São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2006

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Clóvis Rossi

Velho é a mãe

COMO JÁ disse mais de uma vez, o fato de ser brasileiro não me obriga a torcer pelo Brasil no futebol.
O bem-estar da pátria não se joga nos campos de futebol. Neles, há (ou deveria haver) espetáculo, e espetáculo não tem pátria.
Que o diga Zinedine Zidane. Tostão, que viu o jogo ao meu lado, olhava para mim a cada jogada mais espetacular do francês e nem precisava dizer nada.
Confesso: me levantei para aplaudi-lo quando deixou o campo como se deve aplaudir a prima-dona de um recital de altíssima qualidade.
Pela não obrigação de ser "patrioteiro", a Copa era a chance de ver explodir ou consolidar-se uma pequena lista de novos Zidanes.
Primeiro da lista, óbvio, Ronaldinho. Achei que faria, com a camisa amarela, quase tudo o que faz com a "blau-grana" (azul e grená) do Barça. Não fez nada.
Segundo da lista, também do Barça: o argentino Lionel Messi. O menino (19 anos) estava começando a corrida para o estrelato quando foi acertado por um pontapé na Copa dos Campeões. Teve que ficar fora das finais (deu Barça, como é justo). O Mundial era a chance de explodir. Não o deixaram jogar. Crime de lesa-futebol.
Fico na dúvida se enquadro Robinho, outro da lista, no quesito anterior (crime de lesa-futebol, por ter jogado pouco) ou se entra na relação das frustrações, como Ronaldinho.
Depois, vinha Wayne Rooney. Parecia capaz de superar minha eterna desconfiança da cintura dura dos ingleses. Até ensaiou, mas acabou acertando mesmo outras bolas, as da bolsa escrotal do português Ricardo Carvalho.
Tinha (ou ainda tem) Cristiano Ronaldo, de Portugal. É o tipo de jogador que parece que vai se consagrar no minuto seguinte, em qualquer jogo, mas falta sempre "the last mile", como gostam de dizer os americanos, aquele momento final de uma obra.
Nesse deserto de atuações individuais de brilho que está sendo a Copa, sobrou quem? Sim, ele mesmo, Zizou, o velho (34 anos), que já anunciou que deixa o futebol após o torneio na Alemanha. Como é mata-mata, qualquer partida pode ser a última de Zidane. Eu, se fosse ele, tomaria um avião após derrotar o Brasil, depositaria as chuteiras no Arco do Triunfo e sairia da história para ficar na memória.

crossi@uol.com.br


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