São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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FUTEBOL

"Deixa que eu resolvo"

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os palmeirenses que me desculpem, mas pelo que jogou ontem, contra o Vasco, o time de Levir Culpi não merece escapar do rebaixamento.
Não se trata de apontar erros individuais dos jogadores, embora Muñoz tenha que aprender a chutar a gol e Juninho -a exemplo do folclórico ex-corintiano Mirandinha- precise aprender a correr e pensar ao mesmo tempo.
O problema do Palmeiras é não ter padrão de jogo, não ter organização, não ter jogadas coletivas. Seu esquema parece ser o do "deixa que eu levo esta bola até a área adversária e lá a gente vê o que acontece".
Não falta vontade. Pelo contrário. Todo mundo quer resolver na base do esforço pessoal: Juninho, Muñoz, Nenê e até os zagueiros César e Alexandre. Com esse empenho todo, a equipe até chega, de fato, à área inimiga, só que toda torta, tropeçando nas próprias pernas -daí o número tão grande de erros no último passe ou nas finalizações.
Buscar "culpados" seria policialesco e ineficaz. A série de fatores que ocasionaram o declínio palmeirense foram exaustivamente abordadas aqui e em outros lugares: trocas frequentes de técnico, precipitação no desmanche do elenco, repetidas contusões de jogadores importantes etc.
De todos esses problemas, o mais decisivo, a meu ver, foi o vácuo de lucidez aberto no meio-campo praticamente desde a saída de Alex.
As contusões de Zinho e Pedrinho -que agora voltam ocasionalmente, mas fora de ritmo- resultaram num divórcio entre volantes (como Flávio e Paulo Assunção) e meias-atacantes (como Nenê e Juninho), sem que haja a ligá-los a figura do organizador.
Momentaneamente, essa formação pode até funcionar, com base na disposição e na habilidade de alguns desses atletas. Foi o que aconteceu, por exemplo, no início fulminante do time na vitória contra o Botafogo, quarta-feira passada. Mas, ao longo de uma partida -que dirá de um campeonato-, essa falta de esquema não se sustenta.
Se prestarmos atenção, veremos que o Palmeiras dos últimos dez anos (para não voltarmos à era Ademir da Guia) só foi uma grande equipe quando contou com algum armador lúcido e inteligente (Zinho, Djalminha, Alex).
Na falta de um jogador (em forma, bem entendido) desse perfil e calibre, a equipe se entrega ao estilo peladeiro e desesperado que temos visto.
Quando o time está numa tarde de inspiração ou sorte, a correria dá certo. Quando faltam essas duas coisas, como ontem, até Arce, um dos chutadores mais eficientes do mundo, perde pênalti.
Pela qualidade de alguns atletas, pelo esforço de outros, pelas demonstrações de paixão da torcida, pela tradição de glórias do clube, é triste ver o Palmeiras às portas do rebaixamento. Mas agora parece que só um milagre tira o alviverde da segunda divisão.
A frase acima não é gratuita nem catastrofista. Senão, vejamos. O Palmeiras está com 23 pontos e só tem três jogos pela frente: contra o Fluminense, que luta pela classificação, contra o Flamengo, que busca escapar do rebaixamento, e contra o Vitória, que ainda sonha com as quartas-de-final.
Ou seja: ninguém vai lhe dar moleza. E só a partida contra o Flamengo será em casa. Pelo visto, Nossa Senhora vai ter muito trabalho.

Gentileza
No Pacaembu, o Corinthians parece ter levado ao pé da letra o espírito de civilidade pretendido pelo Código de Defesa do Torcedor: foi gentil com o Fluminense, que voltou ao Rio com a vitória e grandes chances de classificação. Só os ingênuos acreditaram no técnico tricolor quando deu a entender que considerava o jogo perdido. Renato Gaúcho pode não ser grande estrategista, mas tem malandragem para dar e vender.

Defesa do torcedor
O Código tem alguns pontos quiméricos, como o do ressarcimento do valor do ingresso em caso de erros da arbitragem, mas isso não invalida o sentido positivo da iniciativa. É preciso lapidá-lo, mas não se pode rejeitá-lo em bloco, com argumentos pífios, como o de que os lugares não podem ser numerados porque os torcedores passam o tempo todo em pé.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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