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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Cuspindo no próprio prato

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os gaúchos atropelaram os paulistas no fim de semana. Em três confrontos, venceram dois e empataram um.
As vitórias do Grêmio e do Internacional tiveram um desenho parecido: marcação forte, rapidez no contra-ataque e, sobretudo, muita garra.
Seria exagero dizer que Santos e São Paulo entraram em campo de salto alto, mas não há como negar que, embora com elencos superiores, foram surpreendidos por equipes muito mais empenhadas e aplicadas taticamente.
No jogo do Olímpico, deu gosto ver novamente o Grêmio, depois de tantos reveses, jogar com confiança e vontade de vencer. Os dias em Canela, na serra gaúcha, parecem ter trazido de volta o espírito guerreiro e vencedor.
A vitória de sábado, sobre o atual campeão brasileiro, tem um peso simbólico e pode marcar um ponto de inflexão na trajetória gremista no campeonato. Com um novo técnico e a volta de jogadores importantes, como Gilberto e Tinga, o tricolor gaúcho parece já estar subindo de volta à superfície, depois de ter batido o pé no fundo do poço.
No Morumbi, o Inter comprovou sua coesão tática e a boa fase de alguns de seus jovens talentos, como o centroavante Nilmar. Teve a seu favor, além disso, a pressão exercida pela exigente torcida são-paulina sobre o time da casa.
Exigente, não. A torcida tricolor, ou pelo menos sua porção mais ruidosa, é impaciente e ingrata como poucas. No sábado, em vez de torcer, resolveu pegar no pé de Kaká.
O jovem meia pode não ter feito uma grande partida, mas se movimentou bastante, tentou criar espaços na fechada marcação colorada e chegou a fazer algumas boas jogadas. Mostrou empenho, enfim. Mas não bastou. No início do segundo tempo, já se ouvia o coro infame e burro: "Ei, Kaká, vá tomar...". É o fim da picada.
Todas as torcidas de grandes clubes, acostumadas aos títulos e vitórias, têm dificuldade em engolir os fracassos.
Mas a do São Paulo, além de mais impaciente -pois vaia o time até nas vitórias e "sofre" um vice como se fosse uma vergonha-, tem uma particularidade curiosa, que a contrasta, por exemplo, com a do Corinthians.
Enquanto a massa alvinegra tende a adular e perdoar os atletas formados no clube (como o goleiro Rubinho), a tricolor costuma hostilizar com mais veemência justamente as pratas-da-casa. Foi assim com Jean até há pouco tempo, agora é com Kaká e Fábio Simplício. Quem é capaz de explicar esse aparente mistério?
A torcida do Grêmio -outro clube habituado às glórias- também pressionou muito o time na atual má fase. Xingou, pediu cabeças e tudo mais. Mas sábado estava no Olímpico em número razoável e apoiou os jogadores.
Foi também por isso que o time, do goleiro Danrlei (que aliás fechou o gol) aos atacantes, vibrou em campo desde o apito inicial.
Fico imaginando qual seria a reação da torcida são-paulina se seu time estivesse em penúltimo lugar no campeonato.

Campeão de inverno
O Cruzeiro conquistou com plenos méritos o título simbólico de campeão do primeiro turno -ou "campeão de inverno", como dizem agora, imitando os europeus. Se não tiver mais desfalques importantes, é o grande favorito ao título de verdade. Além de tudo, o time de Wanderley Luxemburgo tem muita sorte. Sempre que tropeça, seus concorrentes mais próximos tomam tombos piores, como no sábado.

Lúcida loucura
O lance mais emocionante da rodada, a meu ver, foi o gol de cabeça do goleiro Lauro, da Ponte Preta, empatando a partida com o Flamengo já nos acréscimos. Sou totalmente a favor de maluquices como essa, que inflamam a torcida e fazem do futebol uma festa febril.


E-mail jgcouto@uol.com.br


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