São Paulo, segunda, 5 de janeiro de 1998.



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FUTEBOL
Deputado social-democrata apresenta projeto de lei para controlar e taxar a venda de jogadores ao exterior
Caso Zé Roberto gera 'lei' no Uruguai

da Reportagem Local

Um deputado do partido social-democrata Nuevo Espacio, do Uruguai, apresentou na última sexta-feira ao Parlamento nacional um projeto de lei para regulamentar as transferências de jogadores, uruguaios ou não, a clubes do exterior e combater a evasão de impostos naquele país.
O projeto foi apresentado em razão da revelação de que vários clubes desse país, que funciona como uma espécie de paraíso fiscal, estão servindo de ponte em negociações internacionais.
O caso mais famoso é o da transferência do lateral-esquerdo Zé Roberto da Lusa para o Real Madrid, equipe da Espanha, em fevereiro do ano passado.
No mês passado, a Folha publicou cópias de documentos provando que, em vez de uma negociação direta, Zé Roberto foi transferido para o Central Español, clube uruguaio da segunda divisão, que o repassou no mesmo dia, 28 de fevereiro, ao Real Madrid.
Entre uma operação e a outra, o valor da transferência do jogador da seleção brasileira passou de US$ 4,5 milhões para US$ 9,98 milhões.
O Central é um clube que mantém relações muito estreitas com o empresário de futebol Juan Figer.
É nesse clube que Figer registra os jogadores de cujo contrato de trabalho ou passe é dono. Pela legislação da Fifa, os jogadores somente podem ser registrados em nome de clubes, não de pessoas.
Outro caso que se transformou em escândalo foi o da transferência do meia argentino Ruben Capria, do Racing, da Argentina.
Inicialmente, Capria foi negociado com o Wanderers, do Uruguai. Mas, mesmo sem ter feito nem ao menos um treino com o clube uruguaio, ele passou para o Cruz Azul, do México. Na época, um jornal argentino disse que Capria fora negociado por "Evasores Futebol Clube", em referência à aparente sonegação de impostos.
Os escândalos envolvem até revelações do futebol uruguaio.
No ano passado, a Internazionale, da Itália, contratou o atacante Álvaro Recoba, que jogava no Nacional, uma das principais equipes do país. A Juventus, também da Itália, contratou o jogador Marcelo Zalayeta, do Nacional.
Mas na ficha dos dois jogadores na Associação Uruguaia de Futebol (AUF) consta que, oficialmente, eles não pertenciam ao Nacional, mas ao Fênix, da segunda divisão, clube pelo qual nunca jogaram. As suspeitas, novamente, são de que eles pertenciam a algum empresário do país.
Impostos
Para combater essa situação, o deputado Ricardo Falero apresentou projeto de lei que propõe que os clubes uruguaios paguem 14% de imposto sobre o dinheiro arrecadado com a venda de jogadores ao exterior.
Falero propõe ainda que 60% do dinheiro arrecadado pelo novo imposto seja destinado à Comissão Nacional de Educação Física, que dirige o esporte uruguaio, e os outros 40%, à AUF e a Organização de Futebol do Interior (OFI).
Falero defende que o dinheiro seja destinado ao desenvolvimento da infra-estrutura esportiva e da prática de esportes por crianças, adolescentes e deficientes físicos.
O Uruguai, com três milhões de habitantes, é um dos países do mundo com maior evasão de jogadores de futebol proporcionalmente à população.



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