São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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FUTEBOL

Uma grande noite

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Lembrei-me das velhas tertúlias de discussão estética e ideológica sobre o futebol: é melhor jogar feio e vencer ou jogar bonito e perder? Em 94, fico com a eficiência do time do tetra. Em 82, com a ineficiente equipe que seduziu o planeta e caiu diante da Itália. Em 74, sou mais os holandeses batidos que os alemães triunfantes.
O Brasil não encantou nos 3 a 1 sobre a Argentina. Quem brilhou foi um só jogador, Ronaldo. Foi uma grande noite, embora sem uma grande exibição do time. No jogo mais importante do ano, a seleção de Parreira e Zagallo mostrou-se competitiva como não conseguia desde o penta.
A Argentina mandou um selecionado confuso, mas ainda dos melhores do mundo. Em 93, no mesmo Mineirão, a seleção brasileira atuou bem e guardou quatro na Venezuela. Foi vaiada. Agora, aplausos de pé celebraram-na à saída do campo.
Depois dos três gols, Ronaldo acaba desmoralizando endocrinologistas e suas dietas. Para que emagrecer, se "El Gordito" arranca daquele jeito? Vou mais é comer o meu bacon. Tudo bem que o terceiro pênalti não foi. Compensou "la mano" da barreira argentina pouco antes. O ex-Ronaldinho já merece ser chamado de Ronaldão pelo perfil. Ele parece consagrar a tática de Romário: fazer-se de morto para, em lampejos, marcar.
Qualquer equipe do mundo sentiria falta do craque número 1, o gaúcho Ronaldinho. Substituí-lo por Alex seria boa opção, pois encurtaria o espaço entre o meio e o ataque sem perder muita força na chegada à área. Não sobrecarregaria Kaká na armação.
Parreira ousou ao escalar Luis Fabiano, cujas características se assemelham às de Ronaldo. A presença do são-paulino foi decisiva para dividir a atenção da defesa oponente e fazer com que ela chegasse vendida sobre Ronaldo em dois lances de pênalti. Taticamente, deu certo a aposta em dois centroavantes.
O time pena para superar falhas recorrentes. No primeiro tempo, Juninho e Edmílson pouco apareceram nas saídas de bola. Com meia hora de partida, Dida preferiu bater o tiro de meta com um chutão. Um vexame, para a seleção repleta de craques jogando em casa. Juan, Roque e Edmílson, em lances pueris, erraram passes. A tontura da retaguarda com o jogo aéreo, deficiência coletiva antiga, aumentou com a falta de entrosamento de Juan.
O Edmílson de depois do intervalo mostrou que pode ser titular como volante. Se for Edu o substituto de Zé Roberto contra o Chile, o time terá um meio-campo mais solto, como Parreira gostava em 93, antes de se render ao quarteto Dunga, Mauro Silva, Mazinho e Zinho dos EUA-94. Gilberto Silva é opção mais defensiva.
Na quarta de manhã, Gustavo Kuerten jogou bem e levou 3 a 1 de Nalbandian. À noite, a equipe apresentou limitações, porém encaçapou a Argentina com o virtuose Ronaldo. Perguntam-me, num papo cabeça, se eu fico com o Guga ou com a seleção.
Pode votar nos dois?

Mulatinhos rosados
A ESPN Brasil meteu-se numa enrascada. Depois do segundo documentário da trilogia sobre os clubes cariocas que chegam ao centenário neste ano, ficou mais difícil o desafio de manter o padrão quando contar a história das coisas que só acontecem com o Botafogo. O primeiro, sobre o América, foi excelente. O mais recente, com os "mulatinhos rosados" do Bangu, também. Os depoimentos de Marinho e Ado, pontas do time derrotado no Campeonato Brasileiro de 1985, entram para a antologia dos mais emocionantes do futebol. Ao reencontrar Domingos da Guia e Zizinho, pensei no Pelé dizendo que, antes dele, não havia negros nos clubes. Falou isso na semana passada. Vai ver foi culpa de algum assessor.

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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