São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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FUTEBOL

Envelhecimento dos craques

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Cada pessoa envelhece do seu jeito e em intensidades diferentes. No futebol é a mesma coisa. Há atletas com mais de 35 anos (jovens para outras atividades), que, mesmo não sendo tão bons quanto foram, não mudaram de estilo nem de posição e ainda jogam bem, como César Sampaio, Zinho, Valdo e outros.
Com o tempo, alguns atletas trocam de função, até de características, e se dão bem. Isso prolonga as suas carreiras, sem perder a qualidade. Júnior foi tão craque no meio-campo quanto tinha sido na lateral. O mesmo aconteceu com o lateral Nilton Santos quando ele passou a atuar de zagueiro. Müller era um ótimo finalizador que ficou ainda melhor quando se tornou um atacante armador, sem trocar de posição.
Existem atletas que não mudam de posição nem de estilo, perdem progressivamente a eficiência, mas seguem em evidência por um longo período. Eles convivem bem com o tempo e com a queda da condição física.
Romário foi um fenômeno até a Copa-98, quando foi cortado por contusão. Depois disso, a sua mobilidade diminuiu até ele ficar parado, esperando a bola para finalizar. Essa transformação foi aos poucos, tanto que antigos torcedores e jornalistas acham que o Romário sempre jogou assim.
Muitos craques tornam-se veteranos mais cedo e/ou perdem bruscamente o brilho e são rapidamente esquecidos. Rivaldo pode se recuperar, mas no Cruzeiro estava lento e pesado. Na Copa-2002, ele teve atuações espetaculares. O seu futebol envelheceu muito depressa. Não deu tempo para acostumarmos.
É a mesma sensação quando encontramos uma pessoa que não víamos havia muito tempo. Ainda bem que nos olhamos no espelho todos os dias.

Trio bom de bola
O Santos é o time que fez mais gols no Brasileiro e o único que joga um futebol leve, vistoso e ofensivo. Elano se adaptou bem à função do Diego. Deivid e Robinho se movimentam por todos os lados e abrem espaços para Elano chegar à área e finalizar. Os três são velozes, dão ótimos passes e fazem gols. No melhor momento do Cruzeiro no ano passado, acontecia o mesmo com o trio formado pelo Deivid, Aristizábal e Alex.
Essa característica, com todos os três atacantes armando e fazendo gols, funciona melhor do que a com um artilheiro, um velocista e um armador.
Além de veloz, Deivid tem muita técnica. Ele passa, cruza e finaliza bem. Tudo no momento certo. Como dribla pouco e não tem um estilo vistoso, é menos elogiado do que merece.
Robinho está mais consistente, adulto, sem perder a fantasia. Ele não corre demais, desordenadamente, como antes. Pensei que ele evoluiria pouco na posição de atacante. Enganei-me. Robinho pode brilhar na posição e vindo de trás, mais pela esquerda, atacando e marcando, como fazia em 2002, no início de sua carreira.
Se o Luxemburgo arrumar a defesa, sem diminuir a força ofensiva, como fez em outros times, o Santos será o favorito ao título.

Camisa 10
Após uma longa ausência, Edmundo teve contra o Cruzeiro uma atuação razoável, no primeiro tempo, e apagada, no segundo, quando passou a jogar no meio-campo.
Na sua carreira, Edmundo se destacou pela velocidade, mobilidade, habilidade, finalização, aguerrimento e por driblar em direção ao gol. Ele foi um atacante excepcional. Mas quando atuava mais recuado, como gosta, se tornava um jogador comum.
Edmundo sempre quis ser o craque do time, o camisa 10, o atacante que recua, arma e faz gols, como fizeram os grandes craques do futebol, como Zico, Platini, Sócrates e outros. Porém Edmundo nunca teve futebol para tanto. Não será agora que terá.

Orgulho e alegria
Com freqüência, em todo o mundo, jogadores ainda em forma desistem de atuar na seleção de seus países. O mais recente foi Nedved, excepcional jogador da seleção tcheca. Ele alega que machuca na seleção e desfalca a Juventus, que paga seu salário.
Há muitos atletas que desejariam fazer o mesmo, mas não têm coragem. Daqui uns tempos, perderão esse constrangimento e será comum essa decisão. Lamentável!
O maior orgulho e alegria de um atleta é jogar pela seleção de seu país. Jogar e ficar arrepiado quando se escuta o hino nacional. Dinheiro nenhum paga isso.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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