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FUTEBOL
TOSTÃO
Tudo em aberto
COLUNISTA DA FOLHA
Após a recusa de Felipão e de
Parreira, Levir Culpi se tornou o mais provável técnico da
seleção brasileira, além de Paulo
César Carpegiani, Leão e Oswaldo de Oliveira.
O treinador do São Paulo já
mostrou que é bom profissional. É
obstinado pelo equilíbrio dentro e
fora de campo, mas ainda não
tem status de um técnico reconhecidamente competente para o
cargo. Terá, se formar uma ótima
seleção, mesmo que não seja campeão do mundo.
O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, deixou claro que
haverá mudanças estruturais e
que a seleção terá um coordenador técnico, que deveria ser escolhido antes do técnico. Os dois formariam a comissão técnica.
É necessário definir os nomes
rapidamente. Pelo menos logo
após o jogo contra a Venezuela.
As mudanças não podem ser
apenas de nomes. Precisam ser
completas. Do relacionamento
com a imprensa até a maneira de
treinar a equipe.
Um técnico da seleção brasileira
precisa treinar não somente as jogadas previstas, comuns, mas
também as imprevistas, como
atuar 11 contra 9. Num jogo de futebol existem muitos mistérios e
fatos surpreendentes. Tem de se
pensar em tudo.
Numa partida, há momentos
em que a ousadia é necessária.
Em outros, a prudência. Esses detalhes são muito mais importantes que o desenho tático.
O técnico da seleção precisa definir sua filosofia, como fez Parreira em 1994. Se vai adotar, como referência, uma postura
agressiva, ousada e ofensiva, assumindo os riscos, ou uma mais
segura e prudente, para não ser
surpreendido.
Esse foi um dos erros cometidos
pelo técnico Wanderley Luxemburgo. Tinha um discurso moderno, inovador e ofensivo, mas refugou. Não foi uma coisa nem outra. Não foi nada.
Prefiro a ousadia e o risco calculado. Adotar a marcação por
pressão, atacar e se preparar para
o contra-ataque. Não é utopia.
Para isso, é necessário treinar
muito a defesa, no momento em
que o time estiver no ataque.
Assim, teremos chances de ganhar e brilhar.
Comentaristas e técnicos de vôlei enfatizam a necessidade da
bola chegar rápida e perfeita às
mãos do levantador, para ele distribuir o jogo. Básico.
No futebol, obviamente, deveria
acontecer o mesmo. A bola deveria chegar redondinha e sem sobressaltos aos pés do armador,
para ele servir os atacantes.
Por que os treinadores não cobram um bom passe dos zagueiros, laterais e principalmente dos
volantes? Um bom ataque inicia-se na defesa.
Enquanto o futebol brasileiro
continuar com os "brucutus" que
somente sabem marcar e dar
pontapés no meio-campo, não
haverá solução.
Existem várias maneiras de se
organizar um meio-campo. A
mais tradicional, no Brasil e em
todo o mundo, foi a adotada pelo
Parreira na Copa de 94. Dois volantes, um armador pela esquerda e outro pela direita. Há uma
boa distribuição em campo, com
uma dupla de cada lado, formada pelo lateral e pelo armador.
Uma variação adotada pela seleção brasileira, em vários jogos
do Mundial em 94, foi recuar um
volante (Mauro Silva), formando,
na prática, três zagueiros.
Nas duas situações, falta um armador no meio, na ligação com o
ataque. Para resolver esse problema, os técnicos deslocaram um
dos armadores (geralmente o direito) para a função. A equipe ficou mais ofensiva, mas torta, sem
um meia-direita.
Luxemburgo tentou resolver a
questão no início do Pré-olímpico, ao colocar um volante atrás
(Marcos Paulo) e um armador de
cada lado (Mozart e Fabiano),
com funções defensivas e ofensivas. Não deu certo, já que eles não
tinham habilidade para se transformarem em atacantes.
No Cruzeiro, Felipão adota
uma outra postura com sucesso.
Coloca apenas um volante fixo
(Donizete) e três meias com funções ofensivas e defensivas: Jackson pela direita, Ricardinho pelo
meio e o Sérgio Manoel pela esquerda. Eles têm pouco talento,
mas muita velocidade e mobilidade para a dupla função.
O futebol brasileiro tem ótimos
meias ofensivos, capazes de defender e atacar. É preciso acabar
com a história de que jogadores
criativos não sabem e não querem defender. Isso é balela e incompetência dos técnicos. Marcar
bem não é dar carrinhos e trombadas. É, principalmente, se posicionar corretamente e depois desarmar.
Qualquer time esforçado, com
um bom técnico, consegue anular
as jogadas ofensivas da seleção
brasileira. Está muito previsível.
Está na hora de mudar e começar a arriscar.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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