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JOSÉ ROBERTO TORERO
Crônica pouco útil para torcedores do Flu
da Equipe de Articulistas
Há dias em que tudo dá errado, mas um pequeno ato nos
redime. São dias em que levamos bronca do chefe, rasgamos
a camisa na maçaneta, um
carro passa numa poça de lama e nos sapeca o terno branco, e almoçamos um hambúrguer estragado. Mas, então, na
hora de voltar para casa, vemos nosso ônibus saindo e com
uma corridinha conseguimos
dar um salto e alcançá-lo. Esse
pequeno pulo redime nosso dia
e traz de volta nossa felicidade, nossa fé em Deus e a esperança de tempos melhores. É o
que chamo de síndrome do ladrão da cruz. Aconteceu comigo três vezes no último
fim-de-semana.
Na primeira estava na cozinha, tentando fazer uma omelete. Quebrei um prato, deixei
um ovo cair no chão e, para
piorar, levei um tombo depois
de sapatear alguns instantes
sobre a pasta formada pela gema e pela clara. Ainda deitado, vi que tinha posto o leite no
fogo e ele ia derramar.
Levantei-me depressa e, depois de mais duas quedas, consegui girar o botão e impedir o
pior. Foi um enorme alívio e
uma sincera alegria apareceu
em meu rosto sujo de ovo.
Na segunda vez estava todo
ensaboado no chuveiro quando faltou luz e fiquei tremendo
de frio debaixo de um gelado
fio de água. Como estava com
sabão nos olhos, tentei alcançar minha toalha, mas ela caiu
no piso molhado. Ia começar a
xingar a mãe de Thomas Edison quando a luz voltou e a
água quente tornou a cair sobre mim. Nem me importei de
ter que me enxugar com o tapete do banheiro.
A terceira e última vez aconteceu diante da TV, no
fim-de-semana esportivo. Logo de cara vieram as derrotas
de Guga e Meligeni. Mas era só
começo. No domingo de manhã, como muitos brasileiros
teimosos, sentei-me para assistir a corrida. Claro que não tinha ilusões, mas, no fundo,
pensava: "Vai que todo mundo
quebra e o Rubinho chega em
primeiro, o Diniz em segundo e
o Rosset em terceiro". Infelizmente, mais uma vez tudo ficou no sonho. Diniz foi o primeiro a quebrar, Barrichello
parou logo depois e o Rosset
nem largou.
À tarde veio o jogo de basquete entre Brasil e Espanha.
Nosso time só tinha conseguido ganhar, e no sufoco, dos
pigmeus coreanos, mas a esperança nunca morre. Pois bem,
perdemos de novo.
Assim sendo, entrei no crepúsculo de domingo esperando
pelo pior, e, quando o Cruzeiro
fez um a zero no Santos na
mais triste hora para se tomar
um gol, aos 45min do primeiro
tempo, lembrei que tinha um
revólver guardado na gaveta.
Mas aí as coisas começaram a
mudar. O Santos conseguiu
empatar e, aos 48min do segundo tempo, virou o jogo no
Mineirão, obtendo uma vitória que nem o torcedor mais
otimista esperava.
E assim como o ladrão da
cruz conseguiu um passaporte
para o céu nos últimos instantes da sua vida, meu fim-de-semana também foi salvo no finzinho. Isso prova, irmãos, que
devemos ter sempre fé na vida,
superando as adversidades
com um sorriso generoso de
quem espera dias melhores.
Agora, se você torce para o
Fluminense, aí não tem jeito
mesmo.
torero@uol.com.br
José Roberto Torero escreve às terças e sábados
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