São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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FUTEBOL

TOSTÃO

Tudo em aberto

COLUNISTA DA FOLHA

Após a recusa de Felipão e de Parreira, Levir Culpi se tornou o mais provável técnico da seleção brasileira, além de Paulo César Carpegiani, Leão e Oswaldo de Oliveira.
O treinador do São Paulo já mostrou que é bom profissional. É obstinado pelo equilíbrio dentro e fora de campo, mas ainda não tem status de um técnico reconhecidamente competente para o cargo. Terá, se formar uma ótima seleção, mesmo que não seja campeão do mundo.
O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, deixou claro que haverá mudanças estruturais e que a seleção terá um coordenador técnico, que deveria ser escolhido antes do técnico. Os dois formariam a comissão técnica.
É necessário definir os nomes rapidamente. Pelo menos logo após o jogo contra a Venezuela.
As mudanças não podem ser apenas de nomes. Precisam ser completas. Do relacionamento com a imprensa até a maneira de treinar a equipe.
Um técnico da seleção brasileira precisa treinar não somente as jogadas previstas, comuns, mas também as imprevistas, como atuar 11 contra 9. Num jogo de futebol existem muitos mistérios e fatos surpreendentes. Tem de se pensar em tudo.
Numa partida, há momentos em que a ousadia é necessária. Em outros, a prudência. Esses detalhes são muito mais importantes que o desenho tático.
O técnico da seleção precisa definir sua filosofia, como fez Parreira em 1994. Se vai adotar, como referência, uma postura agressiva, ousada e ofensiva, assumindo os riscos, ou uma mais segura e prudente, para não ser surpreendido.
Esse foi um dos erros cometidos pelo técnico Wanderley Luxemburgo. Tinha um discurso moderno, inovador e ofensivo, mas refugou. Não foi uma coisa nem outra. Não foi nada.
Prefiro a ousadia e o risco calculado. Adotar a marcação por pressão, atacar e se preparar para o contra-ataque. Não é utopia.
Para isso, é necessário treinar muito a defesa, no momento em que o time estiver no ataque.
Assim, teremos chances de ganhar e brilhar.
Comentaristas e técnicos de vôlei enfatizam a necessidade da bola chegar rápida e perfeita às mãos do levantador, para ele distribuir o jogo. Básico.
No futebol, obviamente, deveria acontecer o mesmo. A bola deveria chegar redondinha e sem sobressaltos aos pés do armador, para ele servir os atacantes.
Por que os treinadores não cobram um bom passe dos zagueiros, laterais e principalmente dos volantes? Um bom ataque inicia-se na defesa.
Enquanto o futebol brasileiro continuar com os "brucutus" que somente sabem marcar e dar pontapés no meio-campo, não haverá solução.
Existem várias maneiras de se organizar um meio-campo. A mais tradicional, no Brasil e em todo o mundo, foi a adotada pelo Parreira na Copa de 94. Dois volantes, um armador pela esquerda e outro pela direita. Há uma boa distribuição em campo, com uma dupla de cada lado, formada pelo lateral e pelo armador.
Uma variação adotada pela seleção brasileira, em vários jogos do Mundial em 94, foi recuar um volante (Mauro Silva), formando, na prática, três zagueiros.
Nas duas situações, falta um armador no meio, na ligação com o ataque. Para resolver esse problema, os técnicos deslocaram um dos armadores (geralmente o direito) para a função. A equipe ficou mais ofensiva, mas torta, sem um meia-direita.
Luxemburgo tentou resolver a questão no início do Pré-olímpico, ao colocar um volante atrás (Marcos Paulo) e um armador de cada lado (Mozart e Fabiano), com funções defensivas e ofensivas. Não deu certo, já que eles não tinham habilidade para se transformarem em atacantes.
No Cruzeiro, Felipão adota uma outra postura com sucesso. Coloca apenas um volante fixo (Donizete) e três meias com funções ofensivas e defensivas: Jackson pela direita, Ricardinho pelo meio e o Sérgio Manoel pela esquerda. Eles têm pouco talento, mas muita velocidade e mobilidade para a dupla função.
O futebol brasileiro tem ótimos meias ofensivos, capazes de defender e atacar. É preciso acabar com a história de que jogadores criativos não sabem e não querem defender. Isso é balela e incompetência dos técnicos. Marcar bem não é dar carrinhos e trombadas. É, principalmente, se posicionar corretamente e depois desarmar.
Qualquer time esforçado, com um bom técnico, consegue anular as jogadas ofensivas da seleção brasileira. Está muito previsível.
Está na hora de mudar e começar a arriscar.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br



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