São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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No futebol feminino, mulheres apenas jogam

Comissão técnica da seleção brasileira, com 7 integrantes, é exclusivamente masculina, incluindo massagista e fisioterapeuta

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SHENYANG

Um "Clube do Bolinha" cerca as mulheres do futebol brasileiro, que serão as primeiras a representar o país na Olimpíada de Pequim, na quarta-feira, contra a Alemanha.
Além do comando técnico, em que no Brasil, independente da modalidade, os homens quase sempre dão as cartas, o time feminino do mais popular esporte tem uma comissão exclusivamente masculina.
Isso significa que quem massageia Marta ou faz fisioterapia em Cristiane e companhia é um homem. Supervisão e médico repetem a regra. São sete integrantes da comissão técnica, todos do sexo masculino.
O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) levou para a China 18 profissionais de massagem e fisioterapia. E a proporção de mulheres na delegação é até considerável -cinco, que basicamente serão responsáveis pelos corpos femininos.
Na equipe feminina de futebol, o discurso é que todos são profissionais e ninguém fica constrangida de se tratar só com homens -em Atenas, há quatro anos, havia uma fisioterapeuta na comissão.
Mas existem algumas normas de convívio básicas.
"Nenhum homem pode entrar nos quartos das garotas. Se em algum caso que não haja alternativa, como levar um documento, é obrigatório bater na porta antes e se identificar", diz o supervisor Paulo Dutra, há mais de 30 anos na CBF, sendo que 13 trabalhando com mulheres de diversas idades.
"Prefiro trabalhar com as mulheres. Você precisa tratá-las diferente. Não pode gritar, tem que resolver as coisas chamando num canto para conversar", declara Dutra.
O massagista Jorge Carlos Pereira, há dois anos cuidando das mulheres, diz que nunca viu alguma jogadora inibida ao ser tocada por ele. Mas revela que com elas o trabalho é menor. "Os homens do futebol pedem mais massagens", conta Pereira, que ontem tratou de Marta, duas vezes a melhor do mundo da Fifa, antes do primeiro treino do time na China.
Para as jogadoras, tantos homens não são um problema, mas elas gostam de um tratamento típico feminino.
"A gente é diferenciada. Somos diferentes, não têm jeito, tem que ser carinhoso. Pode puxar a orelha, mas tem que ser sensível, saber até que ponto pode cobrar", afirma a goleira reserva Bárbara.
"Aqui não precisa xingar. Conversando a gente se acerta. Palavrão não tem necessidade", declara a volante Maicon, citando como os homens da comissão devem tratar as jogadoras da seleção que é a atual vice-campeã mundial e olímpica.
"O Jorge [Barcellos, técnico do time] tem esposa e mais duas filhas. Ele sabe como conviver com as mulheres", afirma a meia Daniela Alves.
Com homens no comando e mulheres em campo, o time feminino brasileiro pensa alto na Olimpíada de Pequim.
As estrelas do time dizem que o único bom resultado nos Jogos é uma medalha de ouro.
"Não tem prata ou bronze. para o futebol feminino tem que ser ouro", diz Daniela. "Para nós, é ouro. A gente já tem brigado por isso, mostramos potencial. Porque não o ouro agora?", compactua Marta.
Além da Alemanha, a atual campeã mundial, o Brasil enfrenta Nigéria e Coréia do Norte na primeira fase dos Jogos. A estréia é na quarta-feira.


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