São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Apesar da fiscalização, camelôs e cambistas não se afastam dos estádios

Economia informal move o estádio, com ou sem código

FÁBIO SEIXAS
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eram duas partidas, com quase tudo de diferente. Em São Paulo, o badalado jogo modelo, Corinthians x Fluminense. No ABC, a uns 10 km dali, um confronto comum, São Caetano x Juventude.
Duas histórias que podem ser contadas pelo aspecto da economia informal, um dos principais alvos do Ministério dos Esportes.
Apesar de todo o planejamento, de reuniões e mais reuniões, a informalidade venceu no Pacaembu. Já no Anacleto Campanella, quase não havia ambulantes.
E o motivo, tanto para um como para outro jogo, era a presença de público. Onde há torcida, há ambulante. Ponto final. Independentemente da vontade do governo.
Cambistas, flanelinhas, vendedores de produtos piratas, de bebidas e lanches não-credenciados eram, mesmo que contra a lei, parte da festa no Pacaembu. Ontem, o que se viu foi o de sempre.
"Cambista sempre tem. É assim mesmo. Vai ser sempre. Não tem nada de jogo modelo", disse o soldado Malafaia, do Batalhão de Choque da PM, que controlava filas de entrada no Pacaembu.
Antes de ser abordado por dezenas de atravessadores de ingressos -com entradas para os melhores lugares-, o torcedor teve que enfrentar os guardadores de carros, que atuavam mesmo com o estádio cercado de policiais e de profissionais da CET (trânsito).
Nas cercanias do Pacaembu, eram inúmeras as barracas, tendas e carros oferecendo todo tipo de produto aos visitantes. O jogo era um comércio só, sem imposto, sem fiscalização, sem ordem.
Bebida alcoólica é proibida na praça onde é realizada a partida, mas, em acordo amigável, a PM fez vista grossa e permitiu a venda de cerveja. Cigarros de maconha também eram artigo comum.
No estádio, a situação não era diferente. "Olha o amendoim!" Ou: "Olha o sorvete! Água!".
As pessoas que "lucram por fora" com os jogos se aproveitam da desorganização, da falta de fiscalização e da crise financeira para trabalhar. O serviço prestado ao torcedor é inerente ao modelo de espetáculo popular do país.
Assim como ver o jogo em pé, atirar lixo no chão e urinar fora do banheiro, a economia informal nos estádios é questão cultural.
Em um Pacaembu com mais de 20 mil pessoas, na caótica São Paulo, ou em um estádio Anacleto Campanella, na tranquila São Caetano, o modelo é o mesmo. E quem o rege é o público. Só ele.



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