São Paulo, terça, 4 de agosto de 1998

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BASQUETE NO MUNDO
A primeira vez

MELCHIADES FILHO

No próximo dia 13, o basquete terá motivos para afugentar a ressaca pela fraca campanha no Mundial de Atenas: o 50º aniversário do bronze na Olimpíada de Londres, a segunda conquista olímpica da história do Brasil (o tiro obtivera ouro, prata e bronze em 1920).
Infelizmente, os relatos da imprensa da época são pobres -assim como os arquivos das entidades esportivas nacionais.
Sabe-se que, por causa de contusões, o Brasil pisou a quadra para enfrentar o México, em 13 de agosto de 1948, com um time misto, usando três reservas.
Com um time mais alto, o adversário aproveitou para disparar, fechando o primeiro tempo com 25 a 17 no placar.
Na segunda etapa, já com os titulares Alfredo, Algodão e Massinet na partida, os brasileiros se recuperaram. Anotaram os primeiros nove pontos do período, assumindo a dianteira pela primeira vez.
O resto do jogo foi uma disputa feroz, com quase 20 inversões de liderança. Mas, numa demonstração de fôlego psicológico (o que vem faltando ao Brasil no Mundial-98), a seleção conseguiu novo espasmo ofensivo no fim, marcando 10 dos últimos 11 pontos do 52 x 47.
Alfredo foi o cestinha, com 26 pontos. A Massinet coube o episódio mais folclórico dos Jogos -na briga por um rebote, teve o calção inteirinho rasgado e precisou correr ao vestiário.
A medalha ajudou a popularizar o esporte no país e estimulou o nascimento da geração que chegaria ao bi mundial na virada dos anos 50/60.
Serviu também para criar uma hegemonia das Américas no basquete. Está certo que os europeus penavam, atordoados pelos efeitos da Segunda Guerra Mundial. Mas o fato é que 5 das 8 seleções nas quartas-de-final eram americanas. E o título acabou nas mãos dos EUA, que, invictos e engatinhando havia apenas um ano no profissionalismo do esporte, massacraram a França na decisão, 65 x 21.

1948 1 Desacreditada por ter perdido o Sul-Americano um ano antes, em pleno Rio, a seleção brasileira foi formada somente 20 dias antes da viagem para Londres. A correria quase custou ao time sua grande estrela. Alfredo, considerado um dos cinco melhores jogadores da Olimpíada, só teve regularizada sua documentação na véspera do embarque, mesmo assim porque o então presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, mexeu pauzinhos.

1948 2 O técnico da seleção olímpica de bronze, Moacyr Daiuto, alcançaria um ouro 15 anos depois, no Mundial do Rio. Em 1970, na Iugoslávia, fez de novo um trabalho brilhante, atingindo o vice-campeonato. Com tudo isso, e um cartel de 98 títulos por clubes no país, Daiuto morreu em 1995, aos 75 anos, no esquecimento, para variar. Merecia estátua.

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