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Clóvis Rossi
Velho é a mãe
COMO JÁ disse mais de
uma vez, o fato de
ser brasileiro não
me obriga a torcer pelo
Brasil no futebol.
O bem-estar da pátria
não se joga nos campos de
futebol. Neles, há (ou deveria haver) espetáculo, e espetáculo não tem pátria.
Que o diga Zinedine Zidane. Tostão, que viu o jogo
ao meu lado, olhava para
mim a cada jogada mais espetacular do francês e nem
precisava dizer nada.
Confesso: me levantei
para aplaudi-lo quando
deixou o campo como se
deve aplaudir a prima-dona de um recital de altíssima qualidade.
Pela não obrigação de ser
"patrioteiro", a Copa era a
chance de ver explodir ou
consolidar-se uma pequena lista de novos Zidanes.
Primeiro da lista, óbvio,
Ronaldinho. Achei que faria, com a camisa amarela,
quase tudo o que faz com a
"blau-grana" (azul e grená)
do Barça. Não fez nada.
Segundo da lista, também do Barça: o argentino
Lionel Messi. O menino (19
anos) estava começando a
corrida para o estrelato
quando foi acertado por
um pontapé na Copa dos
Campeões. Teve que ficar
fora das finais (deu Barça,
como é justo). O Mundial
era a chance de explodir.
Não o deixaram jogar. Crime de lesa-futebol.
Fico na dúvida se enquadro Robinho, outro da lista,
no quesito anterior (crime
de lesa-futebol, por ter jogado pouco) ou se entra na
relação das frustrações, como Ronaldinho.
Depois, vinha Wayne
Rooney. Parecia capaz de
superar minha eterna desconfiança da cintura dura
dos ingleses. Até ensaiou,
mas acabou acertando
mesmo outras bolas, as da
bolsa escrotal do português
Ricardo Carvalho.
Tinha (ou ainda tem)
Cristiano Ronaldo, de Portugal. É o tipo de jogador
que parece que vai se consagrar no minuto seguinte,
em qualquer jogo, mas falta
sempre "the last mile", como gostam de dizer os
americanos, aquele momento final de uma obra.
Nesse deserto de atuações individuais de brilho
que está sendo a Copa, sobrou quem? Sim, ele mesmo, Zizou, o velho (34
anos), que já anunciou que
deixa o futebol após o torneio na Alemanha. Como é
mata-mata, qualquer partida pode ser a última de Zidane. Eu, se fosse ele, tomaria um avião após derrotar o Brasil, depositaria as
chuteiras no Arco do
Triunfo e sairia da história
para ficar na memória.
crossi@uol.com.br
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