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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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Torneio, que começa hoje com 14 partidas, tem clubes bancados por bingo, igreja e empresários

Novos capitalistas da bola invadem a Copa do Brasil

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho capitalista do futebol brasileiro não morreu, só mudou para endereços menos nobres. No lugar de clubes tradicionais, os investidores apostam suas fichas, bem menos valiosas agora, em times pequenos de todo o país.
Prova disso será a edição 2003 da Copa do Brasil, que começa hoje com a realização de 14 jogos.
Sete clubes de sete Estados diferentes que irão jogar o certame funcionam como clube-empresa.
Só que, em vez de milionários fundos norte-americanos ou gigantes suíços do marketing esportivo, o negócio é agora tocado por um grupo bem mais eclético.
Entre os investidores que agora têm a chance de se destacarem com seus clubes no segundo torneio nacional mais importante do Brasil, aparecem uma igreja, o técnico da seleção japonesa, um bingo, os responsáveis pela carreira de Ronaldo e empresários afoitos em ganhar dinheiro.
Todos esses clubes chegam à Copa do Brasil pela porta da frente, já que conquistaram esse direito dentro dos gramados.
É o caso, por exemplo, do CFA, de Rondônia, campeão de seu Estado em 2002, mas que cresceu amparado pelo poder.
O clube, que tem o Bingool, bingo de Porto Velho, como um de seus donos, foi fundado, em 1999, por Heitor Costa, presidente da federação local e um dos mais próximos aliados de Ricardo Teixeira, o presidente da CBF.
Mas não são só cartolas poderosos que investem. Um deus da bola e um "representante" de Deus também estarão torcendo por seus clubes na Copa do Brasil.
Em Brasília, Zico, hoje treinando a seleção japonesa, levou o seu CFZ, que no Rio não conseguiu nada parecido, ao título do Brasiliense. "Mostramos a ele [Zico] que poderia ser mais fácil alcançar projeção nacional no Distrito Federal", conta Rodrigo Luis Lot, um dos seis sócios do ex-jogador.
No Mato Grosso do Sul, o Cene, equipe ligada ao reverendo sul-coreano Moon, foi novamente campeão estadual.
Para evitarem prejuízo, os novos capitalistas da bola assinam contratos vantajosos.
O empresário Oliveira Júnior assumiu o Ituano em 1999 e assinou um contrato para administrar o clube por dez anos. Ele quitou as dívidas do clube e criou a empresa Ituano Sociedade Civil. "A empresa tem cem cotas, 99 são minhas, e uma, do Ituano. O clube não tem direito a veto e a dividendos. Eu não posso dilapidar o patrimônio do clube e nem prejudicar a sua imagem. No final do contrato, devolvo os bens imóveis ao Ituano. Todos os jogadores são só meus", explica o empresário.
O caso do Ituano é parecido com os de Corinthians (AL), Iraty (PR) e Bangu. Basicamente, esses clubes funcionam para gerar lucro, o mais rápido possível, na negociação de jogadores.
No Bangu, 18 atletas estão ligados a Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, empresários de Ronaldo que tocam o futebol do clube.


Colaboraram Marcelo Sakate e Ricardo Perrone, da Reportagem Local


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