São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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blindagem

Por meninos, Santos até "marca" pais

Para o mandatário do clube alvinegro suas revelações podem ganhar muito mais dinheiro se permanecerem na Vila

Presidente fala de pacote para manter jovens, que inclui conversa com os pais, aumento salarial e ainda bonificações em dinheiro

EDUARDO ARRUDA
DO PAINEL FC
LUCAS REIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para evitar que a nova geração dos meninos da Vila tenha vida curta no Santos, o clube prepara um pacote de ações que inclui aumentar salários, tornar jogadores parceiros em negócios, ter longas conversas com os pais dos garotos e, se necessário, até acionar a Justiça.
As medidas mostram que o time do litoral está disposto a lutar com todas as armas contra o que chama de "saída precoce" de seus talentos e que é defendida por seus parceiros comerciais, como a empresa DIS, braço do grupo Sonda, que tem direitos sobre mais de 20 jogadores santistas, como Neymar e Paulo Henrique Ganso.
Como segurá-los? "Com dinheiro e papo", responde o presidente do clube, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, em entrevista concedida ontem à Folha.
"Vamos conversar com os pais dos garotos e mostrar que, se esperarem um pouco para sair do Santos, ficarão muito mais ricos", disse o mandatário, que revelou uma conversa de 40 minutos com os pais de Ganso logo após a decisão do Estadual, em que o jogador de 20 anos foi o destaque do time.
E o papo com os pais está rendendo, conta o cartola. "Eles entenderam que se o garoto fica mais tempo aqui, estará mais feliz, com mais direitos conquistados e com mais chances de, quando chegar à Europa, impor melhores condições. É uma receita simples", diz.
"Se você plantar um pé de café hoje, não adianta botar o melhor adubo do mundo: o café só vai produzir frutos depois de três anos. Jogador com 18 anos precisa amadurecer, pavimentar o seu caminho de volta também. Quando ele sai como ídolo, identificado com a torcida, volta com lugar garantido neste time. Foi o que aconteceu com o Robinho", compara.
Além do trabalho com os responsáveis pelos garotos, o Santos também adotou medidas financeiras. André, Ganso e Neymar ganharam um aumento salarial -o último viu sua multa rescisória crescer para 35 milhões (cerca de R$ 100 mi).
O clube também adotou um sistema de recompensas financeiras para, segundo Luis Alvaro, incentivá-los. "Conseguimos trazê-los ao teto salarial do clube com bonificações por convocações [à seleção] e conquista de títulos, para estimulá-los a jogar aqui. Isso deixou os meninos satisfeitos, ganhando um bom dinheiro", afirmou.
O "papo" também é esperado com o parceiro. Segundo o presidente santista, dois funcionários da DIS já o avisaram que Delcir Sonda, dono da empresa, quer uma reunião para conversar sobre as revelações.
"Tive um único encontro com ele. Me pareceu um ganhador de dinheiro típico. Que sempre encontrou um interlocutor. E agora está encontrando alguém que conhece fluxo de caixa, eu sei o que é taxa de retorno", conta. "Temos condições de acertar tudo amigavelmente", declarou Luis Alvaro.
"A segunda alternativa é entrar na Justiça", revela o presidente. "Embora ele [o grupo DIS] formalmente esteja coberto, porque botou dinheiro mesmo e recebeu parte desses direitos econômicos, o juiz, se for subjacente, vai dar ganho de causa para nós, pois vai ver que é um contrato leonino."
Luis Alvaro defende a ideia, rejeitada pela DIS, de que o clube deve ter ao menos 80% dos direitos dos atletas da base.
"Reduzir tão drasticamente a participação há de ser recebido com apupo. Mas o clube é quem investe poderosamente na formação. Paga médicos, fisioterapia, comida, tratamento, visibilidade, treinador."
Sobre seus meninos no Mundial, o mandatário afirma que, como cartola, não quer ver Neymar e Ganso na Copa. "Afinal, não quero vendê-los." Mas logo recua. "Como torcedor, sim, quero vê-los na África."


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