho que fez bem. Ele pode
ser mais útil como pensador independente, em seus escritos, atitudes e declarações.
O importante é que o futebolista
profissional saia da sua redoma,
feita de desinformação, medo e
individualismo. Boleiros podem e
devem ter opinião fundamentada
sobre tudo o que afeta a vida de
seu povo. Mas para isso é preciso
pensar, ler, se informar -e principalmente ter coragem. Como
Zidane e Desailly, craques de bola
e cidadãos plenos.
Fraco do alvinegro
Mais um Corinthians x São
Paulo, amanhã, no Morumbi.
É o quarto este ano -e na semana que vem tem mais. No
jogo de quarta, vencido pelo
tricolor, a defesa corintiana, a
menos vazada do Rio-SP,
mostrou má colocação nas
jogadas aéreas. E os atacantes
foram falhos na finalização,
em geral por displicência. Parece que lhes falta a gana de
gol que sobrava em Luizão.
Fraco do tricolor
O São Paulo, por sua vez,
mostrou que precisa da criatividade e do toque refinado
de Souza. Antes de sua entrada em campo, quarta-feira, o
jogo da equipe tricolor estava
truncado e com pouco poder
de penetração. Sem França e
sem Kaká, afastados por contusão, o time não pode abrir
mão do talento de Souza em
favor de um meio-campo pesado. Se fizer isso, será envolvido pelo enervante toque de
bola corintiano.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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