São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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FUTEBOL

Futebol e política

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Jogador de futebol tem que jogar e ficar quieto. A política é para os políticos."
Quem pensa assim já morreu e não sabe. A política, por mais que pareça (e muitas vezes seja) uma coisa suja, diz respeito a cada um de nós. Ela será, aliás, tanto mais suja quanto mais os homens de bem se afastarem dela. Em outras palavras: a política é algo sério demais para ser deixado nas mãos dos políticos.
O jogador de futebol profissional, como personalidade pública que atrai a atenção da mídia e exerce influência sobre milhões de pessoas, tem ainda mais responsabilidade política do que o cidadão comum.
Digo tudo isso motivado pelas corajosas declarações de alguns dos principais jogadores da seleção francesa a respeito da política de seu país.
Diante da ameaça representada pelo ultradireitista Le Pen, que chegou ao segundo turno das eleições presidenciais francesas com um discurso racista e xenófobo, craques como Marcel Desailly e Zinedine Zidane não se fizeram de rogados. Em alto e bom som, disseram: a França de Le Pen não é a França que queremos.
Diante da tendência obscurantista em voga hoje na Europa, a seleção francesa é em si mesma um fato político da maior importância.
Para desespero de fascistóides e racistas, o time francês conquistou o respeito e a admiração do mundo com atletas oriundos de uma constelação de nacionalidades e etnias. Do ganês Desailly ao descendente de argelinos Zidane, passando pelo basco Lizarazu e o armênio Djorkaeff, a seleção francesa é um colorido resumo do mundo -como a própria França tem sido, apesar do crescimento da direita.
No Brasil, quando se fala de futebol e política, pensa-se logo nos aproveitadores que usam a popularidade conferida pelo esporte como trampolim para cargos políticos. Os Euricos, Nabis e companhia.
Dos jogadores, espera-se "humildade" e "disciplina".
Leia-se: abaixem a cabeça, façam tudo o que o "professor" mandar e fujam da política como o diabo da cruz. Já houve técnico no Brasil que proibiu seus atletas até de ler jornal.
A norma, entre nós, é o jogador profissional falar só sobre o que acontece dentro de campo -e, ainda assim, com tantos cuidados para não causar polêmica que ele acaba reproduzindo sempre os mesmos clichês inócuos.
É preciso mudar isso. Não estou dizendo que os jogadores devem aderir a partidos e se lançar na política. Podem até fazer isso, seguindo o exemplo de atletas como Reinaldo (Atlético-MG), Zé Maria (Corinthians), Roberto Dinamite (Vasco) e uns tantos outros.
Mas não é necessário. Sobretudo não é aconselhável durante a carreira profissional.
Há outras maneiras de participar da vida do país.
Recentemente, Sócrates desistiu de candidatar-se a deputado pelo PT. Acho que fez bem. Ele pode ser mais útil como pensador independente, em seus escritos, atitudes e declarações.
O importante é que o futebolista profissional saia da sua redoma, feita de desinformação, medo e individualismo. Boleiros podem e devem ter opinião fundamentada sobre tudo o que afeta a vida de seu povo. Mas para isso é preciso pensar, ler, se informar -e principalmente ter coragem. Como Zidane e Desailly, craques de bola e cidadãos plenos.

Fraco do alvinegro
Mais um Corinthians x São Paulo, amanhã, no Morumbi. É o quarto este ano -e na semana que vem tem mais. No jogo de quarta, vencido pelo tricolor, a defesa corintiana, a menos vazada do Rio-SP, mostrou má colocação nas jogadas aéreas. E os atacantes foram falhos na finalização, em geral por displicência. Parece que lhes falta a gana de gol que sobrava em Luizão.

Fraco do tricolor
O São Paulo, por sua vez, mostrou que precisa da criatividade e do toque refinado de Souza. Antes de sua entrada em campo, quarta-feira, o jogo da equipe tricolor estava truncado e com pouco poder de penetração. Sem França e sem Kaká, afastados por contusão, o time não pode abrir mão do talento de Souza em favor de um meio-campo pesado. Se fizer isso, será envolvido pelo enervante toque de bola corintiano.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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