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Seleção teve acesso a dados sigilosos do apito
Frase de Parreira sobre juiz da partida contra a França despertou a suspeita
Segundo a Fifa, "é estranho"
treinador do Brasil saber da
avaliação dos árbitros, feita por comissão que tem o
presidente da CBF como vice
FÁBIO VICTOR
RICARDO PERRONE
ENVIADOS ESPECIAIS A FRANKFURT
A comissão técnica da seleção brasileira teve, durante a
Copa do Mundo, acesso a informações internas do Comitê de
Arbitragem da Fifa cuja divulgação é proibida pela entidade.
Na véspera de enfrentar a
França, ao comentar a escalação do espanhol Luis Medina
Cantalejo para apitar o jogo,
Carlos Alberto Parreira disse
que o juiz era o líder de um ranking técnico elaborado pela Fifa para avaliar árbitros da Copa.
Ao ter dito aquilo, Parreira
mostrou que sabia o que nenhum treinador, jogador ou árbitro, em tese, poderia saber.
Coincidência ou não, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, é vice-presidente do Comitê
de Arbitragem da Fifa, além de
integrar o Comitê Executivo.
"Analisamos cada jogo dos
árbitros e lhes damos pontos,
mas é impossível que o sr. Parreira saiba da pontuação. É algo
interno, a que nem os juízes
têm acesso, eles não têm idéia
de seu ranking. Como o técnico
brasileiro poderia saber? É estranho", disse à Folha Andreas
Werz, porta-voz da Fifa.
Alegando sigilo, ele não confirmou se o dado de Parreira
era verdadeiro, mas admitiu
que Cantalejo (responsável pelo pênalti inexistente em favor
da Itália contra a Austrália) era
um dos mais bem avaliados -a
Fifa julgou que houve pênalti.
A assessoria da CBF disse
que a entidade não recebeu os
dados e que Parreira poderia
ter tido acesso a eles por meio
de alguém da Fifa. O ranking
citado pelo técnico é importantíssimo, pois a partir dele é definido quem apitará os jogos.
Os juízes recebem notas de 1 a
10 em itens como interpretação das regras do jogo, desempenho físico e cartões dados.
É um procedimento obscuro
até entre os juízes. Ontem o
alemão Markus Merk se irritou
ao ser questionado pela Folha
sobre o tema. Disse desconhecer a existência da avaliação e,
ante a insistência da reportagem, encerrou a entrevista.
O ranking técnico é elaborado pelo Comitê de Arbitragem,
mas, segundo a Fifa, Teixeira
não dá nota aos árbitros. Conforme a definição dos próprios
juízes, há, no órgão, "políticos"
e "técnicos". O brasileiro pertence ao primeiro grupo, assim
como o presidente do comitê, o
espanhol Angel María Villar.
O porta-voz Andreas Werz
disse que Teixeira tem um papel ativo no Comitê de Arbitragem. Nesta Copa, contou, visitou o hotel dos árbitros várias
vezes, conversou com eles e
tem participado das reuniões
que definem quem apita qual
jogo. Já na concentração brasileira, sua presença foi rara.
Na Copa de 94, nos EUA, o
cartola disse que não se ganha
uma Copa só dentro de campo.
Proferiu a frase após a vitória
sobre a Holanda nas quartas-de-final, na qual o Brasil foi beneficiado pela arbitragem.
É uma seara, aliás, da qual a
seleção não tem do que se queixar. Neste Mundial, a mãozinha dos juízes ao time se fez
presente. A maior foi no jogo
contra a Gana, nas oitavas,
quando teve um gol de Adriano
em impedimento e o árbitro
eslovaco Lubos Michael pediu
a camisa de Ronaldo, fato que
revoltou os rivais, mas que ontem a Fifa reafirmou ter considerado normal. "Não há o menor problema. Existe um ex-árbitro holandês que tem 600 camisas de atletas", disse Werz.
Contra a França, a mãozinha
reapareceu. Na primeira etapa,
Juan derrubou Vieira, quando
o francês partia em direção ao
gol. Levou só amarelo. Na cobrança da falta, a bola bateu na
mão de Ronaldo, que estava na
área. O juiz deu nova falta, e
não pênalti. Pouco adiantou.
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