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FUTEBOL
Velhos problemas
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Se o Brasil tivesse uma
equipe maravilhosa, correria grandes riscos de perder para o Uruguai em Montevidéu. É
um fato. Outro, é que foram repetiram os crônicos problemas
individuais e táticos.
Sempre que a seleção perdia e
ou jogava mal, diziam que faltava garra e amor à camisa.
Com Felipão, seria diferente. O
novo técnico falou em falta de
malandragem e de picardia. Ricardo Teixeira completou: "Faltava o futebol bandido".
O péssimo calendário brasileiro é um dos motivos do mau futebol da seleção, mas estão lhe
dando exagerada importância.
A deficiência é principalmente
técnica, tática e de confiança.
Os jogadores perderam a ousadia e a alegria de brincar com
responsabilidade. O time está
muito triste e burocrático.
Ao assumir o comando, Felipão disse que a equipe sairia da
mesmice, que jogaria com uma
linha de três zagueiros e dois
alas e que os "estrangeiros"
atuariam como em seus clubes.
Nada disso aconteceu. Quem sabe no próximo jogo?
O Brasil atuou em seu tradicional e ultrapassado esquema
tático. Pior, improvisou um zagueiro na função de volante. Na
verdade, Roque Júnior fez o que
fazem quase ou todos os volantes: desarmam, tocam a bola para o lado e se atrapalham quando tentam um passe mais longo
ou avançam.
Os volantes brasileiros, não
somente o Roque Júnior, não
são armadores nem zagueiros.
Não participam do ataque e estão sempre atrasados na cobertura dos zagueiros e laterais. Os
técnicos insistem em dizer que
eles funcionam defensivamente
como um terceiro zagueiro.
Em quase todas as seleções do
mundo, jogadores de meio-campo são armadores. Atacam
e defendem. Para não enfraquecer o sistema defensivo, os treinadores escalam três verdadeiros zagueiros ou põem os laterais na função de marcadores,
ao lado dos dois zagueiros, formando uma linha de quatro defensores. Seleção nenhuma do
mundo, com exceção da brasileira, joga com dois zagueiros e
dois laterais apoiando.
Todos os técnicos sabem que
os zagueiros brasileiros vão tocar a bola para os volantes, que
vão demorar 500 anos para girar o corpo e tocar para o lateral. Bem marcados, os laterais
voltam a bola para os volantes,
que, livres, começam tudo de
novo. Quando avançam, passam errado, já que não têm habilidade. No contra-ataque, os
dois zagueiros ficam sem cobertura contra dois atacantes.
Assim aconteceu o gol do Uruguai. Querem colocar a culpa no
Antônio Carlos, que não fez a
falta. Estão até dizendo que faltou o Galeano para derrubar o
Recoba. Aí é demais. Esquecem
que o Riquelme deu um show de
bola no Galeano.
Antônio Carlos não fez a falta
porque ele e o Cris, sem cobertura contra dois atacantes, ficaram preocupados com o Dario
Silva. Nessa indecisão, o habilidoso Recoba foi driblando até
sofrer o pênalti. Se houvesse um
terceiro zagueiro ou se o Cafu
estivesse na lateral -e não na
frente-, seria diferente.
Para atuar no ataque com os
dois laterais apoiando, como faz
o Brasil, é essencial usar três zagueiros. Para jogar na defesa,
recuar a marcação e priorizar o
contra-ataque, o melhor esquema é a linha com quatro defensores, como fez o Uruguai. Os
técnicos brasileiros e europeus
geralmente fazem o contrário.
Para ultrapassar um forte esquema defensivo como o do
Uruguai, é necessário driblar e
cavar faltas próximo à área (Juninho só driblou na lateral), ter
bons cabeceadores e cruzadores
da linha de fundo e marcar a
saída de bola. Quando se recupera a bola no campo rival, os
armadores e os atacantes estão
próximos do gol e os zagueiros,
desprotegidos. O Brasil não
marcou por pressão, não recuou
nem usou o contra-ataque. Ficou cercando, fazendo sombra.
Rivaldo e Romário foram os
piores dos piores.
O jogador do Barcelona perdeu sua confiança, e a torcida, a
paciência.
Há muito tempo Romário é
problema e solução. Tem momentos geniais -foi o maior
centroavante do mundo de todos os tempos- e outros totalmente apagados. É, hoje, um
grande risco. Felipão terá de resolver essa questão. Não pode
ser refém do Romário. Ele somente deveria jogar em boas
condições físicas e técnicas.
Falta à seleção brasileira um
grande jogador de meio-campo.
Rivaldo, Juninho, Alex e outros atuam da intermediária
para o gol. Os volantes jogam no
campo do Brasil. Ninguém pensa nem organiza o jogo no meio-campo.
Felipão convocou seis atacantes, dois meias-atacantes e três
volantes. Nenhum típico armador. Ainda deixou os três atacantes velocistas na reserva e escalou Élber e Romário juntos.
Um marcando o outro.
O leitor Carlos Alberto envia-me um e-mail dizendo que "falar é fácil". É verdade!
Os técnicos reclamam a mesma coisa dos comentaristas.
Não tenho a pretensão de achar
que minhas opiniões darão certo na prática. Há dezenas de fatores envolvidos no resultado de
uma partida.
Uma teoria é boa até ser desmentida na prática.
Aí cria-se uma nova. Sem
uma boa teoria, porém, não se
faz nada bem-feito.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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