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No futebol feminino, mulheres apenas jogam
Comissão técnica da seleção brasileira, com 7 integrantes, é exclusivamente masculina, incluindo massagista e fisioterapeuta
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SHENYANG
Um "Clube do Bolinha" cerca
as mulheres do futebol brasileiro, que serão as primeiras a representar o país na Olimpíada
de Pequim, na quarta-feira,
contra a Alemanha.
Além do comando técnico,
em que no Brasil, independente da modalidade, os homens
quase sempre dão as cartas, o
time feminino do mais popular
esporte tem uma comissão exclusivamente masculina.
Isso significa que quem massageia Marta ou faz fisioterapia
em Cristiane e companhia é um
homem. Supervisão e médico
repetem a regra. São sete integrantes da comissão técnica,
todos do sexo masculino.
O COB (Comitê Olímpico
Brasileiro) levou para a China
18 profissionais de massagem e
fisioterapia. E a proporção de
mulheres na delegação é até
considerável -cinco, que basicamente serão responsáveis
pelos corpos femininos.
Na equipe feminina de futebol, o discurso é que todos são
profissionais e ninguém fica
constrangida de se tratar só
com homens -em Atenas, há
quatro anos, havia uma fisioterapeuta na comissão.
Mas existem algumas normas de convívio básicas.
"Nenhum homem pode entrar nos quartos das garotas. Se
em algum caso que não haja alternativa, como levar um documento, é obrigatório bater na
porta antes e se identificar", diz
o supervisor Paulo Dutra, há
mais de 30 anos na CBF, sendo
que 13 trabalhando com mulheres de diversas idades.
"Prefiro trabalhar com as
mulheres. Você precisa tratá-las diferente. Não pode gritar,
tem que resolver as coisas chamando num canto para conversar", declara Dutra.
O massagista Jorge Carlos
Pereira, há dois anos cuidando
das mulheres, diz que nunca
viu alguma jogadora inibida ao
ser tocada por ele. Mas revela
que com elas o trabalho é menor. "Os homens do futebol pedem mais massagens", conta
Pereira, que ontem tratou de
Marta, duas vezes a melhor do
mundo da Fifa, antes do primeiro treino do time na China.
Para as jogadoras, tantos homens não são um problema,
mas elas gostam de um tratamento típico feminino.
"A gente é diferenciada. Somos diferentes, não têm jeito,
tem que ser carinhoso. Pode
puxar a orelha, mas tem que ser
sensível, saber até que ponto
pode cobrar", afirma a goleira
reserva Bárbara.
"Aqui não precisa xingar.
Conversando a gente se acerta.
Palavrão não tem necessidade",
declara a volante Maicon, citando como os homens da comissão devem tratar as jogadoras da seleção que é a atual vice-campeã mundial e olímpica.
"O Jorge [Barcellos, técnico
do time] tem esposa e mais
duas filhas. Ele sabe como conviver com as mulheres", afirma
a meia Daniela Alves.
Com homens no comando e
mulheres em campo, o time feminino brasileiro pensa alto na
Olimpíada de Pequim.
As estrelas do time dizem
que o único bom resultado nos
Jogos é uma medalha de ouro.
"Não tem prata ou bronze.
para o futebol feminino tem
que ser ouro", diz Daniela. "Para nós, é ouro. A gente já tem
brigado por isso, mostramos
potencial. Porque não o ouro
agora?", compactua Marta.
Além da Alemanha, a atual
campeã mundial, o Brasil enfrenta Nigéria e Coréia do Norte na primeira fase dos Jogos. A
estréia é na quarta-feira.
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