São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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Seleção volta a SP em bate-volta

Desfalques por motivos políticos, rival saco de pancadas e estadia curta marcam reencontro do time nacional com maior cidade do país, onde não joga como campeã mundial desde 74

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Um presente para São Paulo, mas com um embrulho e um recheio de segunda categoria.
Vai ser assim o primeiro jogo de uma seleção brasileira com status de campeã mundial depois de 30 anos no maior cidade do país -o time tetracampeão a ignorou, e o penta, que já passou por Fortaleza, Manaus, Curitiba e Belo Horizonte, demorou mais de dois anos para dar as caras no município.
O desafio de amanhã, às 17h10, contra a Bolívia, marca o retorno do time nacional aos gramados paulistanos em um evento prejudicado pela fragilidade do rival, pelos desfalques propositais da equipe de Carlos Alberto Parreira e pela permanência relâmpago da delegação brasileira na cidade.
Para São Paulo, a CBF reservou o maior saco de pancadas da América do Sul atualmente. A Bolívia é a lanterna das eliminatórias (perdeu cinco dos sete jogos que disputou) e tem a pior posição entre os times da região no ranking da Fifa que foi divulgado nesta semana -é apenas a 93ª colocada, atrás de nulidades da bola, como Quênia, Cuba e Indonésia.
Não bastasse a escolha de tão débil adversário para os paulistanos verem a seleção, a CBF ainda vai privar os torcedores da cidade de cinco titulares do time de Carlos Alberto Parreira. Isso porque os cinco não atenderam ao chamado para o amistoso do mês passado contra o Haiti.
Na lista dos vetados estão quatro jogadores com fortes ligações com clubes paulistas -Dida, Cafu, Kaká e Zé Roberto (o zagueiro Lúcio completa a lista).

Passagem relâmpago
A seleção vai ficar em São Paulo por menos de 48 horas. Nos sete jogos que já fez pelas eliminatórias, só na estréia, contra a Colômbia, em Barranquilla, o time ficou tão pouco tempo numa cidade onde atuou -para a partida contra o Chile, a delegação ficou em Santiago mais de 72 horas.
O time treinou durante toda a semana em Teresópolis. Tinha viagem prevista para São Paulo só na noite de ontem -iria chegar ao hotel em que vai ficar hospedado, na zona sul, às 23h.
Hoje o time faz um treino de reconhecimento no gramado do Morumbi, e amanhã, depois do jogo, terá menos tempo ainda para São Paulo. O time viaja para a Alemanha, onde faz amistoso na quarta-feira, às 21h55, ou menos de três horas depois do fim do confronto com os bolivianos. Dessa forma, ficam inviabilizadas entrevistas demoradas ou autógrafos para os fãs.
Mesmo com um pacote de atrações mais fraco do que o habitual, os integrantes da seleção esperam o apoio maciço dos torcedores. "Quem faz a torcida é o time. Se tivermos disposição e raça, a torcida vai nos apoiar", diz Parreira, que no entanto espera gols logo para evitar problemas.
"A torcida vai do amor ao ódio em poucos segundos. Quero uma seleção ativa que tente definir o jogo o mais rápido possível para trazer a torcida para a gente."
O coordenador técnico Zagallo lançou mão do seu tradicional tom patriótico para tentar que a relação entre seleção e a cidade não azede. "São Paulo é Brasil contra a Bolívia", afirmou.
"Sempre é muito bom jogar em São Paulo. Para mim tudo sempre saiu bem lá", disse Ronaldinho. Recuperado de contusão, ele não vai engrossar a lista de desfalques para o público paulistano, que ainda não esgotou os quase 80 mil ingressos colocados à venda para a partida de amanhã.
São Paulo não estava inicialmente no roteiro da seleção nas eliminatórias sul-americanas. O jogo contra a Bolívia só foi marcado para a cidade depois da aproximação de Marco Polo del Nero, o presidente da Federação Paulista, com a cúpula da CBF.
Enquanto no gramado estará em ação uma seleção desfalcada e um rival fraco, as tribunas estarão cheias de políticos, como a prefeita Marta Suplicy e o governador Geraldo Alckmin.


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