|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Uma grande noite
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Lembrei-me das velhas tertúlias de discussão estética e
ideológica sobre o futebol: é melhor jogar feio e vencer ou jogar
bonito e perder? Em 94, fico com a
eficiência do time do tetra. Em 82,
com a ineficiente equipe que seduziu o planeta e caiu diante da
Itália. Em 74, sou mais os holandeses batidos que os alemães
triunfantes.
O Brasil não encantou nos 3 a 1
sobre a Argentina. Quem brilhou
foi um só jogador, Ronaldo. Foi
uma grande noite, embora sem
uma grande exibição do time. No
jogo mais importante do ano, a
seleção de Parreira e Zagallo
mostrou-se competitiva como
não conseguia desde o penta.
A Argentina mandou um selecionado confuso, mas ainda dos
melhores do mundo. Em 93, no
mesmo Mineirão, a seleção brasileira atuou bem e guardou quatro
na Venezuela. Foi vaiada. Agora,
aplausos de pé celebraram-na à
saída do campo.
Depois dos três gols, Ronaldo
acaba desmoralizando endocrinologistas e suas dietas. Para que
emagrecer, se "El Gordito" arranca daquele jeito? Vou mais é comer o meu bacon. Tudo bem que
o terceiro pênalti não foi. Compensou "la mano" da barreira argentina pouco antes. O ex-Ronaldinho já merece ser chamado de
Ronaldão pelo perfil. Ele parece
consagrar a tática de Romário:
fazer-se de morto para, em lampejos, marcar.
Qualquer equipe do mundo
sentiria falta do craque número 1,
o gaúcho Ronaldinho. Substituí-lo por Alex seria boa opção, pois
encurtaria o espaço entre o meio e
o ataque sem perder muita força
na chegada à área. Não sobrecarregaria Kaká na armação.
Parreira ousou ao escalar Luis
Fabiano, cujas características se
assemelham às de Ronaldo. A
presença do são-paulino foi decisiva para dividir a atenção da defesa oponente e fazer com que ela
chegasse vendida sobre Ronaldo
em dois lances de pênalti. Taticamente, deu certo a aposta em dois
centroavantes.
O time pena para superar falhas
recorrentes. No primeiro tempo,
Juninho e Edmílson pouco apareceram nas saídas de bola. Com
meia hora de partida, Dida preferiu bater o tiro de meta com um
chutão. Um vexame, para a seleção repleta de craques jogando
em casa. Juan, Roque e Edmílson,
em lances pueris, erraram passes.
A tontura da retaguarda com o
jogo aéreo, deficiência coletiva
antiga, aumentou com a falta de
entrosamento de Juan.
O Edmílson de depois do intervalo mostrou que pode ser titular
como volante. Se for Edu o substituto de Zé Roberto contra o Chile,
o time terá um meio-campo mais
solto, como Parreira gostava em
93, antes de se render ao quarteto
Dunga, Mauro Silva, Mazinho e
Zinho dos EUA-94. Gilberto Silva
é opção mais defensiva.
Na quarta de manhã, Gustavo
Kuerten jogou bem e levou 3 a 1
de Nalbandian. À noite, a equipe
apresentou limitações, porém encaçapou a Argentina com o virtuose Ronaldo. Perguntam-me,
num papo cabeça, se eu fico com o
Guga ou com a seleção.
Pode votar nos dois?
Mulatinhos rosados
A ESPN Brasil meteu-se numa
enrascada. Depois do segundo
documentário da trilogia sobre
os clubes cariocas que chegam
ao centenário neste ano, ficou
mais difícil o desafio de manter
o padrão quando contar a história das coisas que só acontecem com o Botafogo. O primeiro, sobre o América, foi excelente. O mais recente, com os
"mulatinhos rosados" do Bangu, também. Os depoimentos
de Marinho e Ado, pontas do time derrotado no Campeonato
Brasileiro de 1985, entram para
a antologia dos mais emocionantes do futebol. Ao reencontrar Domingos da Guia e Zizinho, pensei no Pelé dizendo que, antes dele, não havia negros nos clubes. Falou isso na
semana passada. Vai ver foi culpa de algum assessor.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Aperitivo Próximo Texto: Futebol: Dispersão atrapalha grandes paulistas em pausa forçada Índice
|