|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Apesar da fiscalização, camelôs e cambistas não se afastam dos estádios
Economia informal move o estádio, com ou sem código
FÁBIO SEIXAS
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eram duas partidas, com quase
tudo de diferente. Em São Paulo,
o badalado jogo modelo, Corinthians x Fluminense. No ABC, a
uns 10 km dali, um confronto comum, São Caetano x Juventude.
Duas histórias que podem ser
contadas pelo aspecto da economia informal, um dos principais
alvos do Ministério dos Esportes.
Apesar de todo o planejamento,
de reuniões e mais reuniões, a informalidade venceu no Pacaembu. Já no Anacleto Campanella,
quase não havia ambulantes.
E o motivo, tanto para um como
para outro jogo, era a presença de
público. Onde há torcida, há ambulante. Ponto final. Independentemente da vontade do governo.
Cambistas, flanelinhas, vendedores de produtos piratas, de bebidas e lanches não-credenciados
eram, mesmo que contra a lei,
parte da festa no Pacaembu. Ontem, o que se viu foi o de sempre.
"Cambista sempre tem. É assim
mesmo. Vai ser sempre. Não tem
nada de jogo modelo", disse o soldado Malafaia, do Batalhão de
Choque da PM, que controlava filas de entrada no Pacaembu.
Antes de ser abordado por dezenas de atravessadores de ingressos -com entradas para os melhores lugares-, o torcedor teve
que enfrentar os guardadores de
carros, que atuavam mesmo com
o estádio cercado de policiais e de
profissionais da CET (trânsito).
Nas cercanias do Pacaembu,
eram inúmeras as barracas, tendas e carros oferecendo todo tipo
de produto aos visitantes. O jogo
era um comércio só, sem imposto, sem fiscalização, sem ordem.
Bebida alcoólica é proibida na
praça onde é realizada a partida,
mas, em acordo amigável, a PM
fez vista grossa e permitiu a venda
de cerveja. Cigarros de maconha
também eram artigo comum.
No estádio, a situação não era
diferente. "Olha o amendoim!"
Ou: "Olha o sorvete! Água!".
As pessoas que "lucram por fora" com os jogos se aproveitam da
desorganização, da falta de fiscalização e da crise financeira para
trabalhar. O serviço prestado ao
torcedor é inerente ao modelo de
espetáculo popular do país.
Assim como ver o jogo em pé,
atirar lixo no chão e urinar fora do
banheiro, a economia informal
nos estádios é questão cultural.
Em um Pacaembu com mais de
20 mil pessoas, na caótica São
Paulo, ou em um estádio Anacleto
Campanella, na tranquila São
Caetano, o modelo é o mesmo. E
quem o rege é o público. Só ele.
Texto Anterior: Rio vence duelo com SP; Flu segue na elite Próximo Texto: Jogo modelo: No Pacaembu, mercado dá lucro Índice
|