São Paulo, sexta, 4 de dezembro de 1998

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BASQUETE
Técnicas de finalistas revelam afeto, explícito e comedido, por atletas
Duelo de "carinhos' marca a decisão feminina em SP

LUÍS CURRO
da Reportagem Local

Duas ex-companheiras de seleção brasileira nos anos 60 comandam as finalistas do Campeonato Paulista feminino de basquete, cuja decisão começa hoje à noite.
A primeira partida do playoff (melhor-de-cinco) acontece no ginásio Pedro Dell'Antonia, às 21h, em Santo André, onde a Arcor recebe o BCN/Osasco, atual campeão paulista e mundial.
Lais Elena Aranha, 55, técnica da Arcor, e Maria Helena Cardoso, 58, do BCN, têm expressões sisudas, mas ao assistir a seus treinos percebe-se as diferenças.
Enquanto Lais mostra um tratamento fraternal, quase materno, com contínuas palavras de incentivo, no relacionamento com as jogadoras, Maria Helena parece sempre passar uma impressão de insatisfação com sua equipe.
Na verdade, ambas se consideram abertamente disciplinadoras, mas com estilos distintos.
"Somos diferentes como pessoas: a disciplina da Maria Helena é mais exigida, e a minha é mais conquistada", afirma Lais.
No último Nacional, Lais, no que considerou uma exceção, sacou do time a selecionável ala-pivô Leila Sobral (hoje, atua na Grécia) por indisciplina.
Já Maria Helena procura esconder, mas vive irritada com o que julga estrelismo de algumas subordinadas. Neste Paulista, tenta de todas as formas fazer sua cestinha, Karina, se aplicar mais na defesa.
"É minha filosofia de jogo, tenho interesse pela parte defensiva. Fico em cima, e condeno, a jogadora que só pensa em ter a bola para si (no ataque)", diz ela.
"A carreira do esportista é marcada por títulos, e isso eu tenho em todos os clubes que defendi", comenta a pivô do BCN, sobre quem critica sua forma de jogar.
Segundo Lais, sua rival é mais "rígida" nas cobranças. "Trabalho o lado afetivo. Falo que a atleta precisa trabalhar bem porque tem que perceber que é bom para ela. Não porque é uma obrigação fazer isso ou aquilo. A cobrança tem que vir delas mesmas."
"A jogadora tem que estar feliz, e o grupo, unido, para render. A felicidade vem com um tratamento carinhoso e de atenção", afirma a treinadora da Arcor.
Ela exemplifica sua relação aberta dizendo que permite que "umas cinco que gostam" tomem uma cerveja após as vitórias. "Imagine o que acontece se uma jogadora da Maria Helena pede para tomar uma cervejinha...", ironiza Lais.
A aparentemente mal-humorada Maria Helena declara que está bem menos exigente. "Já fui muito ditadora e linha-dura para conseguir o que queria. Hoje, com mais maturidade, busco um meio-termo, com diálogo e equilíbrio. Também sei dar colo e carinho. Às vezes sou técnica, às vezes sou mãe."
Sobre o aspecto sério, ela diz que a alegria realmente só vem quando o primeiro lugar é alcançado: "Ninguém fica no bem-bom comigo. Às vezes, sou muito dura, mas por um motivo maior. Quero vê-las no lugar mais alto do pódio, sorrindo. Aí, também sorrio".
Sobre liberar ou não suas jogadoras para uma "cervejinha", a treinadora do BCN diz que "há dias e dias para tudo".
"O adulto tem que saber seu limite. Se (uma jogadora) está em uma equipe de ponta, tem que saber o que é bom e o que não é. Ou não vai durar muito tempo."
² NA TV - Sportv, ao vivo, às 21h



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