São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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OLIMPÍADA

Participação em poucas provas tirou chances do país de obter melhor posição no quadro de medalhas dos Jogos
Erro estratégico condena Brasil olímpico


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma radiografia nos resultados da Olimpíada de Sydney mostra que o fracasso brasileiro na competição tem suas raízes na formação da delegação.
Ao contrário da impressão causada pelo quadro de medalhas, em que ficou no 52º lugar, o Brasil teve um aproveitamento de conquistas não muito distante do registrado por nações que ficaram entre as mais premiadas, como Cuba, Romênia e Bulgária.
Por incrível que pareça, o Brasil teve em Sydney uma das delegações com o maior número de atletas com uma medalha no peito.
Dos 205 integrantes da equipe formada pelo COB, 47 voltaram para casa depois de uma escala no pódio, o que significa um índice de 23%, superior ao de várias nações com melhores posições no quadro de premiações.
É o caso, por exemplo, da Romênia. Mesmo ganhando mais do que o dobro de medalhas brasileiras (26), os europeus tiveram uma proporção de atletas premiados bem menor -só 18% da delegação foram ao pódio.
Até entre as maiores potências esportivas do planeta a proporção de premiados na equipe fica próxima da registrada pelo Brasil -a Austrália só teve 25% da sua delegação recebendo uma medalha nos Jogos que hospedou.
O que era para ser motivo de orgulho mostra, na verdade, o quanto o projeto olímpico brasileiro não beneficia a conquista de um grande número de medalhas.
Apostando em esportes coletivos e provas de revezamento, o país teve na Olimpíada de Sydney um dos menores índices de medalhas disputadas.
Mesmo levando 205 atletas para Sydney, o Brasil só tinha condições de ganhar 108 medalhas. Com apenas 95 inscritos, a Bulgária participou de 97 provas.
O México, que também ficou na frente do Brasil no quadro de medalhas, disputou 81 medalhas com 79 competidores.
Dessa forma, o que parece um resultado desastroso do Brasil se torna muito mais ameno quando se compara o índice de medalhas conquistadas por provas disputadas pelos atletas do país.
Como foi ao pódio 12 vezes, a delegação brasileira teve um aproveitamento de uma medalha para nove provas disputadas.
Se tivesse o mesmo desempenho que a Romênia (uma medalha para cada sete provas disputadas), o Brasil teria mais quatro medalhas nos Jogos de Sydney, o que ainda o deixaria longe do total de premiações de nações com delegações de tamanho parecido, como Holanda e Cuba.
Além do baixo número de provas disputadas por inscritos, o Brasil sofre uma falta de atletas com bom desempenho em provas individuais. Das 12 medalhas do país em Sydney, só três, ou 25%, foram em disputas em que os medalhistas concorreram sozinhos.
Na composição das premiações da Austrália, a participação das provas individuais chega a 55%, número que salta para 75% no caso da Coréia do Sul.
O Brasil também não conseguiu produzir em Sydney um atleta que conseguisse conquistar mais de uma medalha, como aconteceu com a Holanda, em que apenas três competidores, na natação e no ciclismo, ganharam 12 medalhas, o mesmo que o obtido pelos 205 brasileiros.



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