São Paulo, sexta-feira, 04 de setembro de 2009

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XICO SÁ

Que vengan los pentas


A suposta humildade dos jogadores brasileiros, pentas metidos, é a pior maneira de ser sacanamente vaidoso


A MIGO TORCEDOR , amigo secador, dom Diego Armando Maradona pediu e o corvo Edgar já se encontra na cidade de Rosario, na esquina da Urquiza com a Entre Rios -onde veio ao mundo Ernesto Che Guevara- para ver o "jogo do século" desta quinzena.
A minha agourenta ave seca até pelada de firma, solteiros x casados, bem sabemos, mas desde 1982, quando viu as ilusões perdidas do futebol arte, aprecia mesmo é secar o time canarinho. Prazer quase sádico. Com Maradona no comando da Argentina, seu grande ídolo dentro e fora de campo, derrotar o Brasil o deixaria mais feliz do que um libertino em uma orgia dos anos 1970.
Não gostou muito, me confessa aqui na fiação telepática, do apelo a Deus feito por Dieguito, referindo- -se à missa rezada ontem para o seu grupo. "Diós es usted", grasnou no centro boêmio de Rosario, em recado para "El Pibe de Oro".
Ciúme esotérico à parte, Edgar está alumbrado com as chicas da área. A cidade é famosa por tal encanto. Haja gastar o portunhol selvagem. Benditas aulas de Douglas Diegues e Wilson Bueno. Em nome da estimada ave, agradeço, gracias, gracias.
O corvo perdoa fácil seu ídolo e mito ludopédico. Acha que Maradona só quis fazer média com os católicos de Rosario. No pasa nada. Edgar e a torcida do Corinthians têm uma razão a mais para secar o Brasil: Carlitos Tevez, em quem aposta como artilheiro de sábado.
Enfim, um final de semana daqueles na Argentina, amigo. Depois do jogo, o corvo segue para Buenos Aires, onde tem uma fuzarca combinada com Washington Cucurto, o autor de "Coisa de Negros" (editora Rocco), o rei da cúmbia e da fuleiragem na bacia do rio da Prata.
A estratégia, mesmo com a obsessão em derrotar os pentas metidos, é a do velho reclame de uma cachaça pernambucana: "Se seu time ganhou, tome Pitu; se seu time empatou, Pitu; se seu time perdeu, Pituuú".
Sim, falo pentas metidos porque nada mais arrogante do que a postura dos atletas brasileiros. A suposta humildade é o pior jeito de ser sacanamente vaidoso, como não me deixa mentir o filósofo Matias Aires, aquele que dá nome à rua da esquina do Sujinho da Consolação, acredite.
Só não fui à Argentina acompanhar as aventuras de Edgarzito por um motivo nobre. No feriadão tem a 1ª Tarrafa Literária, encontro de literatura de Santos, com direito a uma pelada de escritores e jornalistas, essencialmente os cegos e pernas de pau, na Vila Belmiro.
Buena suerte, meu corvo, buena suerte Maradona, figa, secadores do meu Brasil varonil.

Triste fim
Em respeito aos 134 leitores que escreveram para saber o final da história do Pereira e aos curiosos avulsos, comunico: o nosso amigo garçom decidiu não virar a casaca, como propôs a Verinha, a Rose de Primo do Rio Pequeno. Um besta.
Além de perder a moça, que lhe entregaria a sua inocência, ainda viu uma das maiores peladas do século desta quinzena, o jogo do seu tricolor contra o Palmeiras. É, amigo, enquanto os homens continuarem preferindo o seu time do peito ao dengo de uma deusa do subúrbio, esse país não vai para a frente, não ganha ares de civilizado nunca.

xico.folha@uol.com.br

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