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FUTEBOL
"Deixa que eu resolvo"
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Os palmeirenses que me
desculpem, mas pelo que jogou ontem, contra o Vasco, o time
de Levir Culpi não merece escapar do rebaixamento.
Não se trata de apontar erros
individuais dos jogadores, embora Muñoz tenha que aprender a
chutar a gol e Juninho -a exemplo do folclórico ex-corintiano
Mirandinha- precise aprender a
correr e pensar ao mesmo tempo.
O problema do Palmeiras é não
ter padrão de jogo, não ter organização, não ter jogadas coletivas. Seu esquema parece ser o do
"deixa que eu levo esta bola até a
área adversária e lá a gente vê o
que acontece".
Não falta vontade. Pelo contrário. Todo mundo quer resolver na
base do esforço pessoal: Juninho,
Muñoz, Nenê e até os zagueiros
César e Alexandre. Com esse empenho todo, a equipe até chega,
de fato, à área inimiga, só que toda torta, tropeçando nas próprias
pernas -daí o número tão grande de erros no último passe ou nas
finalizações.
Buscar "culpados" seria policialesco e ineficaz. A série de fatores
que ocasionaram o declínio palmeirense foram exaustivamente
abordadas aqui e em outros lugares: trocas frequentes de técnico,
precipitação no desmanche do
elenco, repetidas contusões de jogadores importantes etc.
De todos esses problemas, o
mais decisivo, a meu ver, foi o vácuo de lucidez aberto no meio-campo praticamente desde a saída de Alex.
As contusões de Zinho e Pedrinho -que agora voltam ocasionalmente, mas fora de ritmo-
resultaram num divórcio entre
volantes (como Flávio e Paulo Assunção) e meias-atacantes (como
Nenê e Juninho), sem que haja a
ligá-los a figura do organizador.
Momentaneamente, essa formação pode até funcionar, com
base na disposição e na habilidade de alguns desses atletas. Foi o
que aconteceu, por exemplo, no
início fulminante do time na vitória contra o Botafogo, quarta-feira passada. Mas, ao longo de uma
partida -que dirá de um campeonato-, essa falta de esquema
não se sustenta.
Se prestarmos atenção, veremos
que o Palmeiras dos últimos dez
anos (para não voltarmos à era
Ademir da Guia) só foi uma grande equipe quando contou com algum armador lúcido e inteligente
(Zinho, Djalminha, Alex).
Na falta de um jogador (em forma, bem entendido) desse perfil e
calibre, a equipe se entrega ao estilo peladeiro e desesperado que
temos visto.
Quando o time está numa tarde
de inspiração ou sorte, a correria
dá certo. Quando faltam essas
duas coisas, como ontem, até Arce, um dos chutadores mais eficientes do mundo, perde pênalti.
Pela qualidade de alguns atletas, pelo esforço de outros, pelas
demonstrações de paixão da torcida, pela tradição de glórias do
clube, é triste ver o Palmeiras às
portas do rebaixamento. Mas
agora parece que só um milagre
tira o alviverde da segunda divisão.
A frase acima não é gratuita
nem catastrofista. Senão, vejamos. O Palmeiras está com 23
pontos e só tem três jogos pela
frente: contra o Fluminense, que
luta pela classificação, contra o
Flamengo, que busca escapar do
rebaixamento, e contra o Vitória,
que ainda sonha com as quartas-de-final.
Ou seja: ninguém vai lhe dar
moleza. E só a partida contra o
Flamengo será em casa. Pelo visto, Nossa Senhora vai ter muito
trabalho.
Gentileza
No Pacaembu, o Corinthians
parece ter levado ao pé da letra o espírito de civilidade
pretendido pelo Código de
Defesa do Torcedor: foi gentil
com o Fluminense, que voltou ao Rio com a vitória e
grandes chances de classificação. Só os ingênuos acreditaram no técnico tricolor quando deu a entender que considerava o jogo perdido. Renato Gaúcho pode não ser grande estrategista, mas tem malandragem para dar e vender.
Defesa do torcedor
O Código tem alguns pontos
quiméricos, como o do ressarcimento do valor do ingresso em caso de erros da arbitragem, mas isso não invalida o sentido positivo da iniciativa. É preciso lapidá-lo,
mas não se pode rejeitá-lo em
bloco, com argumentos pífios, como o de que os lugares
não podem ser numerados
porque os torcedores passam
o tempo todo em pé.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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